São Paulo, domingo, 01 de fevereiro de 2004

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SURFE

Sem o braço esquerdo, Bethany Hamilton, 13, tenta hoje manter primeira posição do campeonato havaiano amador

Vítima de tubarão vira pop star nos EUA

FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Em 31 de outubro do ano passado, Bethany Hamilton acordou e foi surfar com apenas uma preocupação na cabeça: preparar mais tarde sua fantasia para o Hallowen, a festa das bruxas, à noite.
Não deu. Mutilada, com a vida em risco, passou as horas seguintes em uma mesa de cirurgia.
Menos de três meses depois, ela é um fenômeno de mídia nos EUA. Já viajou por todo o país, participou de mais de 50 programas de TV e rádio, virou verbete de enciclopédia, está escrevendo um livro, gravando um CD, estuda duas propostas de Hollywood e até o projeto de um reality show.
Tudo isso com apenas 13 anos.
"Não posso mudar meu destino. Deus traçou esse plano para minha vida e tenho que encarar essa nova realidade", disse a menina em entrevista à Folha.
Hoje, ela estará na água de novo. Em Ho'okipa, na ilha de Maui, disputando a sexta das oito etapas do Campeonato Havaiano amador de surfe. Defendendo sua liderança. Se conseguir, se transformará na virtual campeã.
E foi treinando para a competição, um dia normal, que tudo aconteceu. Eram 7h30 e Bethany estava surfando na ilha de Kauai, onde mora, a 20 minutos de vôo de Honolulu, a capital do Havaí.
Ao lado, os amigos Alana e Brian Blanchard, e Holt, pai deles.
O tubarão escolheu Bethany.
Um tubarão tigre, o segundo mais perigoso e voraz que existe.
Foi um único ataque. Ele dilacerou o braço esquerdo de Bethany, que estava dentro da água, aniquilou boa parte de sua prancha e desapareceu.
Dias depois, foi capturado: tinha 5 m de comprimento.
Holt, um ex-salva-vidas, agiu rápido. Fez um torniquete com o "leash" (cordinha da prancha) e levou a menina ao hospital.
Chegando lá, outra surpresa. Tom Hamilton, pai de Bethany, já ocupava a mesa de operações, sendo preparado para uma operação simples no joelho.
Às pressas, teve que ceder seu lugar para a filha.
Apesar de ter perdido quase a metade de todo o sangue de seu corpo, Bethany sobreviveu.
E começou então uma nova vida. Virou celebridade.
A história foi manchete nos jornais havaianos e ganhou os EUA. Um dia depois do ataque, no quarto do hospital, inacreditavelmente sorrindo, ela deu a primeira entrevista. E não parou mais.
Foi aos programas de Oprah Winfrey, Jay Leno, David Letterman, Geraldo e Barbara Walters. Passou pelo "Good Morning America", pelo "Entertainment Tonight", pelo "Inside Edition", entre outros. Virou queridinha da MTV. Esteve na capa da "People".
Contratada pela Rip Curl, marca de surfwear, passou a fazer aparições em campeonatos profissionais. No último fim de semana, a menina foi com os pais, como convidada, aprender snowboard em uma estação de esqui no Colorado.
Apesar da agenda lotada, Bethany afirma que sua rotina não foi alterada depois do acidente.
"Eu surfo e vou para a escola. Não me sinto uma estrela. Para mim, é tudo normal. Para falar a verdade, não fico pensando muito sobre isso", diz. "Só uma coisa me chateia: quando as pessoas ficam me abraçando e machucam meu ombro. Também não gosto quando ficam perguntando toda hora se estou bem. É claro que estou."
Os abraços e tapinhas nas costas, porém, tendem a ficar ainda mais freqüentes. Seu pai, Tom, e seu empresário, Roy Hofstetter, têm planos ambiciosos. E já começam a ser criticados nos EUA.
A dupla tem sido comparada ao pai das irmãs Williams, notório pela falta de escrúpulos para promover a carreira das tenistas.
"O que estou tentando é transformar esses 15 minutos de fama em uma marca. A marca Bethany Hamilton", admite Hofstetter.
"Não estamos fazendo isso por dinheiro, mas as oportunidades estão aí e as pessoas querem saber a história dela", afirma Tom.
Bethany, que nesta semana começou a fazer o trabalho de adaptação a uma prótese, está mais preocupada com o surfe.
"Quero ser a melhor do mundo. E posso conseguir mesmo sem um braço", reforça.
Tudo isso com apenas 13 anos.



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