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SURFE
Sem o braço esquerdo, Bethany Hamilton, 13, tenta hoje manter primeira posição do campeonato havaiano amador
Vítima de tubarão vira pop star nos EUA
FÁBIO SEIXAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Em 31 de outubro do ano passado, Bethany Hamilton acordou e
foi surfar com apenas uma preocupação na cabeça: preparar mais
tarde sua fantasia para o Hallowen, a festa das bruxas, à noite.
Não deu. Mutilada, com a vida
em risco, passou as horas seguintes em uma mesa de cirurgia.
Menos de três meses depois, ela
é um fenômeno de mídia nos
EUA. Já viajou por todo o país,
participou de mais de 50 programas de TV e rádio, virou verbete
de enciclopédia, está escrevendo
um livro, gravando um CD, estuda duas propostas de Hollywood
e até o projeto de um reality show.
Tudo isso com apenas 13 anos.
"Não posso mudar meu destino. Deus traçou esse plano para
minha vida e tenho que encarar
essa nova realidade", disse a menina em entrevista à Folha.
Hoje, ela estará na água de novo.
Em Ho'okipa, na ilha de Maui,
disputando a sexta das oito etapas
do Campeonato Havaiano amador de surfe. Defendendo sua liderança. Se conseguir, se transformará na virtual campeã.
E foi treinando para a competição, um dia normal, que tudo
aconteceu. Eram 7h30 e Bethany
estava surfando na ilha de Kauai,
onde mora, a 20 minutos de vôo
de Honolulu, a capital do Havaí.
Ao lado, os amigos Alana e
Brian Blanchard, e Holt, pai deles.
O tubarão escolheu Bethany.
Um tubarão tigre, o segundo
mais perigoso e voraz que existe.
Foi um único ataque. Ele dilacerou o braço esquerdo de Bethany,
que estava dentro da água, aniquilou boa parte de sua prancha e
desapareceu.
Dias depois, foi capturado: tinha 5 m de comprimento.
Holt, um ex-salva-vidas, agiu
rápido. Fez um torniquete com o
"leash" (cordinha da prancha) e
levou a menina ao hospital.
Chegando lá, outra surpresa.
Tom Hamilton, pai de Bethany, já
ocupava a mesa de operações,
sendo preparado para uma operação simples no joelho.
Às pressas, teve que ceder seu
lugar para a filha.
Apesar de ter perdido quase a
metade de todo o sangue de seu
corpo, Bethany sobreviveu.
E começou então uma nova vida. Virou celebridade.
A história foi manchete nos jornais havaianos e ganhou os EUA.
Um dia depois do ataque, no
quarto do hospital, inacreditavelmente sorrindo, ela deu a primeira entrevista. E não parou mais.
Foi aos programas de Oprah
Winfrey, Jay Leno, David Letterman, Geraldo e Barbara Walters.
Passou pelo "Good Morning
America", pelo "Entertainment
Tonight", pelo "Inside Edition",
entre outros. Virou queridinha da
MTV. Esteve na capa da "People".
Contratada pela Rip Curl, marca de surfwear, passou a fazer
aparições em campeonatos profissionais. No último fim de semana, a menina foi com os pais, como convidada, aprender snowboard em uma estação de esqui
no Colorado.
Apesar da agenda lotada, Bethany afirma que sua rotina não
foi alterada depois do acidente.
"Eu surfo e vou para a escola.
Não me sinto uma estrela. Para
mim, é tudo normal. Para falar a
verdade, não fico pensando muito
sobre isso", diz. "Só uma coisa me
chateia: quando as pessoas ficam
me abraçando e machucam meu
ombro. Também não gosto quando ficam perguntando toda hora
se estou bem. É claro que estou."
Os abraços e tapinhas nas costas, porém, tendem a ficar ainda
mais freqüentes. Seu pai, Tom, e
seu empresário, Roy Hofstetter,
têm planos ambiciosos. E já começam a ser criticados nos EUA.
A dupla tem sido comparada ao
pai das irmãs Williams, notório
pela falta de escrúpulos para promover a carreira das tenistas.
"O que estou tentando é transformar esses 15 minutos de fama
em uma marca. A marca Bethany
Hamilton", admite Hofstetter.
"Não estamos fazendo isso por
dinheiro, mas as oportunidades
estão aí e as pessoas querem saber
a história dela", afirma Tom.
Bethany, que nesta semana começou a fazer o trabalho de adaptação a uma prótese, está mais
preocupada com o surfe.
"Quero ser a melhor do mundo.
E posso conseguir mesmo sem
um braço", reforça.
Tudo isso com apenas 13 anos.
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