São Paulo, domingo, 01 de fevereiro de 2004

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ONDA AMARGA

Pernambucano queria se tornar profissional

Ataque acaba com sonho de motoboy

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

Há cinco anos o motoboy Charles Heitor Barbosa Pires sonhava em trocar a moto pela prancha de surfe. Pires queria ser um profissional das ondas. Para isso, treinava nas horas vagas na praia de Boa Viagem, no Recife. No dia 1º de maio de 1999, um ataque de tubarão mudou a sua história.
O rapaz, então com 21 anos, foi mordido na perna quando se preparava para pegar a última onda do dia, sobre uma prancha de bodyboard. Na esperança de afastar o animal, Pires tentou socá-lo, primeiro com o braço direito e depois com o esquerdo. O tubarão arrancou as suas mãos.
Mesmo mutilado, remou em direção à praia. Uma onda o ajudou e, perto da areia, foi socorrido por um salva-vidas. Com forte hemorragia, desmaiou. "Era um tubarão da espécie cabeça-chata, tinha uns 2,5 metros. Lembro da sua cabeça, dos olhos, da boca."
Hoje, o ex-entregador de comida chinesa vende água mineral e botijões de gás perto do local do ataque. O sonho com o surfe ficou mais modesto. "Pretendo voltar um dia."
Há um ano, começou a pensar no retorno e concebeu um projeto para adaptar uma prancha de bodyboard. Pires imaginou um equipamento com cordões amarrados não só em um dos tornozelos, mas também nos antebraços e nas laterais da prancha. "Daria o equilíbrio que eu precisaria para fazer as manobras."
Enquanto não acha quem queira bancar seu invento, ele acompanha pela TV o Circuito Mundial de surfe. Quando pode, vê os torneios do Estado.
Casado, com um filho, também sonha em adaptar próteses no lugar das mãos. O preço é o obstáculo. O custo, diz, pode chegar a R$ 50 mil.
Enquanto não consegue a prótese, vive com um extrator de grampos amarrado ao antebraço. Com o aparelho, pode, por exemplo, apertar botões.
Pires é uma das 23 pessoas que sobreviveram aos 35 ataques registrados pela Universidade Federal de Pernambuco desde 1992 no litoral do Estado.
Estudos relacionaram a presença dos animais em um trecho de 35 km da costa (que tem 180 km) à interferência humana no ambiente, condições climáticas e geográficas e à topografia do fundo do mar.
As espécies que atacam na região são das duas mais agressivas: o tigre e o cabeça-chata. Nas áreas de risco, a prática de esportes aquáticos foi proibida e os ataques diminuíram.



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