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ONDA AMARGA
Pernambucano queria se tornar profissional
Ataque acaba com sonho de motoboy
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE
Há cinco anos o motoboy
Charles Heitor Barbosa Pires
sonhava em trocar a moto pela
prancha de surfe. Pires queria
ser um profissional das ondas.
Para isso, treinava nas horas
vagas na praia de Boa Viagem,
no Recife. No dia 1º de maio de
1999, um ataque de tubarão
mudou a sua história.
O rapaz, então com 21 anos,
foi mordido na perna quando
se preparava para pegar a última onda do dia, sobre uma
prancha de bodyboard. Na esperança de afastar o animal, Pires tentou socá-lo, primeiro
com o braço direito e depois
com o esquerdo. O tubarão arrancou as suas mãos.
Mesmo mutilado, remou em
direção à praia. Uma onda o
ajudou e, perto da areia, foi socorrido por um salva-vidas.
Com forte hemorragia, desmaiou. "Era um tubarão da espécie cabeça-chata, tinha uns
2,5 metros. Lembro da sua cabeça, dos olhos, da boca."
Hoje, o ex-entregador de comida chinesa vende água mineral e botijões de gás perto do
local do ataque. O sonho com o
surfe ficou mais modesto.
"Pretendo voltar um dia."
Há um ano, começou a pensar no retorno e concebeu um
projeto para adaptar uma
prancha de bodyboard. Pires
imaginou um equipamento
com cordões amarrados não só
em um dos tornozelos, mas
também nos antebraços e nas
laterais da prancha. "Daria o
equilíbrio que eu precisaria para fazer as manobras."
Enquanto não acha quem
queira bancar seu invento, ele
acompanha pela TV o Circuito
Mundial de surfe. Quando pode, vê os torneios do Estado.
Casado, com um filho, também sonha em adaptar próteses no lugar das mãos. O preço
é o obstáculo. O custo, diz, pode chegar a R$ 50 mil.
Enquanto não consegue a
prótese, vive com um extrator
de grampos amarrado ao antebraço. Com o aparelho, pode,
por exemplo, apertar botões.
Pires é uma das 23 pessoas
que sobreviveram aos 35 ataques registrados pela Universidade Federal de Pernambuco
desde 1992 no litoral do Estado.
Estudos relacionaram a presença dos animais em um trecho de 35 km da costa (que tem
180 km) à interferência humana no ambiente, condições climáticas e geográficas e à topografia do fundo do mar.
As espécies que atacam na região são das duas mais agressivas: o tigre e o cabeça-chata.
Nas áreas de risco, a prática de
esportes aquáticos foi proibida
e os ataques diminuíram.
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