São Paulo, domingo, 01 de fevereiro de 2004

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FUTEBOL

Nada será como antes

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Os fatos marcantes, positivos ou negativos, são os que provocam mais ruídos e transformações nas nossas vidas. Valem mais do que mil conselhos de amigos e do que uma eficiente e longa terapia psicológica. O técnico e os jogadores da seleção pré-olímpica, principalmente os mais criticados, vão mudar em alguma coisa. Quase todos para melhor. Alguns podem piorar. Ninguém será o mesmo.
É preciso saber o que mudar. Querem castrar a alegria e descontração dos jovens. A derrota e a pouca vibração, que só ocorreu no ultimo jogo, não aconteceram por causa de brincadeiras fora de campo. Não se pode confundir brincadeira com indisciplina e falta de seriedade.
Seriedade profissional é ter consciência das virtudes e deficiências e treinar bastante para aperfeiçoá-las e corrigi-las. Seriedade é saber que um jogador só vai brilhar se o time for bem organizado. Seriedade é ser solidário com os companheiros e, quando necessário, se sacrificar para a conquista de um título. Seriedade é se preparar bem fisicamente e se concentrar mentalmente para uma disputa.
Seriedade profissional é ter ambição e correr atrás do sucesso, e não da fama. Sucesso, no sentido de fazer bem e cada dia melhor. A maioria das pessoas que tem sucesso não é famosa. Muitos que têm fama não têm sucesso. Hoje isso é muito freqüente. O sucesso faz bem e proporciona um prolongado prazer. A fama engana e empobrece o ser humano.
Muitos acham que faltou comando à seleção pré-olímpica, um técnico autoritário e atento, um grande chefe, que mostrasse o caminho e obrigasse os jogadores a cumpri-lo, dentro e fora de campo. Infelizmente, isso costuma dar certo, o que não significa que só funciona bem desse jeito.
As grandes equipes da história, em nível local, nacional e internacional, não tinham essa disciplina rigorosa.
Um dos motivos (não é o principal) para não me aventurar à carreira de treinador, é que discutiria com os atletas os problemas e as soluções, estimularia os jogadores a terem mais consciência de suas virtudes, deficiências, obrigações e direitos e assistiria às partidas lá de cima, onde se vê melhor.
Não funcionaria. Na primeira derrota, me chamariam de romântico e diriam que faltaram comando, gritos de "vamos lá, pega" e palavrões, na lateral do campo.
A maioria dos jogadores gosta também de cartilhas, de punições e premiações, de serem protegidos e tratados como crianças despreparadas e irresponsáveis, como faz o Cuca e vários técnicos.
Isso está mudando. Hoje, os jogadores são mais profissionais como demonstram ao protestar contra o absurdo aumento do preço dos ingressos do Campeonato Paulista. Eles querem jogar em campos com mais torcedores, e não apenas para a televisão.
É necessário construir estádios novos e/ou reformar os que existem para depois cobrarem preços diferenciados, de acordo com o conforto, mordomias e o lugar em que se assiste ao jogo. Mas todos têm direito à segurança, a utilizarem banheiros limpos, a sentarem em lugares marcados e a irem aos estádios em ônibus confortáveis.

Clássicos estaduais
Começam hoje vários clássicos em todo Brasil. O Santos, com seus jovens querendo mostrar que têm muito talento, é favorito contra o Palmeiras. Somente após vários jogos, saberemos se o Palmeiras, campeão da segunda divisão, tem condições de ganhar o Campeonato Paulista e de ficar entre os primeiros no Brasileiro.
No Rio, Abel está preocupado com a dependência do Flamengo ao Felipe. O armador centraliza demais as jogadas.
Em vez de se deslocar para receber a bola mais na frente, Felipe recua em direção ao companheiro para pegar a bola. Aí, dá tempo para o adversário se posicionar na defesa.
Se Edmundo e Romário jogarem hoje, o Fluminense tem mais chance de vencer. No imaginário do torcedor, o tricolor tem um ótimo time porque tem dois craques. Edmundo e Romário não são mais. Edmundo ainda pode se destacar por mais tempo.
Há muito tempo que Romário joga como um centroavante amador, de final de semana, parado dentro da área, esperando a bola para empurrá-la às redes. Como foi um supercraque, ainda dá para fazer gols, alguns bonitos, já que é fraco o nível do futebol que se joga hoje no Brasil.


E-mail tostao.folha@uol.com.br


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