|
Texto Anterior | Índice
FUTEBOL
Nada será como antes
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Os fatos marcantes, positivos ou negativos, são os que
provocam mais ruídos e transformações nas nossas vidas. Valem
mais do que mil conselhos de
amigos e do que uma eficiente e
longa terapia psicológica. O técnico e os jogadores da seleção pré-olímpica, principalmente os mais
criticados, vão mudar em alguma
coisa. Quase todos para melhor.
Alguns podem piorar. Ninguém
será o mesmo.
É preciso saber o que mudar.
Querem castrar a alegria e descontração dos jovens. A derrota e
a pouca vibração, que só ocorreu
no ultimo jogo, não aconteceram
por causa de brincadeiras fora de
campo. Não se pode confundir
brincadeira com indisciplina e
falta de seriedade.
Seriedade profissional é ter
consciência das virtudes e deficiências e treinar bastante para
aperfeiçoá-las e corrigi-las. Seriedade é saber que um jogador só
vai brilhar se o time for bem organizado. Seriedade é ser solidário
com os companheiros e, quando
necessário, se sacrificar para a
conquista de um título. Seriedade
é se preparar bem fisicamente e se
concentrar mentalmente para
uma disputa.
Seriedade profissional é ter ambição e correr atrás do sucesso, e
não da fama. Sucesso, no sentido
de fazer bem e cada dia melhor. A
maioria das pessoas que tem sucesso não é famosa. Muitos que
têm fama não têm sucesso. Hoje
isso é muito freqüente. O sucesso
faz bem e proporciona um prolongado prazer. A fama engana e
empobrece o ser humano.
Muitos acham que faltou comando à seleção pré-olímpica,
um técnico autoritário e atento,
um grande chefe, que mostrasse o
caminho e obrigasse os jogadores
a cumpri-lo, dentro e fora de campo. Infelizmente, isso costuma dar
certo, o que não significa que só
funciona bem desse jeito.
As grandes equipes da história,
em nível local, nacional e internacional, não tinham essa disciplina
rigorosa.
Um dos motivos (não é o principal) para não me aventurar à
carreira de treinador, é que discutiria com os atletas os problemas e
as soluções, estimularia os jogadores a terem mais consciência de
suas virtudes, deficiências, obrigações e direitos e assistiria às
partidas lá de cima, onde se vê
melhor.
Não funcionaria. Na primeira
derrota, me chamariam de romântico e diriam que faltaram
comando, gritos de "vamos lá, pega" e palavrões, na lateral do
campo.
A maioria dos jogadores gosta
também de cartilhas, de punições
e premiações, de serem protegidos
e tratados como crianças despreparadas e irresponsáveis, como
faz o Cuca e vários técnicos.
Isso está mudando. Hoje, os jogadores são mais profissionais como demonstram ao protestar
contra o absurdo aumento do
preço dos ingressos do Campeonato Paulista. Eles querem jogar
em campos com mais torcedores,
e não apenas para a televisão.
É necessário construir estádios
novos e/ou reformar os que existem para depois cobrarem preços
diferenciados, de acordo com o
conforto, mordomias e o lugar em
que se assiste ao jogo. Mas todos
têm direito à segurança, a utilizarem banheiros limpos, a sentarem
em lugares marcados e a irem aos
estádios em ônibus confortáveis.
Clássicos estaduais
Começam hoje vários clássicos
em todo Brasil. O Santos, com
seus jovens querendo mostrar que
têm muito talento, é favorito contra o Palmeiras. Somente após vários jogos, saberemos se o Palmeiras, campeão da segunda divisão,
tem condições de ganhar o Campeonato Paulista e de ficar entre
os primeiros no Brasileiro.
No Rio, Abel está preocupado
com a dependência do Flamengo
ao Felipe. O armador centraliza
demais as jogadas.
Em vez de se deslocar para receber a bola mais na frente, Felipe
recua em direção ao companheiro para pegar a bola. Aí, dá tempo
para o adversário se posicionar
na defesa.
Se Edmundo e Romário jogarem hoje, o Fluminense tem mais
chance de vencer. No imaginário
do torcedor, o tricolor tem um ótimo time porque tem dois craques.
Edmundo e Romário não são
mais. Edmundo ainda pode se
destacar por mais tempo.
Há muito tempo que Romário
joga como um centroavante amador, de final de semana, parado
dentro da área, esperando a bola
para empurrá-la às redes. Como
foi um supercraque, ainda dá para fazer gols, alguns bonitos, já
que é fraco o nível do futebol que
se joga hoje no Brasil.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
Texto Anterior: A rodada Índice
|