São Paulo, quarta, 1 de abril de 1998

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A falta de visão de nosso velho Lobo

ALBERTO HELENA JR.
da Equipe de Articulistas Outra noite, um garoto ligou para o Barraco da Astrid, na MTV, dando a sua seleção brasileira ideal para a Copa. E lá estava, para surpresa geral, o nome de Mazinho, aquele ala-médio do Celta de Vigo, que, depois de ajudar a levantar a taça nos EUA, não mereceu sequer um aceno de Zagallo, nestes três anos e meio de experiências, algumas bem sucedidas, outras não.
Antes de mais nada, apresso-me em adiantar que já não há mais tempo de se cogitar em Mazinho para a Copa. Mas ainda há tempo para lamentar a falta de visão do nosso velho Lobo dos campos para um problema mais do que evidente na seleção, para o qual Mazinho poderia ter sido uma solução.
É a questão do segundo volante, aquele que deve assessorar Dunga no primeiro combate à frente da nossa área, e, quando de posse da bola, dar início ao delicado e sutil trabalho de armação. Para essa função específica, é preciso que o jogador tenha, além do hábito da marcação, fineza e precisão no passe. E mais: ginga, para infiltrar-se intermediária inimiga adentro, como um verdadeiro meia, quando os homens lá da frente estiverem sob severa vigilância.
Zagallo insistiu com Flávio Conceição, para, só agora, optar por César Sampaio. Conceição tem vigor físico, é bom na marcação, mas dispersivo no passe e na colocação, duro no drible, embora dono de poderoso disparo a longa e média distâncias. Sampaio é mais assentado, erra menos e é especialista em se infiltrar de surpresa para o cabeceio, como contra a Alemanha.
A propósito, permitam-me uma digressão. Alguém, não sei onde, para acentuar o clichê segundo o qual Cafu é um desastre nos cruzamentos, tomou esse lance contra a Alemanha como exemplo: tendo Cafu tantas cabeças mais ilustres para meter a bola, preferiu a de César Sampaio, que, segundo o crítico, era a menos habilitada de todas que havia na área naquele momento. Pelo visto, o crítico nunca chegou a ver Cafu e Sampaio juntos naquele Palmeiras memorável dos tempos de Luxemburgo.
Voltando à vaca fria, Sampaio deu àquele setor mais estabilidade do que Flávio Conceição. Mazinho, porém, haveria de lhe conferir mais brilho e fluência no toque de bola e nas investidas ao ataque.
Digo tudo isso porque me preocupa demais o nosso lado direito, de cabo a rabo. Se, na esquerda, com Dunga, Roberto Carlos e Denílson ou Rivaldo ou qualquer um dos nossos canhotos admiráveis, a coisa está resolvida, pela direita, claudicamos, a partir do apoio do médio incumbido dessa função, passando pelo meia-direita sinistro e desaguando num Romário claramente fora de forma.
Resta apenas Cafu, que há tempos vem sendo ameaçado pela suprema solidão em que foi atirado pelo esquema do treinador e pela inadequação dos companheiros de viagem.
Insisto: futebol é, sobretudo, equilíbrio e passe certo. O resto é conversa mole pra boi dormir. Ou caprichos da sorte.

Outra experiência que, infelizmente, não veremos: Muller como o número 1 de Zagallo. Terá de contentar-se em ser o número 1 do Brasil, com a camisa do Santos.


Alberto Helena Jr. escreve aos domingo, segundas e quartas


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