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FUTEBOL
Banho de estrela
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
O Brasileirão começa a esquentar, com suas surpresas
e seus dramas, mas vou falar de
seleção brasileira.
O primeiro tempo da vitória sobre a Hungria, na quarta-feira,
me fez lembrar o que é o futebol e
por que gosto tanto desse raio de
esporte.
Logo no início, uma linda bicicleta de Ronaldinho mostrou que
aquele não seria apenas mais um
compromisso tedioso e burocrático da nossa seleção. Pelo menos o
craque gaúcho estava a fim de jogar bola -e esse tipo de desejo,
como sabemos, é contagiante.
O primeiro gol, marcado por
Kaká depois de uma triangulação
vertiginosa com Ronaldinho e
Luis Fabiano, foi uma rara combinação de talento e jogo coletivo.
Me fez lembrar a definição de
poesia de Ezra Pound: uma conversa entre homens inteligentes.
Ao realizar aquela jogada, os
três atletas envolvidos pareciam
estar meio metro acima dos mortais que os rodeavam. O restante
do jogo parece ter sido uma mera
reverberação daquele momento
mágico.
Falando friamente, podemos
dizer que Luis Fabiano entrou
muito bem no time, mostrando a
força e o oportunismo habituais,
que Juninho Pernambucano deu
mais mobilidade ao meio-campo,
que Juan é menos estabanado
que Lúcio, que a Hungria é uma
equipe fraca etc. Tudo isso é fato.
Mas sabemos que a motivação é
tudo, ou quase. Quantas vezes,
contra times ainda mais fracos, o
Brasil, com atletas tão bons quanto os que estavam em campo em
Budapeste (e mais entrosados),
jogou um futebol pífio, maçante?
O fato de o Brasil nunca ter, segundo a CBF, vencido antes uma
partida oficial contra a Hungria
talvez tenha ajudado. O fato de
atletas como Juninho Pernambucano e Luis Fabiano estarem em
busca de uma vaga no time também. Mas a minha impressão é a
de que o fator determinante para
acender a seleção foi uma centelha chamada Ronaldinho.
Quando um craque atinge a
plenitude de seu talento, e tem a
consciência disso, emana um prazer de jogar e uma autoconfiança
que contagiam seus companheiros. Se estes estiverem à altura,
forma-se um grande time.
Só os grandes craques têm esse
poder de radiação, ou essa aura,
se preferirem.
Para quem não se lembra, Ronaldinho já estreou na seleção
principal brilhando. Lembro-me
de ter escrito uma crônica entusiasmada sobre o golaço que ele
fez contra a Venezuela, chapelando um adversário dentro da área.
Cronistas mais sensatos lembraram que a Venezuela era ridícula, que aquele poderia ter sido
um lance fortuito, que era cedo
para soltar fogos. Tudo verdade.
Para quem, como eu, não
acompanhou sua brilhante trajetória nas seleções de base, Ronaldinho era só uma aposta. Poderia
ser esquecido em uma semana.
Mas o que me chamou a atenção na época foi que o seu gol empolgou até os que não costumavam acompanhar futebol. Nascia
uma estrela que hoje, cinco anos
depois, nos ilumina com todo o
seu brilho.
Risco do Azulão
Depois de superar a "síndrome
de vice", o São Caetano venceu
também, contra o Independiente, a "síndrome dos pênaltis". Mas foi preocupante ver o
Azulão mostrar um certo salto
alto quando ganhava o jogo por
2 a 1. É um time que precisa estar sempre vibrando, como
uma corda esticada em seu
ponto máximo.
Choque de campeões
O grande confronto da quarta
rodada do Brasileiro, mais até
que os clássicos estaduais, é
Santos x Cruzeiro. Os dois últimos campeões nacionais ainda
estão devendo neste campeonato. Se quiserem fazer jus à
condição de principais favoritos ao título, precisam começar
logo a reagir. Enquanto isso, o
azarão Figueirense dispara na
liderança.
E-mail: jgcouto@uol.com.br
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