São Paulo, sábado, 01 de maio de 2004

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FUTEBOL

Banho de estrela

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

O Brasileirão começa a esquentar, com suas surpresas e seus dramas, mas vou falar de seleção brasileira.
O primeiro tempo da vitória sobre a Hungria, na quarta-feira, me fez lembrar o que é o futebol e por que gosto tanto desse raio de esporte.
Logo no início, uma linda bicicleta de Ronaldinho mostrou que aquele não seria apenas mais um compromisso tedioso e burocrático da nossa seleção. Pelo menos o craque gaúcho estava a fim de jogar bola -e esse tipo de desejo, como sabemos, é contagiante.
O primeiro gol, marcado por Kaká depois de uma triangulação vertiginosa com Ronaldinho e Luis Fabiano, foi uma rara combinação de talento e jogo coletivo. Me fez lembrar a definição de poesia de Ezra Pound: uma conversa entre homens inteligentes.
Ao realizar aquela jogada, os três atletas envolvidos pareciam estar meio metro acima dos mortais que os rodeavam. O restante do jogo parece ter sido uma mera reverberação daquele momento mágico.
Falando friamente, podemos dizer que Luis Fabiano entrou muito bem no time, mostrando a força e o oportunismo habituais, que Juninho Pernambucano deu mais mobilidade ao meio-campo, que Juan é menos estabanado que Lúcio, que a Hungria é uma equipe fraca etc. Tudo isso é fato.
Mas sabemos que a motivação é tudo, ou quase. Quantas vezes, contra times ainda mais fracos, o Brasil, com atletas tão bons quanto os que estavam em campo em Budapeste (e mais entrosados), jogou um futebol pífio, maçante?
O fato de o Brasil nunca ter, segundo a CBF, vencido antes uma partida oficial contra a Hungria talvez tenha ajudado. O fato de atletas como Juninho Pernambucano e Luis Fabiano estarem em busca de uma vaga no time também. Mas a minha impressão é a de que o fator determinante para acender a seleção foi uma centelha chamada Ronaldinho.
Quando um craque atinge a plenitude de seu talento, e tem a consciência disso, emana um prazer de jogar e uma autoconfiança que contagiam seus companheiros. Se estes estiverem à altura, forma-se um grande time.
Só os grandes craques têm esse poder de radiação, ou essa aura, se preferirem.
Para quem não se lembra, Ronaldinho já estreou na seleção principal brilhando. Lembro-me de ter escrito uma crônica entusiasmada sobre o golaço que ele fez contra a Venezuela, chapelando um adversário dentro da área.
Cronistas mais sensatos lembraram que a Venezuela era ridícula, que aquele poderia ter sido um lance fortuito, que era cedo para soltar fogos. Tudo verdade.
Para quem, como eu, não acompanhou sua brilhante trajetória nas seleções de base, Ronaldinho era só uma aposta. Poderia ser esquecido em uma semana.
Mas o que me chamou a atenção na época foi que o seu gol empolgou até os que não costumavam acompanhar futebol. Nascia uma estrela que hoje, cinco anos depois, nos ilumina com todo o seu brilho.

Risco do Azulão
Depois de superar a "síndrome de vice", o São Caetano venceu também, contra o Independiente, a "síndrome dos pênaltis". Mas foi preocupante ver o Azulão mostrar um certo salto alto quando ganhava o jogo por 2 a 1. É um time que precisa estar sempre vibrando, como uma corda esticada em seu ponto máximo.

Choque de campeões
O grande confronto da quarta rodada do Brasileiro, mais até que os clássicos estaduais, é Santos x Cruzeiro. Os dois últimos campeões nacionais ainda estão devendo neste campeonato. Se quiserem fazer jus à condição de principais favoritos ao título, precisam começar logo a reagir. Enquanto isso, o azarão Figueirense dispara na liderança.

E-mail: jgcouto@uol.com.br


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