São Paulo, sábado, 01 de maio de 2004

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MOTOR

Números

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

Em algum momento do dia você certamente vai ouvir a palavra Senna. Se você estiver em grupo, muito provavelmente vai ouvir os chavões da atualidade: a F-1 acabou, não tem mais graça, Schumacher corre sozinho.
E, se a discussão continuar, muito provavelmente a coisa vai acabar em comparações. Para que o leitor não faça feio diante dos pseudo-entendidos -e o automobilismo tem um monte deles, você sabe-, a coluna provê hoje uma série de números só de quem interessa: Fangio, Clark, Senna e Schumacher. Por que os quatro? Digamos que o corte é intuitivo, mas, se houver a necessidade de um argumento, lá vai, os quatro percorreram mais da metade de suas voltas na liderança.
Para começar, um alerta aos que, há dez anos, desligaram a TV nas manhãs de domingo. Em números absolutos, Schumacher já abocanhou todos os recordes, só falta mesmo o de poles de Senna, questão de tempo (58 a 65). Para a brincadeira funcionar, é preciso pegar as médias. A elas.
Fangio é o melhor em vitórias (47,1%), pódios (68,6%), poles (56,9%), primeiras filas (94,1%) e GPs na liderança (74,5%). Se você duvidou do item primeiras filas, reforço o absurdo: o argentino largou na primeira fila em 48 das 51 corridas que disputou. Anos 50, outra F-1, mas Fangio é e sempre será o parâmetro. Mordam-se os sennistas, só o alemão o superou, em títulos (6 a 5), claro, e pontos por corrida (5,47 a 5,44).
Clark vem em seguida. Tirando Fangio da conta, o primeiro pole man da história e o único dos quatro a correr por uma única equipe, a Lotus, é o melhor em poles (45,8%), primeiras filas (66,7%), voltas rápidas (38,9%) e GPs liderados (59,7%). Clark tem uma média melhor que Fangio, a de voltas na liderança (27 a 26,4). E, óbvio, semelhanças com Senna.
Os dois morreram em ação, tinham personalidades difíceis para o ambiente da categoria e se especializaram em tirar o máximo do carro nos treinos oficiais. Tanto que levou duas décadas para Senna roubar o título de Clark -para os fãs do alemão, ele vai ser o próximo, mas dificilmente alcançará a média de seu ídolo de infância (agora, 40,4% a 29,4%).
Curiosidade, os dois tricampeões têm exatamente a mesma média de pontos por GP (3,81).
Clark também pertence a outra F-1, mas foi um fenômeno de velocidade. Se chama a atenção o fato de ter uma melhor média de poles que o recordista Senna, o mesmo acontece contra o rei das voltas rápidas, Schumacher.
E um fenômeno de vitórias. Sua relação vitórias/pódios é muito superior às do brasileiro e do alemão (78,1% a 51,3% a 58,8%). Clark era letal, corria para ganhar, não para fazer pontos.
Chegamos então aos contemporâneos. De bate pronto, Senna só ganha nas médias de poles e primeiras filas (54% a 48,2%). Perde em vitórias (25,5% a 37,6%), pódios (49,7% a 64%), voltas rápidas (11,8% a 29,9%), GPs liderados (53,4% a 57,9%) e pontos.
Senna partia do pico, Schumacher o atinge na corrida. Dois modos de chegar ao limite. Na F-1 de Senna, Schumacher perdeu. Na de Schumacher, Senna perderia.

Ôps 1
O GP Brasil deste ano estava pronto para ignorar completamente as celebrações em torno de Senna. Diante da enxurrada das últimas semanas, a coisa mudou de figura. A Lotus guiada por Berger em Imola será pilotada em Interlagos por um sobrinho do tricampeão, Bruno.

Ôps 2
Schumacher humilhou a concorrência em Imola. Errou no treino porque Button estava leve demais. E voltou à liderança com absurdos cinco segundos de vantagem após o pit. Se nada acontecer, já era.

Ôps 3
Fiasco na Nascar. Talladega terminou no último domingo sob chuva de latas, protesto contra uma bandeira amarela no final da corrida.

E-mail: mariante@uol.com.br


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