São Paulo, sábado, 01 de junho de 2002

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COPA 2002

Inimigo íntimo


A primeira fase da Copa-2002 marca o confronto de vários técnicos contra os seus próprios países, o que mostra a globalização do futebol atual. Comandam seleções estrangeiras, mas preservam, mesmo no controle desses times, a cultura futebolística de sua terra natal, usando sem ressentimento esse mesmo veneno contra o seu país de origem. O francês Bruno Metsu, de Senegal, envenenou a França. O sueco Eriksson, da inglaterra, deseja o mesmo.


RODRIGO BUENO
ENVIADO ESPECIAL A YOKOHAMA

Como se comporta um técnico quando dirige uma equipe contra a seleção de seu próprio país em um importante torneio? A resposta para essa pergunta será dada neste Mundial.
Nada menos que quatro treinadores são inimigos de seus conterrâneos na primeira fase da Copa, um recorde na história do torneio, que pode ver ainda nas quartas-de-final outros dois técnicos serem obrigados a duelar contra a sua própria bandeira.
O Mundial, aliás, já começou com um "filho" vencendo sua pátria. O francês Bruno Metsu comandou o Senegal na vitória por 1 a 0 sobre os campeões mundiais. Metsu pôs os senegaleses no ataque e tirou o complexo de inferioridade do time, seguindo até o exemplo da França em 1998.
Metsu, 48, ganhou celebridade ao classificar a seleção de Senegal para o Mundial e levá-la à final da Copa da África. E ganhou a torcida mesmo após se converter ao islã para se casar com uma jovem local -deu à noiva uma limusine e 6.000 euros, como pede a tradição local. Mudou até de nome: Adbu Karim Metsu.
Outro que também não esquece o país de origem é o sueco Sven-Goran Eriksson, primeiro estrangeiro a assumir a seleção inglesa, que estréia hoje no Mundial justamente contra a Suécia.
"Na Suécia, dizemos que não se deve ensinar um cachorro velho", disse Eriksson após barrar o veterano e temperamental Le Saux da Inglaterra, por exemplo.
Alguns torcedores ingleses têm cantado uma música de apoio ao técnico gringo, mas essa termina com algo como "não esqueçamos que ele é sueco".
Já os jornalistas preferem questionar mais a mudança de postura do time em campo nos últimos meses. Uma equipe de jogadores talentosos deixou de praticar um futebol mais técnico para voltar à velha tática do "chuveirinho" e a apostar na disposição física, características também suecas.
Acuado pela imprensa e pela torcida inglesa, Eriksson tem evitado falar sobre a "sua" Suécia.
O mesmo não acontece com Winfried Schaefer, um alemão que pode impedir a Alemanha de ir às oitavas-de-final. O treinador mostra-se muito confortável à frente de Camarões, inclusive com um duelo com seu país.
"Logo depois do sorteio, eu pensei: "Oh, não". Mas agora eu estou feliz com isso", admitiu.
Camarões pega a Alemanha no dia 11 de junho, em Shizuoka.
Schaefer tem procurado impor o seu estilo alemão -exige muita aplicação- a um time africano que antes procurava mais dar espetáculo. "Eu tenho realmente jogadores motivados, como é o Oliver Kahn [goleiro do Bayern e da Alemanha]. É um prazer trabalhar com eles [camaroneses]. Nós somos o Bayern da África."
No caminho do Brasil está um brasileiro: Alexandre Guimarães. Técnico da Costa Rica, ele foi morar ainda criança no país da América Central e obteve outra nacionalidade lá. Enfrentará a seleção do seu país de origem, mas com documento costarriquenho.
No comando do time, Guima fez a Costa Rica jogar bonito, apostando no ataque, com Fonseca e Wanchope, e encantando, como o Brasil já fez um dia.
Já o anfitrião Japão importou da França o técnico Philippe Troussier. Ele desperta dúvidas em torcedores japoneses agora e despertará mais ainda se cruzar com a França nas quartas. Na final da Copa das Confederações, ele já foi batido pela seleção francesa. Depois, em um jogo amistoso, pediu autógrafo a Zidane.
Há um possível confronto nesta Copa, porém, que supera todos os outros em ligação afetiva com o adversário. Se a Itália do capitão Paolo Maldini ganhar seu grupo e o Paraguai do técnico Cesare Maldini ficar em segundo lugar no seu, pai e filho duelarão.
O pai defendeu a "Squadra Azzurra" no Mundial de 1962 e dirigiu a seleção natal e o filho em 1998. Vaiado ao assumir o Paraguai por não ter muita ligação com os sul-americanos, apesar ser bom em ajeitar defesas, sofrerá ainda mais se vir no outro campo a camisa que mais ama.


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