São Paulo, terça-feira, 01 de junho de 2004

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FUTEBOL

Fera na seleção, cordeiro no ministério

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO

É uma lástima que Ronaldinho Gaúcho esteja fora da esperada partida contra a Argentina, amanhã, no Mineirão. Em compensação, Parreira fez a opção certa ao promover a dupla de feras Ronaldo-Luis Fabiano, que tem um potencial tremendo para dar certo e não sair mais do time titular -o que transferiria o problema para o meio-campo.
A opção de Parreira tem o risco de alterar o perfil tático do time, que passa a atuar com dois atacantes natos. Mas ambos são técnicos, sabem sair da área e são bons em passes no espaço ofensivo. Podem se deixar mutuamente na cara do gol. Relegar Luis Fabiano à reserva de Ronaldo lembra um pouco, obviamente com outras características, o drama de 70, que era deixar Tostão como banco de Pelé -o que, para felicidade geral, acabou não acontecendo. E não esqueçamos que Zagallo e Parreira estavam lá.
A questão é saber até que ponto um time com Ronaldinho e Kaká na meia ofensiva e Ronaldo e Luis Fabiano na frente conseguiria encontrar o necessário equilíbrio defensivo. Essa formação exigiria acertos no meio-campo e laterais para tornar o time menos vulnerável, o que é perfeitamente possível. Torço para que Luis Fabiano e Ronaldo arrebentem. Eles podem reeditar, com outro perfil, a espetacular dupla Ro-Ro, que infelizmente não pudemos ver na fatídica Copa de 98.
 
O futebol brasileiro está cada vez mais esquizofrênico. A seleção nada expressa do que se passa por aqui. Temos uma melancólica realidade local, com clubes falidos, poucos craques (sempre prestes a sair, como Luis Fabiano), e um nível técnico fraco. Vivemos de jovens esperanças, que daqui partem cada vez mais garotos para os quatro cantos do mundo.
Já sei que vou receber aquelas tradicionais mensagens colocando a culpa no fim da lei do passe, mas mesmo considerando que há aperfeiçoamentos a fazer na atual legislação, essa me parece uma explicação simplista.
A questão que se coloca é como sair dessa situação. Falta ao futebol brasileiro uma liderança com capacidade de comandar a transição para um novo modelo, que deveria mirar a renegociação das dívidas dentro de um ambiente de gestão profissional, futebol-empresa e projetos confiáveis para investidores. A CBF não parece ter nem o mínimo interesse nem a mínima capacidade para tanto. Já o Ministério do Esporte vai se revelando muito aquém do que se esperava. Quem imaginou que o governo Lula traria mudanças importantes no esporte já está completamente desencantado.
O ministro Agnelo Queiroz, do PC do B, não se empenha em fazer cumprir a lei. Os sinais são de que caiu nas graças da camarilha esportiva. Aceitou a legislação trabalhada pela gestão anterior, mas não a defende de fato. Agora, tenta sensibilizar a Casa Civil para uma lei de incentivo fiscal. Mas com que contrapartida na gestão? Em italiano, "Agnelo" significa "cordeiro" -e é isso o que ele tem sido para a cartolagem.

Sinal dos tempos
Corintianos receberam com alívio, praticamente como vitória, o empate contra o São Paulo, no domingo. Só faltaram sair em carreata pela Paulista.

E o Flamengo?
É impressionante como o Flamengo está amarelando nesse Brasileiro. Eu sei que o time é fraco, mas chegar a oito jogos sem nenhuma vitória parece um pouco demais para o campeão carioca, não? Nessa batida, vai caminhando celeremente para a segundona, ao lado do glorioso Fogão.

E o Santos?
O Santos tenta se recuperar no Brasileiro. Ainda é possível, mas para isso é importante que saiba ganhar jogos como o de domingo, contra o Atlético-MG. Senão vai ficar difícil.

E-mail mag@folhasp.com.br


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