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FUTEBOL
Fera na seleção, cordeiro no ministério
MARCOS AUGUSTO GONÇALVES
EDITOR DE OPINIÃO
É uma lástima que Ronaldinho Gaúcho esteja fora da
esperada partida contra a Argentina, amanhã, no Mineirão. Em
compensação, Parreira fez a opção certa ao promover a dupla de
feras Ronaldo-Luis Fabiano, que
tem um potencial tremendo para
dar certo e não sair mais do time
titular -o que transferiria o problema para o meio-campo.
A opção de Parreira tem o risco
de alterar o perfil tático do time,
que passa a atuar com dois atacantes natos. Mas ambos são técnicos, sabem sair da área e são
bons em passes no espaço ofensivo. Podem se deixar mutuamente
na cara do gol. Relegar Luis Fabiano à reserva de Ronaldo lembra um pouco, obviamente com
outras características, o drama de
70, que era deixar Tostão como
banco de Pelé -o que, para felicidade geral, acabou não acontecendo. E não esqueçamos que Zagallo e Parreira estavam lá.
A questão é saber até que ponto
um time com Ronaldinho e Kaká
na meia ofensiva e Ronaldo e Luis
Fabiano na frente conseguiria encontrar o necessário equilíbrio
defensivo. Essa formação exigiria
acertos no meio-campo e laterais
para tornar o time menos vulnerável, o que é perfeitamente possível. Torço para que Luis Fabiano
e Ronaldo arrebentem. Eles podem reeditar, com outro perfil, a
espetacular dupla Ro-Ro, que infelizmente não pudemos ver na
fatídica Copa de 98.
O futebol brasileiro está cada
vez mais esquizofrênico. A seleção
nada expressa do que se passa por
aqui. Temos uma melancólica
realidade local, com clubes falidos, poucos craques (sempre prestes a sair, como Luis Fabiano), e
um nível técnico fraco. Vivemos
de jovens esperanças, que daqui
partem cada vez mais garotos para os quatro cantos do mundo.
Já sei que vou receber aquelas
tradicionais mensagens colocando a culpa no fim da lei do passe,
mas mesmo considerando que há
aperfeiçoamentos a fazer na
atual legislação, essa me parece
uma explicação simplista.
A questão que se coloca é como
sair dessa situação. Falta ao futebol brasileiro uma liderança com
capacidade de comandar a transição para um novo modelo, que
deveria mirar a renegociação das
dívidas dentro de um ambiente
de gestão profissional, futebol-empresa e projetos confiáveis para investidores. A CBF não parece
ter nem o mínimo interesse nem a
mínima capacidade para tanto.
Já o Ministério do Esporte vai se
revelando muito aquém do que se
esperava. Quem imaginou que o
governo Lula traria mudanças
importantes no esporte já está
completamente desencantado.
O ministro Agnelo Queiroz, do
PC do B, não se empenha em fazer cumprir a lei. Os sinais são de
que caiu nas graças da camarilha
esportiva. Aceitou a legislação
trabalhada pela gestão anterior,
mas não a defende de fato. Agora,
tenta sensibilizar a Casa Civil para uma lei de incentivo fiscal. Mas
com que contrapartida na gestão?
Em italiano, "Agnelo" significa
"cordeiro" -e é isso o que ele tem
sido para a cartolagem.
Sinal dos tempos
Corintianos receberam com
alívio, praticamente como vitória, o empate contra o São Paulo, no domingo. Só faltaram
sair em carreata pela Paulista.
E o Flamengo?
É impressionante como o Flamengo está amarelando nesse
Brasileiro. Eu sei que o time é
fraco, mas chegar a oito jogos
sem nenhuma vitória parece
um pouco demais para o campeão carioca, não? Nessa batida, vai caminhando celeremente para a segundona, ao lado do glorioso Fogão.
E o Santos?
O Santos tenta se recuperar no
Brasileiro. Ainda é possível,
mas para isso é importante que
saiba ganhar jogos como o de
domingo, contra o Atlético-MG. Senão vai ficar difícil.
E-mail mag@folhasp.com.br
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