São Paulo, quarta-feira, 01 de junho de 2005

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FUTEBOL

Passado, presente e futuro

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Em 1968, a seleção brasileira fez uma longa excursão pelo mundo sem o Pelé, que jogava pelo Santos e/ou tratava de assuntos particulares. Atuei no lugar dele e garanti o meu nome nas futuras convocações.
Em 1974, Pelé não foi ao Mundial, disputado na Alemanha, porque não queria arriscar o seu prestígio e/ou por outras razões. Outros craques, em todos os esportes, tiveram o mesmo comportamento. Todos tinham os seus motivos, justos ou não.
Os craques do passado adoravam jogar na seleção, mas não eram mais patriotas nem tinham mais amor à camisa do que os atuais.
Como todo cidadão, Ronaldo tem direito de desfrutar de férias e de desejar não ir à Copa das Confederações. Mesmo considerando que seria mais uma oportunidade para a equipe melhorar o entrosamento, o descanso seria bom para o atleta e para a seleção. Fisicamente, Ronaldo é também um jogador especial.
Além disso, os outros jogadores que atuam na Europa terão dias de férias variáveis após essa competição, o que não aconteceria com Ronaldo no Real Madrid.
A decisão da Confederação Brasileira de Futebol de dispensar o Ronaldo dos dois jogos das eliminatórias foi surpreendente. Tudo sugere que foi uma punição.
Ao não querer disputar o torneio na Alemanha, Ronaldo, o mais importante jogador do mundo, perturbou os interesses políticos e financeiros dos empresários, dos patrocinadores da Copa das Confederações, da Fifa e da CBF.
Há o outro lado. Se a seleção, Adriano, Robinho e/ou Ricardo Oliveira jogarem bem, Ronaldo terá, pela primeira vez, a sensação de que não é insubstituível. Ele não tinha nas Copas de 1998 e 2002 um substituto como Adriano. Isso estimularia Ronaldo a se preparar bastante para o seu provável último Mundial.
Pelé, que muitos consideravam em declínio antes da Copa de 70, treinou como nunca para brilhar no Mundial do México e ficar imortalizado como o eterno rei do futebol.
Pelas suas atuações nos últimos 12 meses e no jogo contra a Guatemala, Grafite merecia a convocação, entre os atacantes que atuam no Brasil.
Mas, como ele está com problemas físicos, disputa a Taça Libertadores pelo São Paulo, será reserva na seleção e a sua presença poderá estimular provocações dos argentinos, seria mais sensato chamar o Fred, que está hoje em melhor momento.

Laterais e alas
Insisto neste assunto. A diferença entre lateral e ala não é apenas teórica ou de nomenclatura antiga e nova. Só existe ala no esquema com três zagueiros.
Os laterais fazem parte da linha de quatro defensores. Quando um zagueiro sai para fazer a cobertura do lateral, o outro zagueiro se movimenta na mesma direção, e o lateral do outro lado se posiciona como um zagueiro. Não dá para o ala fazer isso. Os alas fazem parte da linha de meio-campo, ao lado de um ou dois volantes.
Para chegar ao ataque, o lateral percorre uma distância muito maior do que a do ala.
O lateral tem de receber a bola na frente e decidir o lance. Ele não pode avançar antes da bola e ficar à espera do passe, como se fosse um ponta ou um ala. Se a equipe perde a bola, é muito mais difícil para um zagueiro ou volante fazer a cobertura do lateral do que para o terceiro zagueiro cobrir o ala.
O ala joga na mesma posição e tem a mesma função do meia, no esquema com dois volantes e um meia de cada lado.
Por isso, é melhor escalar armadores ofensivos de alas, como faz o Muricy Ramalho no Internacional com o Jorge Wagner, do que pedir para o lateral avançar mais do que o habitual.
Antes de ter se tornado ala, Cicinho foi lateral por acaso. Deveria ter jogado de meia, se não fez isso. Mesmo assim, ele pode se adaptar bem à lateral da seleção. Já Cafu e Roberto Carlos, titulares absolutos, são melhores laterais do que alas. Os dois marcam bem, chegam com velocidade ao ataque, mas avançam sempre encostados à linha lateral. Eles não têm a habilidade de um meia para entrar pelo centro, tabelar e fazer gols.
Não pretendo ditar normas nem ser dono da verdade. São apenas minhas opiniões.
Quando ouço e leio conceitos diferentes e convincentes, aprendo e mudo de opinião. Sou orgulhoso, mas nem tanto.

E-mail tostao.folha@uol.com.br


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