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FUTEBOL
Passado, presente e futuro
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Em 1968, a seleção brasileira
fez uma longa excursão pelo
mundo sem o Pelé, que jogava pelo Santos e/ou tratava de assuntos
particulares. Atuei no lugar dele e
garanti o meu nome nas futuras
convocações.
Em 1974, Pelé não foi ao Mundial, disputado na Alemanha,
porque não queria arriscar o seu
prestígio e/ou por outras razões.
Outros craques, em todos os esportes, tiveram o mesmo comportamento. Todos tinham os seus
motivos, justos ou não.
Os craques do passado adoravam jogar na seleção, mas não
eram mais patriotas nem tinham
mais amor à camisa do que os
atuais.
Como todo cidadão, Ronaldo
tem direito de desfrutar de férias e
de desejar não ir à Copa das Confederações. Mesmo considerando
que seria mais uma oportunidade
para a equipe melhorar o entrosamento, o descanso seria bom
para o atleta e para a seleção. Fisicamente, Ronaldo é também
um jogador especial.
Além disso, os outros jogadores
que atuam na Europa terão dias
de férias variáveis após essa competição, o que não aconteceria
com Ronaldo no Real Madrid.
A decisão da Confederação Brasileira de Futebol de dispensar o
Ronaldo dos dois jogos das eliminatórias foi surpreendente. Tudo
sugere que foi uma punição.
Ao não querer disputar o torneio na Alemanha, Ronaldo, o
mais importante jogador do
mundo, perturbou os interesses
políticos e financeiros dos empresários, dos patrocinadores da Copa das Confederações, da Fifa e
da CBF.
Há o outro lado. Se a seleção,
Adriano, Robinho e/ou Ricardo
Oliveira jogarem bem, Ronaldo
terá, pela primeira vez, a sensação de que não é insubstituível.
Ele não tinha nas Copas de 1998 e
2002 um substituto como Adriano. Isso estimularia Ronaldo a se
preparar bastante para o seu provável último Mundial.
Pelé, que muitos consideravam
em declínio antes da Copa de 70,
treinou como nunca para brilhar
no Mundial do México e ficar
imortalizado como o eterno rei do
futebol.
Pelas suas atuações nos últimos
12 meses e no jogo contra a Guatemala, Grafite merecia a convocação, entre os atacantes que
atuam no Brasil.
Mas, como ele está com problemas físicos, disputa a Taça Libertadores pelo São Paulo, será reserva na seleção e a sua presença poderá estimular provocações dos
argentinos, seria mais sensato
chamar o Fred, que está hoje em
melhor momento.
Laterais e alas
Insisto neste assunto. A diferença entre lateral e ala não é apenas
teórica ou de nomenclatura antiga e nova. Só existe ala no esquema com três zagueiros.
Os laterais fazem parte da linha
de quatro defensores. Quando um
zagueiro sai para fazer a cobertura do lateral, o outro zagueiro se
movimenta na mesma direção, e
o lateral do outro lado se posiciona como um zagueiro. Não dá para o ala fazer isso. Os alas fazem
parte da linha de meio-campo, ao
lado de um ou dois volantes.
Para chegar ao ataque, o lateral
percorre uma distância muito
maior do que a do ala.
O lateral tem de receber a bola
na frente e decidir o lance. Ele não
pode avançar antes da bola e ficar à espera do passe, como se fosse um ponta ou um ala. Se a equipe perde a bola, é muito mais difícil para um zagueiro ou volante
fazer a cobertura do lateral do
que para o terceiro zagueiro cobrir o ala.
O ala joga na mesma posição e
tem a mesma função do meia, no
esquema com dois volantes e um
meia de cada lado.
Por isso, é melhor escalar armadores ofensivos de alas, como faz
o Muricy Ramalho no Internacional com o Jorge Wagner, do que
pedir para o lateral avançar mais
do que o habitual.
Antes de ter se tornado ala, Cicinho foi lateral por acaso. Deveria ter jogado de meia, se não fez
isso. Mesmo assim, ele pode se
adaptar bem à lateral da seleção.
Já Cafu e Roberto Carlos, titulares
absolutos, são melhores laterais
do que alas. Os dois marcam bem,
chegam com velocidade ao
ataque, mas avançam sempre encostados à linha lateral. Eles não
têm a habilidade de um meia para entrar pelo centro, tabelar e
fazer gols.
Não pretendo ditar normas
nem ser dono da verdade. São
apenas minhas opiniões.
Quando ouço e leio conceitos
diferentes e convincentes, aprendo e mudo de opinião. Sou orgulhoso, mas nem tanto.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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