São Paulo, segunda, 1 de junho de 1998

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A teoria dos retângulos

MATINAS SUZUKI JR.

Joga-se futebol em dois momentos: com a posse da bola e sem a posse de bola.
No segundo momento, a seleção da Nike, digo, do Brasil, apresentou alguma evolução: adiantou a marcação no meio-campo e a linha de defesa aproximou-se mais desse setor, dando maior consistência à procura da retomada da posse de bola.
Mesmo levando em consideração a fragilidade ofensiva (aliás, os bascos foram tão cordiais que não ofenderam ninguém; já o Cafu confundiu vontade ofensiva com vontade de ofender e deu aquele vexame...) do Athletic Bilbao, os brasileiros melhoraram em um quesito que preocupa bastante. Vamos ver como esse setor se comporta em partidas que exigirão mais dele.
Tanto na marcação quanto na saída de jogo, o retângulo da esquerda (Aldair, Roberto Carlos, Doriva e Rivaldo) esteve melhor do que o retângulo da direita (Júnior Baiano, Cafu, César Sampaio e Giovanni).
Com a posse de bola, patrimônio tecnológico do futebol brasileiro e onde reside a vantagem competitiva do futebol local, a coisa ainda está bastante ruim. Faltam conceito de jogo, rapidez e criatividade, movimentação, maior interatividade e sinergia entre as partes. Não está dando nem para quebrar o galho de vencer um time desfalcado. Roberto Carlos, mais solto, pôde disparar mais pela raia esquerda, Doriva esteve à vontade na desconstrução e Rivaldo está em ritmo de seleção (precisa apenas de mais entrosamento com o ataque).
Do outro lado, por onde o ataque do Bilbao se meteu, quando se meteu, Cafu não apresentou melhora visível, César Sampaio nem atuou bem como espanador e nem como o homem que deveria ajudar a criar as jogadas pela direita, e Giovanni... bem, como se sabe Giovanni, precisa sempre de um tempo para se adaptar a um nova competição e uma nova formatação tática.
No ataque, Bebeto até que tentou se movimentar, mas ressentiu-se (e foi para o banco ressentido), assim como Ronaldinho continua a ressentir, do fato de não receber uma bola limpa.
Ronaldinho está aprendendo que a pior forma de solidão não é a companhia de um paulista, como dizia Nélson Rodrigues, é o ataque da seleção.



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