ALBERTO HELENA JR.

O torcedor, de lenço vermelho e branco no pescoço, homem de seus 60 anos, desabafa para o amigo ao lado, à saída do velho e simpático estádio de San Mamés, onde a seleção do Brasil, favorita para a conquista da Copa do Mundo, acabara de empatar de 1 a 1 com o Athletic Bilbao, desfalcado de quatro titulares, nos festejos do centenário do clube basco: "Só lastimo ter deixado aquele estupendo sofá em casa para viver esta mierda!". Quer dizer: nem os torcedores bascos, tão fanáticos por suas cores como por sua nacionalidade, defendida literalmente a ferro e fogo, saíram felizes do campo. Isso porque o que antes do jogo lhes parecia uma façanha impossível, no correr da bola tornou-se tão viável que o empate final lhes deixou um travo de amargura. Imagino, então, como esse jogo rebateu por aí, no Brasil. Suponho que o que era indignação começa a se transformar em desesperança. Mas, prefiro, por aqui, apesar de tudo, soprar essa brasa que se apaga em busca de uma centelha. E ela surgiu ontem por um breve instante, quando Zagallo resolveu substituir César Sampaio por Leonardo, para em seguida desfazer tudo, sacando de campo Giovanni, o jogador mais atuante até então. É que o Brasil repetia seu mais batido clichê. Na saída de bola, a conta ficava nos pés inábeis de Doriva ou César Sampaio, quando não de Júnior Baiano ou Aldair. Resultado: só atravessava o meio-campo como um bólido desnorteado. Com Léo, como segundo volante, a coisa começou a fluir. Pronto: foi o bastante para Zagallo desfazer o sortilégio. Numa só troca, duas mexidas -sai Giovanni entra Denílson na esquerda e Rivaldo vai ser gauche na vida lá na meia direita. E assim vamos nós em direção à Copa.

D a tribuna, não vi a bola roçar em ninguém antes de Taffarel rebatê-la para o meio da área. Logo, nosso goleiro teve uma falha inconcebível para alguém de sua rodagem, pois a falta era tiro livre indireto.
Bastava deixá-la passar que o juiz daria tiro de meta. Mas se tocou em alguém, então sua falha foi apenas de devolvê-la nos pés do inimigo.



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