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1938-1998: 60 anos de Copa de Mundo na França
BENTO PRADO JR.
Vinte anos separam a derrota
do Brasil para Itália, na
França, da derrota da França para o Brasil em 1958, na Suécia. Os
derrotados, nessas ocasiões, como
sabe o historiador, eram equipes
da melhor categoria. Em 1986, infelizmente o Brasil passou pela
experiência de ser eliminado pela
França.
Hoje, os franceses esperam uma
final que defronte França e Brasil. Como também desejamos.
Afinal, é mais do que uma gentil
retribuição: é preciso reconhecer
a grande qualidade (ou seria
narcisismo nosso essa identificação neolatina?) do futebol francês. Qualidade mostrada ao longo de todas as Copas de que participou.
Numa palavra, como meu colega de futebol Platini, só posso exprimir meu desejo de ver essa bela final. Mas meu saber técnico,
desatualizado e muito limitado,
nada me permite de análise e
previsão.
Posso, todavia, recorrer, na impossibilidade de antever o futuro,
à memória de um passado esquecido. Nem todo mundo conhece
hoje pequenas ou grandes anedotas da Copa da França de 1938.
Histórias que posso contar, embora tivesse menos de um ano de
idade quando de sua ocorrência
(de verdade, "ao vivo", só assisti
a um jogo de Copa do Mundo: o
infeliz Brasil x Suíça, em 1950, no
Pacaembu, que só terminou em
empate de 2 a 2 graças à áurea
cabeça de Baltazar).
O fato é que há 20 anos, ao
acaso de encontros nas mesas do
saudoso "Chic-chá", nas calçadas da avenida Angélica, tive o
privilégio de ouvir o Luisinho
(Luiz Mesquita de Oliveira, ponta e meia-direita da seleção de
1938, grande craque do Palestra
Itália e do São Paulo F.C) contando a experiência daquele trágico ano. Trágico para o futebol
brasileiro, mas também para a
democracia em todo o mundo,
com a ascensão do nazi-fascismo.
A organização técnica da seleção, na época, previa duas equipes, A e B, autônomas e independentes, a serem, escolhidas, em
cada peleja, segundo a conjuntura temporal (como no Jockey
Club são discriminados à "pista
pesada" e à "pista leve").
O fato é que a equipe escolhida
para enfrentar a Itália deslocou-se de Paris para o Sul com a
desejada antecedência, enquanto
a outra viajou de trem (1.000 km,
mais ou menos) na noite anterior
ao jogo. Aparentemente, houve
cachaça ao longo da viagem. Por
alguma razão, o técnico inverteu
na última hora a escolha da equipe: jogaram contra a Itália os
viajantes tresnoitados.
Mas o Luisinho me contou outra melhor. Depois da derrota, a
seleção, em excursão européia,
enfrentou amistosamente a seleção da Iugoslávia. Não deu outra:
depois de fazer 4 x 0 contra os
adversários, no intervalo, os brasileiros resolveram "dar um baile" no segundo tempo. Resultado:
8 x 4 para os iugoslavos! O leitor
já imaginou o que significam oito
gols em 45 minutos?
Meu desejo, repito, é a final
França x Brasil. E sobretudo, que
o Brasil de 98 seja tão bom quanto o de 38 (do Domingos da Guia,
do Leônidas, do Luisinho, etc),
mas, digamos, um pouco mais sóbrio e pragmático. Mas não tão
pragmático quanto deseja o Zagallo. Pior ainda, em matéria de
pragmatismo, meu desejo é que o
Brasil seja campeão, mesmo se o
Zagallo tiver razão.
Bento Prado Jr., 61, é professor de filosofia da
Universidade Federal de São Carlos (SP)
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