São Paulo, segunda, 1 de junho de 1998

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Evento tem custo oficial de US$ 1,57 bilhão, mas Fifa, governo francês e patrocinadores escondem valores de seus investimentos
Mundial é mais rico do que parece

JOÃO BATISTA NATALI
da Reportagem Local

Para quem gosta de números oficiais, é facílimo responder quanto custará a Copa da França. Será US$ 1,57 bilhão.
Mas a verdadeira matemática é um pouco mais complicada. Se a contabilidade do CFO (Comitê Francês de Organização) é em alguns pontos transparente, o mesmo não ocorre com a Fifa ou com o governo francês.
Outro embrulho cheio de pontos de interrogação se refere aos investimentos do setor privado.
A Nike, fabricante global de artigos esportivos, também patrocinadora da seleção brasileira, não revela o quanto está gastando e quanto pretende faturar com a Copa do Mundo.
De certo modo, dinheiro é quase sempre um assunto tabu em futebol. A cartolagem não conta quanto ganha, e os empresários, para não mostrarem suas cartas aos concorrentes, também se mantêm com frequência calados.
Um exemplo: o CFO repassa dinheiro para a Fifa. Mas não diz quanto. É desse caixa que Fifa emite cheques para presentear cada seleção, por partida disputada, com um cachê de 1 milhão de francos suíços, ou US$ 680 mil.
Outro exemplo: o governo francês (o Tesouro, as prefeituras) entrou oficialmente com US$ 903 milhões para a organização da competição esportiva.
Só que outras torneiras foram abertas em paralelo, como a torneira das estatais Äé o caso da France TelecomÄ, que integram o grupo de 45 patrocinadores.
O Ministério do Interior não contabiliza, como gasto público para a Copa, os 14 mil CRSs (a polícia militar francesa) mobilizados para manter a segurança.
Aliás, um sindicato da Polícia Civil divulgou há dias que o CFO havia doado US$ 8 milhões às delegacias como ajuda de custo.
Quem quiser conferir precisará esperar no ano que vem o relatório do Tribunal de Contas francês.
Uma entidade chamada Cobof, agrupamento que faz campanha pelo boicote à Copa, calcula que a festa custará em verbas públicas US$ 831 milhões, ou US$ 72 milhões a menos que o oficialmente anunciado.
Se for verdade, o governo está recebendo algum retorno que ainda não contabilizou.
Não confundir com os US$ 39 milhões que o CFO pagará em impostos na França.
Ninguém sabe tampouco, por enquanto, quanto está faturando a ISL, empresa suíça que administra o marketing da Fifa.
O mesmo vale para a Mondiresa, empresa criada pelo CFO para unificar os mecanismos de reservas de hotel. Ele fez no mínimo 132 mil reservas e deve estar faturando um bocado.



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