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Eternizado por capitão, Jardim Irene esquece tristezas
"Somos 100% Cafu", festeja rua da Bosta
ISRAEL DO VALE
EDITOR-ADJUNTO DA ILUSTRADA
ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL
O penta já é passado no Jardim
Irene. O grande dilema no início
da tarde de ontem no bairro da
periferia da zona sul paulistana
em que nasceu Cafu vale para os
próximos quatro anos. "Como é
que fala quando alguém é campeão do mundo seis vezes? Sex
campeão?", perguntavam ex-vizinhos do capitão do Brasil.
Marcos, sim. Cafu é para os outros, os que não viram o menino
mirrado levando dura do pai, teimando em tomar-lhe as chuteiras
para evitar que o então adolescente fosse jogar no campinho de terra, o único lazer do bairro.
Ontem, "100% Jardim Irene" estampado no peito, o capitão do
penta encheu de orgulho os moradores do bairro, um dos mais
carentes da cidade. O distrito de
Capão Redondo, onde fica o Jardim Irene, teve 186 homicídios
em 2001. O índice de 76,7 assassinatos por 100 mil habitantes é o
nono mais alto da capital.
"Somos 100% Cafu", devolve
Jaime Maiura, 50, que conheceu o
capitão da seleção quando ele ainda atuava pelo Guarani, time mais
tradicional do Jardim Irene.
Aos poucos, os vizinhos da casa
de número 15 da rua Terra Portugalense, onde hoje vive Maria
Aparecida Ramos, 32 anos, ex-cunhada do jogador, iam deixando
as casas sem quintal e tomando a
rua, no baixadão demarcado pelo
córrego hoje canalizado -que
deu ao trecho o codinome pouco
honroso de rua da Bosta.
Era lá que os pais moravam até
o jogador comprar-lhes casa no
condomínio endinheirado de Alphaville, na Grande São Paulo.
"Todo mundo aprendeu a andar de bicicleta com a que o Cafu
comprou. Ele deixava todos andarem", diz Alberico da Silva, 18.
Apesar de bem distante do bairro em que nasceu -atualmente
vive em Roma-, o lateral tem
planos para o Jardim Irene.
"O Cafu quer fazer um campinho aqui e montar uma fundação
para dar ocupação para os garotos. Aqui tem muito crime, muita
droga... Tenho um filho de seis
anos e conto com o Cafu para ter
um local de lazer para ele", afirma
Vanessa de Souza Seti, 21.
Quem sabe o futuro do Jardim
Irene tenha nascido com o penta.
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