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TOSTÃO
O Brasil é penta mundial
Queria ter sido apenas
um torcedor. Ter ido
caminhando até o estádio, vestido com
uma camisa amarela. Dançando, cantando e enrolado
numa bandeira brasileira.
Queria ter assistido ao jogo
no meio da galera. Gritando,
sambando e aplaudindo os jogadores do início ao fim.
Queria ser o Tostão apenas
por alguns momentos, para
estar lá embaixo, de calção,
chuteira, e reviver a glória de
ser campeão do mundo.
Mas hoje não sou apenas
torcedor, nem ex-jogador. Sou
um colunista, metido a entender de futebol, com a obrigação de opinar e relatar os fatos. O pensamento e os meus
desejos não podem ser onipotentes. Há uma realidade.
Nesse momento, liberto-me
um pouco desse peso de observador para vibrar com o título. Ronaldo não fez um gol
driblando os zagueiros e o goleiro, como eu sonhara. Mas
fez dois gols. O segundo, espetacular. Rivaldo abriu as pernas, e Ronaldo, com talento,
técnica e genialidade, finalizou de curva, no canto. Ronaldo sonhou durante quatro
anos com esse momento. Foi a
vitória não somente do craque
mas também do homem.
Nesse longo período de preparação para o Mundial, critiquei e elogiei jogadores, técnico e comissão técnica. Muitos
não aceitam as críticas de um
ex-jogador. Confundem as
coisas. Não entendem que sou
um outro profissional.
O título não apaga os erros
cometidos nem os defeitos do
time, técnico e jogadores. Mas
hoje não é momento para repeti-los. É de elogiar e reconhecer os méritos.
Felipão teve acertos e erros.
Mais acertos do que erros.
Confirmou que é um excelente
treinador. Evoluiu na seleção.
Ironizou as críticas, mas fez
muitas coisas que pedimos. A
realidade nos mostrou que a
capacidade de comandar e
motivar os jogadores é, muitas
vezes, mais importante do que
os detalhes técnicos e táticos.
Os craques do time são os
principais responsáveis pelo
título, eles fizeram a diferença.
Ronaldo e Rivaldo estarão
eternamente na lista dos
grandes jogadores da história
do futebol brasileiro e mundial. Ronaldinho também teve
momentos espetaculares.
Os outros destaques durante
o Mundial foram Marcos, Roberto Carlos, Cafu, Gilberto
Silva, Roque Júnior e Kleberson, no último jogo. Os demais
foram guerreiros e solidários
-e não comprometeram.
O título não contradiz a péssima situação do futebol brasileiro fora de campo. No futebol, frequentemente não há
relação direta entre as duas
coisas. As reformas não podem ser adiadas. São urgentes
e inevitáveis.
Mesmo considerando que
tudo favoreceu o Brasil nesta
Copa, a conquista serviu para
mostrar que fizemos uma avaliação muito pessimista do futebol brasileiro. Ele não estava
decadente, e os rivais não
eram tão fortes. Porém as críticas serviram para melhorar.
Queria festejar nas ruas de
Yokohama, com os torcedores,
mas não posso. A Copa não
terminou para a imprensa.
Sei que é errado afirmar
penta -não foram títulos seguidos-, mas hoje quero dizer bem alto: Brasil, pentacampeão do mundo!
tostão.folha@uol.com.br
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