São Paulo, segunda-feira, 01 de julho de 2002

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TOSTÃO

O Brasil é penta mundial

Queria ter sido apenas um torcedor. Ter ido caminhando até o estádio, vestido com uma camisa amarela. Dançando, cantando e enrolado numa bandeira brasileira.
Queria ter assistido ao jogo no meio da galera. Gritando, sambando e aplaudindo os jogadores do início ao fim.
Queria ser o Tostão apenas por alguns momentos, para estar lá embaixo, de calção, chuteira, e reviver a glória de ser campeão do mundo.
Mas hoje não sou apenas torcedor, nem ex-jogador. Sou um colunista, metido a entender de futebol, com a obrigação de opinar e relatar os fatos. O pensamento e os meus desejos não podem ser onipotentes. Há uma realidade.
Nesse momento, liberto-me um pouco desse peso de observador para vibrar com o título. Ronaldo não fez um gol driblando os zagueiros e o goleiro, como eu sonhara. Mas fez dois gols. O segundo, espetacular. Rivaldo abriu as pernas, e Ronaldo, com talento, técnica e genialidade, finalizou de curva, no canto. Ronaldo sonhou durante quatro anos com esse momento. Foi a vitória não somente do craque mas também do homem.
Nesse longo período de preparação para o Mundial, critiquei e elogiei jogadores, técnico e comissão técnica. Muitos não aceitam as críticas de um ex-jogador. Confundem as coisas. Não entendem que sou um outro profissional.
O título não apaga os erros cometidos nem os defeitos do time, técnico e jogadores. Mas hoje não é momento para repeti-los. É de elogiar e reconhecer os méritos.
Felipão teve acertos e erros. Mais acertos do que erros. Confirmou que é um excelente treinador. Evoluiu na seleção. Ironizou as críticas, mas fez muitas coisas que pedimos. A realidade nos mostrou que a capacidade de comandar e motivar os jogadores é, muitas vezes, mais importante do que os detalhes técnicos e táticos.
Os craques do time são os principais responsáveis pelo título, eles fizeram a diferença. Ronaldo e Rivaldo estarão eternamente na lista dos grandes jogadores da história do futebol brasileiro e mundial. Ronaldinho também teve momentos espetaculares.
Os outros destaques durante o Mundial foram Marcos, Roberto Carlos, Cafu, Gilberto Silva, Roque Júnior e Kleberson, no último jogo. Os demais foram guerreiros e solidários -e não comprometeram.
O título não contradiz a péssima situação do futebol brasileiro fora de campo. No futebol, frequentemente não há relação direta entre as duas coisas. As reformas não podem ser adiadas. São urgentes e inevitáveis.
Mesmo considerando que tudo favoreceu o Brasil nesta Copa, a conquista serviu para mostrar que fizemos uma avaliação muito pessimista do futebol brasileiro. Ele não estava decadente, e os rivais não eram tão fortes. Porém as críticas serviram para melhorar.
Queria festejar nas ruas de Yokohama, com os torcedores, mas não posso. A Copa não terminou para a imprensa.
Sei que é errado afirmar penta -não foram títulos seguidos-, mas hoje quero dizer bem alto: Brasil, pentacampeão do mundo!

tostão.folha@uol.com.br



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