São Paulo, sábado, 01 de julho de 2006

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Frase de Henry irrita a seleção

Para Juninho, francês foi infeliz ao dizer que brasileiros gastam tempo jogando bola e não estudam

Fred e Cafu, no entanto, concordam com adversário e afirmam que as crianças brasileiras ficam mais na várzea do que nas escolas


DOS ENVIADOS A FRANKFURT

Parte dos jogadores da seleção brasileira reagiu ontem à declaração do francês Henry de que os brasileiros são bons no futebol porque não vão à escola. Mas alguns concordaram com o astro rival.
Quem mais se irritou foi o brasileiro que mais conhece a França: o meia Juninho, astro do Lyon há cinco anos. Para o jogador, o atacante foi "infeliz" ao dizer, anteontem, que as crianças brasileiras não vão à escola, jogam futebol das "8h às 18h" e que, por isso, o país tem tantos talentos no esporte.
"Eles jogam na praia, na rua... Eles nascem jogando futebol. Quando eu era pequeno, ia à escola das 8h às 17h, e minha mãe não me deixava descer para jogar", afirmou o francês.
"Ele mexeu em questões políticas. A criança brasileira sofre muito. Em 70% ou 80% dos casos, a criança não tem condição de ir à escola", disse o pernambucano, que cresceu em uma família de classe média.
"Os próprios pais não conseguiram ir. Foi uma falta de educação e delicadeza muito grande da parte dele. Não sei por que ele disse isso. Eu acho que o francês é muito mais privilegiado. Tem escola, saúde. Coisa que o brasileiro sofre para ter."
Outro que não gostou da declaração de Henry foi o lateral-esquerdo Roberto Carlos. "Ele não deve saber do que está falando", disse o brasileiro.
Outros jogadores, porém, não se incomodaram com as palavras do jogador francês.
O capitão Cafu, que cresceu no Jardim Irene, bairro pobre de São Paulo, analisou de outra maneira a afirmação do francês. Disse que Henry está "certo". "Eu ouvi muito bem o que ele disse. Muitas crianças largam realmente a escola e ficam jogando futebol. Precisamos de uma atuação melhor dos governantes para que isso não aconteça", afirmou o capitão.
O atacante Fred, companheiro de clube de Juninho, também avalizou as palavras do atacante do Arsenal. "Ele não falou nada demais, isso acontece de verdade. Desde pequeno você sempre tem um campo de várzea e a criançada jogando. E nem sempre dão a mesma atenção ao estudo", afirmou.
Não é a primeira vez que Henry mexe com a seleção. O francês ajudou a animar os atletas da equipe brasileira nos intervalos dos treinos na Alemanha. O perudo, um jogo de dados, virou mania entre os comandados pelo técnico Carlos Alberto Parreira.
A brincadeira foi levada para dentro da concentração da seleção pelo volante Gilberto Silva, companheiro de Arsenal do francês há quatro anos.
""O Henry sugeriu que eu trouxesse o perudo", disse o volante, que falou ainda que Henry é tão vital para a França quanto Zidane. "Ele é muito bom, movimenta-se muito e marcá-lo é muito difícil." (EDUARDO ARRUDA, PAULO COBOS, RICARDO PERRONE E SÉRGIO RANGEL)

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