São Paulo, sábado, 01 de julho de 2006

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Entrevista - Aimé Jacquet

Ronaldo é o melhor do mundo

Técnico campeão com a França em 98 aposta que Zidane fará a diferença, diz que franceses reencontraram sua força após início ruim, mas se desmancha em elogios ao atacante brasileiro

TATIANA CUNHA
DA REPORTAGEM LOCAL

A França jamais vai se esquecer dele. O Brasil também não. Técnico campeão com os "Bleus" no Mundial de 1998, Aimé Jacquet, 64, foi o responsável pela primeira derrota brasileira por três gols de diferença em Copas do Mundo. Após o inesquecível 3 a 0 no Stade de France, Jacquet abandonou a seleção. Na bagagem, além da Taça Fifa, 53 jogos, sendo 34 vitórias e apenas 3 derrotas. Hoje, ocupa cargo diretivo na federação francesa. Da Alemanha, onde acompanha a Copa, falou por telefone à Folha sobre suas expectativas para o reencontro de brasileiros e franceses. Disse que Ronaldo é o mais perigoso atacante do mundo e que a França recuperou sua força após bater a Espanha nas oitavas-de-final.  

FOLHA - O que espera da partida de hoje? AIMÉ JACQUET - Eu diria que são dois percursos totalmente diferentes. A França teve dificuldades para se classificar em seu grupo, mas felizmente fez um grande jogo contra os espanhóis,o que nos deu confiança. E o Brasil foi impressionante, teve muita tranqüilidade, muita facilidade. Sabemos muito bem que vamos agora enfrentar o melhor do mundo.

FOLHA - Qual é a maior diferença entre o jogo de 1998 e o de agora? JACQUET - Aquele era uma final, era o sétimo jogo da Copa. A França tinha tido um caminho exemplar e estava no auge. Agora é um jogo de quartas-de-final e existe a pressão de que o Brasil está mais bem preparado do que a França. Mas nós temos jogadores de grande qualidade e que são capazes de se superar em jogos dessa dimensão. Precisamos ver como vamos fazer para lidar com isso e ter uma grande performance.

FOLHA - O que pode dizer sobre o Zidane? JACQUET - Ele teve uma temporada difícil com o Real Madrid. Com a seleção, alternou bons e maus momentos. Felizmente, contra a Espanha, reencontrou seu futebol. É o melhor jogador da França. Estamos satisfeitos e temos certeza de que ele reencontrou todas suas habilidades e sua força.

FOLHA - O que se pode esperar dele contra o Brasil? JACQUET - Como sempre, em grandes jogos são grandes jogadores que fazem a diferença. Acho que Zidane, assim como em 1998, vai nos dar a possibilidade de fazer essa diferença no jogo. Fora isso, ele tem bons jogadores ao seu redor, como Thuram, Barthez e Vieira. E, depois do jogo com a Espanha, acho que a França reencontrou sua força.

FOLHA - Zidane é melhor do que Platini? JACQUET - Eu jamais faço comparações, pois são períodos diferentes. Mas são dois jogadores da mesma dimensão.

FOLHA - Por que você deixou o comando da seleção francesa após o título sobre o Brasil? JACQUET - Porque em 1998 eu já havia dito que renunciaria ao futebol profissional. Já fui técnico de grandes equipes, da seleção, mas hoje prefiro trabalhar com os jovens e na formação de treinadores. É uma filosofia de vida.

FOLHA - O futebol francês evoluiu após a Copa de 1998? JACQUET - Com certeza. Depois disso, fomos campeões europeus em 2000. Infelizmente nos demos mal na Copa de 2002, e agora essa geração que esteve conosco desde 1998 se despede. Está chegando uma nova geração, que vai aparecer. Para nós, é uma mudança total.

FOLHA - O que pensa do Ronaldo? JACQUET - Para mim, é o maior jogador do mundo. Ele tem uma força interior muito grande. É um artilheiro perigoso, que tem uma técnica incrível, que poucos jogadores no mundo têm. Para mim, é o jogador mais perigoso que apareceu nos últimos dez anos.

FOLHA - Acha que o problema dele antes da final de 98 ajudou a França a ser campeã? JACQUET - Não sei, não exatamente, o que ele teve. Só sei que ele jogou e que nos fez sofrer. Para nós, não fazia diferença se ele estava abatido ou não.

FOLHA - Acha que ele está gordo? JACQUET - Todo mundo só fala do peso dele, mas, apesar de tudo, acho que ele já demonstrou que pode ser muito eficaz.

FOLHA - O atual técnico francês, Raymond Domenech, tem recebido muitas críticas em seu país. O que pensa sobre ele? JACQUET - Para mim, ele é um grande treinador. Tem capacidade e um grupo que possui técnica e tática. Ele mostra uma convicção em suas escolhas, o que me agrada muito.

FOLHA - Quem vai ganhar o jogo? JACQUET - A gente sabe que este vai ser um reencontro muito, muito delicado. Mas acho que faremos uma grande apresentação e ganharemos o jogo.

FOLHA - Qual seu palpite? JACQUET - Ah, isso eu não vou arriscar dizer...


Colaborou RODRIGO BUENO , enviado especial a Gelsenkirchen

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