São Paulo, domingo, 01 de julho de 2007

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TOSTÃO

Jogar igual ou pior é difícil


O time do Chile, do habilidoso Valdivia, marca mal, e isso pode facilitar, mas o Brasil deve cuidar do lado esquerdo


A ESTRÉIA DO Brasil foi ruim, mas é cedo para fazer análises definitivas. Em nenhum momento da partida, o Brasil marcou por pressão. Dunga não gosta e/ou não teve tempo para treinar. Mas teve para fazer muitos treinos de dois toques em campo pequeno.
Dunga insistiu nos treinos para os laterais avançarem e os volantes ficarem na cobertura. Os laterais foram bem marcados, não atacaram, e os volantes continuaram atrás.
Gostei da provável escalação do time para hoje. Dunga manteve o esquema tático e colocou o Anderson no lugar do Diego. Seria incoerente se o técnico mudasse a maneira de jogar por causa de um único tempo de jogo e depois de 14 dias de treinos.
Se não é superior, Anderson tem muito mais potencial que Diego. Espero também que Anderson, Elano e Robinho joguem mais próximos do Vágner Love, e que Mineiro atue como fazia no São Paulo.
Como o Chile é um time apenas habilidoso e que marca mal, o Brasil deve melhorar. Jogar igual ou pior é muito difícil. Muito melhor do que o time chileno são os vinhos do país e a poesia de Pablo Neruda.
Contra o Equador, o chileno Valdivia, estrela do Palmeiras, mostrou novamente que tem muita habilidade, mas não tem muito talento. São conceitos diferentes.
Talento é a união da habilidade, da técnica, da criatividade, da capacidade de se adaptar ao conjunto e das qualidades físicas e emocionais.
A habilidade é a intimidade com a bola, o domínio e o drible. Nisso Valdivia é excelente.
A técnica é o uso dos fundamentos básicos. Pode ser aprendida e desenvolvida. A criatividade é a capacidade para surpreender, improvisar, inventar, ver e antever o lance antes dos outros. Nada disso é suficiente para ser um craque se o jogador não estiver bem preparado fisicamente e não tiver intenso desejo de brilhar e passar dos seus limites, como diz a bela música de Ivan Lins.

Querer não é poder
Acabo de ler que o Brasil não teve alma contra o México. De novo? Não é por aí. Aliás, recebi críticas durante e após o Mundial de 2006 por ter dito que o principal problema da seleção na Copa não foi falta de vontade, de garra. Seria cômodo e daria mais audiência se dissesse o contrário e ainda falar que os jogadores do passado tinham mais raça que os atuais.
Não consigo imaginar um atleta sem vontade de jogar bem em uma Copa. Quando uma equipe dá um baile coletivo, como fez a França contra o Brasil, os jogadores do outro time costumam ficar apáticos, paralisados, sem saber o que fazer. Todo atleta passou por isso. Tive essa experiência na Copa de 1966, na derrota para a Hungria por 3 a 1.
Na final da Copa de 1998 aconteceu a mesma coisa, novamente contra a França e contra Zidane. Estava presente o capitão Dunga, símbolo da raça. Nem isso adiantou. E colocaram toda a culpa da derrota no problema de Ronaldo.
Isso é uma coisa. Outra é o jogador, por desleixo, soberba e incompetência da comissão técnica, não se preparar bem para uma importante competição, como certamente ocorreu na Copa de 2006. Aí, não adianta querer correr e brilhar. Ninguém faz o que quer sem poder.

tostao.folha@uol.com.br


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