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JUCA KFOURI
Violento compulsivo
Ficou barato para o técnico
do Vasco, Antônio Lopes, ter
mandado seus jogadores baterem nos do São Paulo como o
microfone da TV Globo mostrou ao país no jogo dia 23 em
São Januário, show de Evair.
Além da pronta reação do
narrador Galvão Bueno, criticando duramente a ordem
criminosa, um comentário
aqui, outro ali e pronto, o assunto morreu.
Nossa digníssima justiça esportiva, por exemplo, nem se
manifestou.
Pois o treinador vascaíno
parece ser um amante compulsivo da violência.
Quem conta é um estudante
da USP que foi colega de primário do filho de Lopes, no
Colégio de São Bento, no Rio
de Janeiro.
Mário Faustini, eis seu nome, relata, via e-mail, que na
comemoração do aniversário
de outro colega de classe, em
1983, o time de sua escola organizou um minicampeonato
no Jóquei Clube carioca.
"Lá pelas tantas, nosso time,
que era 'orientado' por Antônio Lopes, estava empatando
o jogo e sendo tremendamente
pressionado, sobretudo por
um jogador adversário extremamente habilidoso. Numa
paralisação mais prolongada,
Antônio Lopes chamou um
colega meu que estava jogando como zagueiro e repreendeu-o duramente: 'você não
pode deixar o fulano passar
por você, bloqueia ele de qualquer forma, QUEBRA ele, mas
não deixa; e se ele passar, chuta a perna de apoio que ele
cai.
"Lembro-me que cheguei a
comentar o ocorrido com
meus pais, que reagiram com
repugnância ao relato, corroborando a repugnância que
eu mesmo sentira no momento, fato que ficou para sempre
impregnado na minha memória, vindo à tona sempre que
discuto a questão ética sobre
se os fins justificam os meios.
"E o pequeno crime que presenciei, em que um profissional maduro tentou induzir
um garoto de nove anos a agir
de maneira desonesta e violenta, correndo o risco de que
tal atitude fosse interpretada
por uma criança como correta
e normal, parecia que ficaria
para sempre impune.
"Só que os benditos microfones fizeram justiça, que, como
diz o jargão, decerto tarda,
mas não falha."
E tornaram mais compreensível ainda a preferência de
Eurico Miranda por Antônio
Lopes, acrescento.
E revelaram mais uma vez
que o crime perfeito não existe, que a verdade sempre acaba vindo à tona, mais cedo ou
mais tarde.
Dá pena do filho de Lopes.
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