São Paulo, sexta-feira, 01 de agosto de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

"Anistia" chinesa na internet mantém restrição ao Tibete

Páginas sobre a região autônoma, assim como as ligadas ao movimento Falun Gong, seguem sem acesso a jornalistas

Recuo pode ser considerado uma vitória do presidente do COI, Jacques Rogge, que chegou ontem à China sob o furacão de reações à censura


ADALBERTO LEISTER FILHO
EDUARDO OHATA


ENVIADOS ESPECIAIS A PEQUIM

Um dia após ser pressionado pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), o governo chinês liberou parcialmente o acesso de jornalistas a páginas da internet cujo conteúdo é considerado "sensível" pelo regime.
Nas primeiras horas de hoje (no horário de Pequim), sites como o da Anistia Internacional, da ONG Human Rights Watch e a versão chinesa do portal da BBC, antes bloqueadas, estavam disponíveis no centro de imprensa de Pequim.
Páginas do movimento espiritual Falun Gong, banido no país, ou ligadas ao Tibete, porém, continuavam censuradas.
A Folha testou o acesso em endereços antes fechados e que travavam os computadores caso fossem digitados na barra de endereços. Constatou que, aos poucos, eles estavam sendo exibidos normalmente.
O recuo chinês pode ser considerado uma vitória de Jacques Rogge, presidente do COI, que desembarcou ontem na capital chinesa sob o furacão de reações que a censura -inesperada, segundo o próprio chefe de imprensa do comitê, Kevan Gosper- provocou na comunidade internacional.
O COI se reuniu ontem mesmo com o Bocog para discutir a restrição ao acesso à internet durante a Olimpíada. Segundo a entidade, em nenhum momento houve algum tipo de negociação que permitisse a manutenção da política de bloqueio anunciada pelo governo.
Em nota oficial divulgada ontem, o COI declarou que manifestou sua insatisfação com a situação e que aguardava que a organização dos Jogos oferecesse "uma resposta" para a restrição, que provocou saia justa entre Rogge e Gosper -o chefe de imprensa sentiu-se traído e criticou abertamente seu superior por não tê-lo informado sobre a censura.
O tema provocou reações em todo o mundo ontem. Embora com dificuldade de divulgar seu discurso na sala de imprensa dos Jogos de Pequim, ONGs de direitos humanos e ativistas políticos se manifestaram de forma contundente contra a censura imposta pelo Bocog.
Assinada por autoridades como o ex-presidente tcheco Vaclav Havel, o clérigo sul-africano Desmond Tutu e o filósofo francês André Glucksmann, além de membros do Parlamento Europeu, a missiva pedia o livre acesso às informações na sede da Olimpíada.
Os autores criticam as limitações ao trabalho da imprensa e as tentativas do governo chinês de retirar o tema dos direitos humanos do noticiário alegando que isso estaria politizando os Jogos Olímpicos.
O grupo argumenta que "falar de direitos humanos não é falar de política. Só regimes autoritários e totalitários tentam parecer que isso seja. Falar de direitos humanos é um dever."
O manifesto também pede ao COI que permita que manifestações políticas sejam feitas.
O texto clama que o comitê afrouxe suas restrições para que os atletas em Pequim possam "aprender sobre a situação real na China" e também "se manifestar livremente quando e onde quiserem, de acordo com sua consciência".


Texto Anterior: Painel FC
Próximo Texto: China aumenta repressão sobre críticos do sistema
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.