São Paulo, sexta-feira, 01 de setembro de 2000

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DOPING
Atraso na divulgação de resultados de testes pode chegar a 4 semanas e desmoralizar mobilização para a Olimpíada
Sydney pode cassar medalha após Jogos

JOSÉ ALAN DIAS
ENVIADO ESPECIAL A SYDNEY

Toda a mobilização e alarde do comitê organizador dos Jogos e da Agência Mundial Antidoping para inscrever Sydney como a Olimpíada limpa de substâncias proibidas ameaça ser derrubada pela demora da divulgação dos resultados dos testes preventivos.
Um consórcio encabeçado pela Wada, sigla em inglês da Agência Mundial Antidoping, instituída no ano passado e ligada ao COI (Comitê Olímpico Internacional), do qual participa a Agência Australiana de Controle de Drogas no Esporte (Asda), está conduzindo 2.500 dos testes fora de competição -feitos sem prévia notificação aos competidores.
Esses testes preventivos são aplicados a atletas de todas as nações e de todos os esportes participantes dos Jogos Olímpicos.
Entre os que já se submeteram ao controle estão membros da equipe de natação (Luiz Lima e Edvaldo Valério incluídos), os primeiros a chegarem a Canberra, capital australiana, local escolhido para a adaptação da delegação brasileira.
De acordo com os dirigentes australianos, a maioria dos 2.500 testes será completada antes da abertura dos Jogos, no próximo dia 15. Mais 400 desses exames preventivos estarão sob responsabilidade exclusiva do COI, no programa pré-Olimpíada, que será iniciado amanhã.
Serão feitas coletas de urina e também de sangue -a novidade desta Olimpíada, que servirá para detectar o hormônio EPO (eritropoietina), que aumenta a resistência e a oxigenação do sangue.
O obstáculo é que o processo de análise das amostras e divulgação dos resultados se estende por duas a quatro semanas.
Ou seja, abre a possibilidade para que um atleta que figura no grupo dos testados previamente tome parte da Olimpíada e, somente depois de terminada sua participação, saiba se foi aprovado ou não no crivo do antidoping.
Um exemplo concreto: um atleta participa das eliminatórias e ganha vaga na final dos 200 m rasos no atletismo. Perde e não faz o antidoping, por não ser sorteado. Dias depois, descobre-se que ele havia corrido dopado. O resultado final da prova não muda, mas ele tirou a chance de um atleta "limpo" disputar a final.
""Durante os Jogos, os resultados das análises feitas depois das provas serão conhecidos, como de praxe, entre 48 e 72 horas", disse Natalie Howson, chefe-executiva da agência australiana de controle de doping no esporte, durante apresentação dos resultados dos testes feitos com atletas locais (leia texto nesta página).
Se for comprovado o uso de doping por atleta ainda antes do período olímpico não caberá à Wada ou aos organizadores australianos decidirem sobre o caso.
Feita a contraprova (análise da segunda parte da amostra de sangue ou urina) e ratificado o resultado positivo, a comissão médica do COI é oficialmente comunicada. Caberá a ela analisar o caso e, por sua vez, informá-lo ao chefe da delegação a que pertence o competidor. A partir daí, o COI anuncia o afastamento.
Mesmo que um atleta ganhe medalha e passe pelo antidoping, poderá ter a condecoração retirada, se o exame preventivo tiver dado positivo.
Somente com o desenvolvimento da tecnologia para a realização do exame que permite a detecção do EPO, o governo australiano gastou US$ 1 milhão.


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