São Paulo, sexta-feira, 01 de setembro de 2000

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SEGURANÇA
Organização veta uso de roupas alusivas a motivos políticos e étnicos e que não sejam do patrocinador oficial
Olimpíada impõe restrições a torcedores

MARCELO DIEGO
ENVIADO ESPECIAL A SYDNEY

Os torcedores vão ter restrições inéditas para assistir à Olimpíada em Sydney. Os organizadores criaram regras especiais que permitem o banimento de qualquer pessoa que estiver usando, em locais de disputa, camisetas com motivos considerados ofensivos, com alusões a religião, ideologia política ou com símbolos de produtos que não os dos patrocinadores oficiais dos Jogos.
O direito concedido pelas autoridades é inédito na história olímpica. A pessoa, moradora de Sydney ou visitante, que for pega usando camisetas, fazendo publicidade ilegal ou distribuindo panfletos proibidos pode ser banida do ginásio ou estádio em que estiver, terá de fornecer seus dados pessoais para um cadastro policial e pode até ser impedida de voltar ao complexo olímpico por um período de 12 meses.
A medida foi permitida pelo governo federal australiano e chancelada pelo Socog (o comitê organizador dos Jogos), mas sofre protestos de entidades de proteção dos direitos civis, pela supressão do direito de livre expressão.
"Poucas pessoas estão habituadas a protestar pelos seus direitos de expressão, mas esse é um caso concreto de abuso", disse Kevin O'Rourke, presidente do Conselho de Direitos Civis, a uma emissora de TV local.
Para Amanda Cornwall, advogada e representante legal do Centro de Interesse Público de Sydney, as medidas estão previstas em lei. "Usar uma camiseta como "Danem-se os Jogos" pode ser uma afronta moral a um telespectador ou uso de linguagem indecente", disse ela.
Para o Socog, todas as regras foram debatidas com a sociedade e aprovadas após consenso.
O comitê organizador já informou que não haverá restrição na hora da entrada dos torcedores aos locais da competição, mas que os agentes de segurança podem retirar as pessoas que estiverem com roupas consideradas inadequadas. O'Rourke disse que a medida tem motivos econômicos e visa limpar as imagens para a TV.
Já panfletos e outras atividades ligadas a temas religiosos, étnicos ou políticos serão proibidos num raio de 3 km ao redor dos centros olímpicos. A comunidade cristã australiana está prevendo a distribuição de 1 milhão de cartilhas (códigos de conduta) durante os Jogos. O conselho dos aborígines (minoria no país) prepara um protesto no centro de Sydney para o dia 10 de setembro.
As restrições de imagem se aplicam também a marcas de produtos. Pessoas e empresas que fizerem propaganda considerada não-oficial estarão sujeitas a multas de até US$ 250 mil, para preservar a imagem dos patrocinadores oficiais dos Jogos.
A American Express (cartões de crédito), por exemplo, teve de retirar todas suas publicidades das ruas que vão abrigar as provas de triatlo e ciclismo. Os Jogos são patrocinados pela concorrente Visa.
Outras irregularidades, já previstas nos códigos penais australianos, tiveram suas penas aumentadas excepcionalmente para o período olímpico. A Olimpíada começa no dia 15 de setembro, com a cerimônia de abertura, e termina no dia 1º de outubro.
Estacionar o veículo em local proibido em Sydney vai acarretar multa de US$ 348 no período -cinco vezes mais do que a sanção aplicada hoje. O carro ainda pode ser guinchado (a taxa para retirada do depósito municipal é de US$ 126). Utilizar-se de uma das pistas exclusivas para os ônibus olímpicos custará US$ 300.


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