São Paulo, quarta-feira, 01 de setembro de 2004

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TÊNIS

Alinhar expectativas

RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA

Faz tempo que Gustavo Kuerten fala em alto e bom som: jamais voltará a jogar tênis como jogou um dia. Dificilmente repetirá aquelas atuações que o levaram aos troféus em Roland Garros, à liderança inconteste do ranking mundial, à consagração como primeiro vencedor da Corrida dos Campeões.
A cada torneio, porém, fãs, jornalistas e torcedores fazem questão de ignorar esses avisos. Adeptos da "vitória a qualquer custo", ávidos pelo sucesso do esportista nacional, torcedores com paixão acima do normal, recusam-se a escutar o que o próprio ídolo diz e acabam nutrindo uma expectativa irreal, ingênua até.
Mas acontece que, então, acabam duramente castigados com as derrotas aparentemente precoces do ex-número um do mundo, com as suas eliminações incompreensíveis, quase inadmissíveis. Não percebem que, nos últimos três anos, Kuerten conquistou menos do que em apenas um ano, aquele seu melhor ano.
Não vêem que, a cada derrota, o físico lhe parece custar mais. Não querem se tocar que, a cada eliminação, suas limitações ficam mais evidentes. Parecem não querer saber que, a cada pausa entre torneios, o tempo de fisioterapia aumenta, em detrimento do tempo de treino em quadra.
No fundo, no fundo, o médico Thomas Byrd jamais confirmará, seus assistentes nunca falarão, pessoas próximas ao médico e ao tenista de modo algum admitirão. Mas exames que foram feitos durante as visitas (algumas delas até escondidas) aos EUA deixam claro: o problema físico do brasileiro é "crônico e irreversível", segundo palavras de um médico que teve acesso aos resultados.
"Conviver com a dor", termo que o próprio tenista já soltou, não é retórica, mas algo real. E, por mais que aquele detestável excesso de auto-estima esportivo que o torcedor brasileiro adora ostentar faça com que a esperança seja de um título agora no Aberto dos EUA, a partir do jogo de hoje, vale a pena ser realista, vale a pena "alinhar as expectativas": uma segunda semana de Grand Slam em Nova York está de bom tamanho. Está ótimo.
 
Flávio Saretta, sem mais nem menos, brigou com o gente boa João Zwetsch no meio de um jogo e o mandou embora. Logo depois, foi a Wimbledon com o também gente boa Pablo Albano. Não deu certo. Sob orientação do mais-gente-boa-ainda Carlos Chabalgoity, Saretta ficou pouco tempo. E, desde dezembro, associou-se a Fernando Roese, com quem parecia ter afinidade. Parecia.
Roese é mais um treinador que se afasta de Saretta dizendo que a separação será "boa para os dois". Não é, literalmente, nem o primeiro nem o segundo. Certamente não será o último. Quando isso acontece, pergunta-se se o problema não está no tenista.
Saretta jamais admitirá isso, tamanha a expectativa e a imagem que tem sobre ele próprio. Mas convém (a ele) refletir sobre o caminho que sua carreira toma a partir de agora. É mais saudável e eficiente do que, por exemplo, ameaçar bater neste colunista.

Em São Paulo
Neste ano, o Desafio Espetacular, evento que não vale nada, mas reúne alguns dos melhores tenistas sul-americanos no Ibirapuera, mudou de data. Vai de 15 a 18 deste mês. Estarão aqui Guga, Flávio Saretta, André Sá, Gastón Gaudio, Agustín Calleri e Mariano Zabaleta.

Em Curitiba e no Rio de Janeiro
O Graciosa Country Club recebe o Ourocard Tennis Future, com Franco Ferreiro, Marcos Daniel, Júlio Silva e Alexandre Simoni. O Rio, o Circuito Unimed infanto, nos clubes Caiçara e Paissandu.

Em Atenas
Na Grécia, deu Nicolás Massú (na simples e nas duplas). Bonito? Bonito. Mas será que a Olimpíada é importante para tênis?

E-mail reandaku@uol.com.br

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