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TÊNIS
Alinhar expectativas
RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA
Faz tempo que Gustavo
Kuerten fala em alto e bom
som: jamais voltará a jogar tênis
como jogou um dia. Dificilmente
repetirá aquelas atuações que o
levaram aos troféus em Roland
Garros, à liderança inconteste do
ranking mundial, à consagração
como primeiro vencedor da Corrida dos Campeões.
A cada torneio, porém, fãs, jornalistas e torcedores fazem questão de ignorar esses avisos. Adeptos da "vitória a qualquer custo",
ávidos pelo sucesso do esportista
nacional, torcedores com paixão
acima do normal, recusam-se a
escutar o que o próprio ídolo diz e
acabam nutrindo uma expectativa irreal, ingênua até.
Mas acontece que, então, acabam duramente castigados com
as derrotas aparentemente precoces do ex-número um do mundo,
com as suas eliminações incompreensíveis, quase inadmissíveis.
Não percebem que, nos últimos
três anos, Kuerten conquistou
menos do que em apenas um ano,
aquele seu melhor ano.
Não vêem que, a cada derrota, o
físico lhe parece custar mais. Não
querem se tocar que, a cada eliminação, suas limitações ficam
mais evidentes. Parecem não querer saber que, a cada pausa entre
torneios, o tempo de fisioterapia
aumenta, em detrimento do tempo de treino em quadra.
No fundo, no fundo, o médico
Thomas Byrd jamais confirmará,
seus assistentes nunca falarão,
pessoas próximas ao médico e ao
tenista de modo algum admitirão. Mas exames que foram feitos
durante as visitas (algumas delas
até escondidas) aos EUA deixam
claro: o problema físico do brasileiro é "crônico e irreversível", segundo palavras de um médico
que teve acesso aos resultados.
"Conviver com a dor", termo
que o próprio tenista já soltou,
não é retórica, mas algo real. E,
por mais que aquele detestável
excesso de auto-estima esportivo
que o torcedor brasileiro adora
ostentar faça com que a esperança seja de um título agora no
Aberto dos EUA, a partir do jogo
de hoje, vale a pena ser realista,
vale a pena "alinhar as expectativas": uma segunda semana de
Grand Slam em Nova York está
de bom tamanho. Está ótimo.
Flávio Saretta, sem mais nem
menos, brigou com o gente boa
João Zwetsch no meio de um jogo
e o mandou embora. Logo depois,
foi a Wimbledon com o também
gente boa Pablo Albano. Não deu
certo. Sob orientação do mais-gente-boa-ainda Carlos Chabalgoity, Saretta ficou pouco tempo.
E, desde dezembro, associou-se a
Fernando Roese, com quem parecia ter afinidade. Parecia.
Roese é mais um treinador que
se afasta de Saretta dizendo que a
separação será "boa para os
dois". Não é, literalmente, nem o
primeiro nem o segundo. Certamente não será o último. Quando
isso acontece, pergunta-se se o
problema não está no tenista.
Saretta jamais admitirá isso, tamanha a expectativa e a imagem
que tem sobre ele próprio. Mas
convém (a ele) refletir sobre o caminho que sua carreira toma a
partir de agora. É mais saudável e
eficiente do que, por exemplo,
ameaçar bater neste colunista.
Em São Paulo
Neste ano, o Desafio Espetacular, evento que não vale nada, mas reúne alguns dos melhores tenistas sul-americanos no Ibirapuera, mudou de data. Vai de 15 a 18 deste mês. Estarão aqui Guga, Flávio Saretta, André Sá, Gastón Gaudio, Agustín Calleri e Mariano Zabaleta.
Em Curitiba e no Rio de Janeiro
O Graciosa Country Club recebe o Ourocard Tennis Future, com
Franco Ferreiro, Marcos Daniel, Júlio Silva e Alexandre Simoni. O
Rio, o Circuito Unimed infanto, nos clubes Caiçara e Paissandu.
Em Atenas
Na Grécia, deu Nicolás Massú (na simples e nas duplas). Bonito? Bonito. Mas será que a Olimpíada é importante para tênis?
E-mail reandaku@uol.com.br
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