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FUTEBOL
O básico e o extra (2)
TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA
Na coluna anterior, aproveitei a frase do Renê Simões, de que as jogadoras brasileiras fazem melhor o extra, e as
americanas, o básico, para dizer
que o futebol feminino do Brasil
será o melhor do mundo quando
aprender bem o básico, ou seja, a
técnica individual e coletiva para
vencer.
Escrevi ainda que o futebol feminino americano, como o masculino, já atingiu o máximo, pois
o extra (habilidade, criatividade,
improvisação) não se aprende. A
seleção masculina dos EUA faz
tudo certinho e consegue, no máximo, perder de pouco para o
Brasil.
Disse ainda que o futebol masculino do Brasil é o primeiro do
mundo porque faz bem o básico,
como as outras principais seleções, e é superior no extra. A beleza e a magia do futebol estão no
extra, e não no básico.
Na Copa de 94, ao ver a Nigéria
dar um show de habilidade na
Itália, criar mais chances de gols e
perder, como aconteceu com as
brasileiras contra os EUA, imaginei que os africanos seriam hoje,
dez anos depois, os grandes rivais
do Brasil, pois poderiam aprimorar o extra e aprender o básico.
Não foi o que aconteceu. Os técnicos europeus que foram para a
África destruíram o futebol do
continente. Hoje, os africanos jogam um futebol defensivo, violento e sem criatividade. Desaprenderam o extra e não aprenderam
o básico.
Do futebol, salto para o vôlei.
Ninguém vai acreditar, mas na
adolescência era o levantador de
um time de vôlei que foi campeão
num torneio entre bairros promovido pelo Sesc. Poderia ter sido
um Ricardinho se não fosse para
o futebol.
Suponho que o vôlei é um esporte muito mais de fundamentos
técnicos, de jogadas treinadas, do
que de improvisação e de fantasia. O básico no vôlei é mais importante do que o extra. No futebol, é o contrário.
Além de hábeis e criativos, os jogadores brasileiros de vôlei fazem
com extrema eficiência tudo que
é básico e essencial. Eles dominam toda a técnica individual e
coletiva para vencer. Como disse
o repórter André Kfouri, da ESPN
Brasil, os jogadores não são profissionais de vôlei, são profissionais de vitórias.
Bernardinho é o principal responsável por todo esse esplendor
técnico. Ele disse após a conquista
que a primeira sensação foi de
alívio. Alívio e fim da culpa imaginaria, de que faltou alguma coisa para fazer durante os treinos.
Os perfeccionistas estão sempre
insatisfeitos e sofrem por isso.
Mas, logo após um breve tempo,
Bernardinho relaxou e sentiu o
orgulho e o infinito prazer de ser
campeão olímpico e o melhor técnico do mundo.
Os loucos são essenciais
Gostei de a Argentina ganhar a
medalha de ouro no futebol masculino, porque era muito melhor
do que as outras e é a única seleção, mesmo fora da Olimpíada,
que tenta fazer algo diferente. A
diversidade é sempre benéfica.
Não me refiro ao esquema tático com três zagueiros. Isso tem
menos importância, e prefiro o
com dois zagueiros e dois laterais,
como atuam o Brasil e outras seleções.
Com exceção da Argentina, todas as seleções, incluindo a do
Brasil, têm a mesma postura. Jogam um futebol racional, seguro e
equilibrado. Os técnicos fazem e
falam as mesmas coisas. Não existe mais diferença entre o estilo coletivo brasileiro e o europeu, como era marcante no passado.
Hoje, a única diferença é o talento individual de alguns atletas
brasileiros. Por causa deles, o Brasil tem a melhor seleção do mundo. São os craques que fazem a diferença, e não o estilo e o esquema
tático.
O time argentino é o único que
marca por pressão, que joga com
um meia ofensivo e mais três atacantes e que desde o início atua
como se estivesse perdendo. É um
estilo vibrante, ousado, arriscado
e inquieto, como o técnico Bielsa,
que não pára de andar durante a
partida. Gosto mais do estilo da
Argentina, o que não significa
que seja o mais eficiente e nem
que o Bielsa é superior ao Parreira e aos outros técnicos. Não sei
quem é o melhor.
Se a Argentina tivesse perdido a
medalha de ouro, provavelmente
entraria no lugar do Bielsa o eficiente Bianchi, que adora um futebol defensivo e de contra-ataque. Com ele, talvez a Argentina
tivesse mais chance numa Copa
do Mundo, mas consolidaria o estilo tradicional e único no mundo. O futebol precisa de alguns
"loucos", como Bielsa.
E-mail
tostao.folha@uol.com.br
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