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A primeira vez e os médios sem vez
JOSÉ ROBERTO TORERO
da Equipe de Articulistas
Não sei se já lhe passou pela
cabeça esta inteligentíssima
idéia, leitor, mas sempre temos
que passar pela primeira vez
por todas as experiência da vida. Todos nos lembramos da
primeira ida à escola, do primeiro porre, da primeira vez
propriamente dita e coisas assim. No futebol é a mesma coisa.
Ainda me lembro da primeira vez que vi um time jogar de
modo diferente do nosso, a
Holanda de 74. Lembro-me
também da primeira vez que vi
Sócrates jogar. Era algo diferente e eu me lembro de ficar
acompanhando seus movimentos no campo, mesmo sem
a bola. E como esquecer a primeira vez que vi um juiz marcar um gol, no caso José de Assis Aragão, num histórico Santos 2 x 2 Palmeiras que o Santos vencia por 2 a 1 até, mais
ou menos, os 40 do segundo
tempo?
Revejo todas essas cenas porque nesse domingo fui à Vila
Belmiro assistir aos 2 a 0 do
Santos sobre o Internacional.
E nesse jogo aconteceram comigo três coisas pela primeira
vez.
A primeira foi a estréia do
meia Messias, ex-Madureira;
aliás um nome que se encaixa
bem diante do atual jejum de
títulos do Santos. Ele jogou
bem, deu o passe para o gol de
Lúcio e mostrou qualidades.
Posso ter visto, pela primeira
vez, a estréia de um craque.
A segunda foi a defesa de cabeça que Zetti fez à queima-roupa. Até hoje só tinha
visto as convencionais defesas
com as mãos, com os pés ou
com as pernas. Um goleiro
usar a cabeça, literalmente, foi
a primeira vez.
E a terceira primeira vez foi
que, nesse domingo, depois de
anos frequentando a Vila Belmiro, pela primeira vez peguei
a bola do jogo com minhas
próprias mãos. Um jogador do
Internacional deu um chutão
para a arquibancada e ela veio
vindo, veio vindo bem na minha direção. Eu a agarrei com
firmeza e vivi, com toda a intensidade, aquele segundo de
emoção. Depois joguei a bola
de volta. É claro que o leitor
não vai acreditar em mim, e
isso é triste, porque talvez tenha sido a primeira vez que falei uma verdade nessa coluna.
Na vida, a grande maioria de
nós não ultrapassa a faixa mediana, seja em termos de renda, emoções ou contribuição
intelectual para o progresso da
humanidade. Por sermos a
maioria, deveríamos ter mais
espaço na mídia, mas ela ou se
ocupa dos muito ricos e gloriosos ou dos muito pobres e desesperados.
Todos falam da boa fase do
Corinthians, do Santos e até
do Sport. Por outro lado, também se comentam as aflições
do Grêmio e do Atlético-MG,
mas ninguém dá muita atenção ao Coritiba, ao Botafogo e
ao Cruzeiro, que estão embolados com outros dez times que
vivem uma situação dramática. Seus torcedores roem
unhas, suam frio e têm um infarto por rodada, pois uma
derrotinha de nada já os arrasta para o abismo da ameaça do rebaixamento e uma vitória, por melhor que seja,
nunca dá o alívio suficiente.
Mas esses times, como os médios da vida, ficam sempre esquecidos.
E-mail: torero@uol.com.br
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