São Paulo, Quarta-feira, 01 de Setembro de 1999
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Se minha camiseta falasse

JOSÉ ROBERTO TORERO
da Equipe de Articulistas

Neste fim-de-semana, Romário, o pequeno grande homem, voltou a exibir uma camiseta com mensagem, desta vez com a inscrição: ""Favelados também fazem parte da sociedade". Por essa e por outras é que sou contra a tentativa da Fifa de impor restrições na divulgação de mensagens nas camisetas dos jogadores. Não é nada, não é nada, seria um atrativo neste Brasileirão monótono, com jogos cheios de faltas.
Pensemos. Se o futebol é um espetáculo, nada mais justo que o elemento surpresa faça parte dele. Nesse sentido, o negócio da camiseta, com o perdão do mau trocadilho, cairia como uma luva. Depois do gol, ficávamos um tempo em suspense, imaginando qual o recado que o jogador teria reservado para a ocasião.
Um das alegações dos dirigentes é que os textos podem exprimir uma posição ideológica do atleta. Mas e daí? Presume-se que os jogadores tenham cérebro, e esse cérebro, trabalhando, os faça ter opiniões. Qual o problema de lermos textos sobre preferências partidárias, sátiras sobre o governo ou versículos bíblicos? Creio que, acima de tudo, deve valer o direito de expressão, feitas, claro, as ressalvas de sempre: nazismo, extermínio racial, pedofilia e obscenidades, como Proer, CPMF etc.
No fundo, acho que eles têm medo que os jogadores comecem a fazer propaganda de empresas e eles não possam morder uma porcentagem. É pena, porque perderemos a oportunidade de vermos mensagens provocantes, criativas e bem-humoradas.
Pois bem, já que, com exceção de Romário, os outros jogadores andam meio intimidados e pararam com esse espetáculo de democracia e livre manifestação de pensamento, só me resta, então, imaginar mensagens. Pensei em algumas que se casariam com o estilo e a personalidade de certos jogadores. Primeiro os craques do passado:
Nilton Santos: Silêncio, biblioteca.
Sócrates: Penso, logo existo.
César Maluco: Não penso, mas acho que existo.
Paulo César Caju: Existem pessoas que só pensam em dinheiro, sexo e diversão. Eu sou uma delas!
Marcio Rossini: Olho por olho, dente por dente.
Paolo Rossi: Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar, cai três.
Ou ainda:
Rosemiro: Os feios que me desculpem, mas beleza é fundamental.
Tostão: Gênio trabalhando.
Ataliba: Va-va-valeu!
Reinaldo: Diga não às drogas.
Maradona: Diga sim às drogas.
Rui Rei: Doutor, eu não me engano. Meu coração é corintiano.
Agora, imaginemos possíveis camisetas do nosso tempo:
Viola: Torço desde criancinha para o time em que estou jogando atualmente. Narciso: Daqui não saio, daqui ninguém me tira. Galeano: Ninguém me ama, ninguém me quer. Vampeta e Dinei: Nem toda nudez será castigada. Paulão, do São Paulo: Participe da campanha contra a fome e a desnutrição. Bebeto: Quem não chora não mama.
E mais:
Alex: Do not disturb. Ronaldinho: Meu outro carro também é uma Ferrari. Zinho: Consertam-se enceradeiras. César Sampaio: Eu amo Jesus. Marcelinho Carioca: Jesus me ama. Roni: Melhor aqui do que no Botafogo. Qualquer jogador do Botafogo: Te cuida, Fluminense, que nós estamos chegando! Raí: Ame a sua pátria, ela não tem culpa dos filhos que tem. E, finalmente, Edmundo: Fugi da Skola e cai na Bohemia.


José Roberto Torero escreve às quartas

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