São Paulo, domingo, 01 de outubro de 2000

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JOSÉ ROBERTO TORERO

Bronzil! Bronzil!


Há dias em que vale a pena sair da cama. Este foi um desses. Estava um dia ensolarado, os pássaros cantavam em minha janela e, o melhor de tudo, o café da manhã estava muito bom.
Depois fui ver o jogo entre Brasil e EUA pelo bronze no vôlei feminino. Foi o segundo melhor tipo de jogo para um torcedor: aquele em que seu time é bem superior, está tranquilo e vence o jogo com facilidade. Foi um três a zero que quase poderia ser chamado de moleza. Só no segundo set as americanas tiveram alguma esperança de vencer. Mas isso não aconteceu. E sempre há um gostinho especial em vencer os EUA. Nem que seja no palitinho.
Mas o melhor ainda estava por vir. Ou por ver. Era a disputa pelo bronze entre Brasil e Coréia do Sul no basquete feminino. E esse jogo foi do melhor tipo que há para um torcedor: os times eram iguais, a partida, equilibrada, mas seu time venceu no final.
E, no caso, foi bem no final mesmo: na prorrogação. Nos cinco minutos extras a seleção brasileira nem parecia a mesma dos primeiros quarenta. Foi segura, soube chamar as faltas, fez uma boa marcação, venceu e convenceu.
Algum chato pode dizer que o bronze é pouco, mas as meninas, tanto do vôlei como do basquete, pulavam feito doidas e choravam e se abraçavam. Até os australianos se emocionaram e gritaram "Brasil, Brasil!" Mas, com seu sotaque, parecia mais "Bronzil, Bronzil!" Ou isso ou os australianos são um povo muito irônico. Nos tempos da Grécia antiga, os campeões olímpicos eram homenageados com uma estátua, mas que não poderia ter um rosto. Só o nome do atleta e uma inscrição com seu feito. O rosto da estátua só poderia ser realizado quando o atleta vencesse uma Olimpíada pela terceira vez. Pois o boxeador Félix Savón acaba de merecer este direito. Ele é tricampeão de pesos-pesados. Poderia estar ganhando milhões de dólares, mas preferiu continuar em Cuba, competindo por seu país. E falando em Cuba, seu vôlei feminino também é tricampeão. Também poderia ser feita uma estátua com a ágil Ruiz saltando, com Costa, de costas, fazendo um levantamento, com Bell dando uma largada sutil e com Torres bloqueando.
Tudo bem, perdemos delas e isso nos dá uma ponta de raiva. Mas depois de assistir à virada em cima da Rússia, há que se admitir que perdemos para as melhores do mundo. E falando ainda mais em Cuba, a pequena ilha já tem mais de uma medalha de ouro por cada milhão de habitante.
É a melhor relação ouro per capita do planeta. E isso num país pobre. Mas onde há esporte para todos desde os primeiros dias.
E-mail torero@uol.com.br



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