São Paulo, terça-feira, 01 de outubro de 2002

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BASQUETE

Um domingo qualquer

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

Jefferson, 22, desfazia a mochila, primeiro fim de semana na Califórnia. Separava os CDs, arrumava as roupas, recompunha os nervos. Na véspera, cume de uma montanha-russa de longos três meses, tinha finalmente apertado a mão de Phil Jackson.
No mundo empresarial da NBA, é assim. O clube contrata jogadores que o técnico nunca viu jogar -no caso, de quem o técnico nunca nem tinha ouvido falar.
Havia apenas duas semanas que o brasileiro se exibira ante os olheiros do Los Angeles Lakers. Era a última escala do giro pelas principais equipes da liga norte-americana, inaugurado em julho.
No domingo, ele fitava as assinaturas, ainda fresquinhas, a recompensa pelas semanas de treinos intensivos nos EUA.
Apesar dos alertas do empresário Joe Santos, de que tal acordo pode ser rescindido a qualquer momento e de que o mais provável é que o cliente atue pelo menos uma temporada na segunda divisão (NBDL), a imprensa nacional se assanhava: o melhor time de basquete do mundo abria uma vaga para um jogador brasileiro!
Era também o que importava para Jefferson, pelo menos nesse domingo em Los Angeles, a um dia da avaliação física, a dois do primeiro rachão com os tricampeões, a três da primeira aula sobre o sistema de triângulos, o começo de uma tremenda semana.

No domingo frio de Denver, o latino-americano mais valorizado da história do basquete despedia-se da fase pupal, fechava um semestre extenuante de exercícios e de autoconhecimento.
Em dois dias, com a abertura dos treinos coletivos, ele teria de encarar a expectativa de toda a NBA, cada vez mais arisca em busca de talentos "estrangeiros".
Alheio aos boatos de que simulou uma contusão para não participar do Mundial, Nenê Hilário, 20, puxava o oxigênio das Montanhas Rochosas. E alongava, alongava e alongava os músculos, braços e pernas à procura.

O domingo espanhol colhia Anderson, 20, de olhos inchados.
As coisas andavam diferentes após a chegada de Svetislav Pesic. Bicampeão mundial em Indianápolis, o técnico iugoslavo fora escolhido para devolver o Barcelona ao topo do basquete europeu.
A linha-dura aparecera logo na primeira semana, com a dispensa de atletas consagrados. Anderson nem teve tempo de temer pelo pescoço, tamanha a lição de casa.
"Você precisa ser mais disciplinado! Você deve se alimentar melhor! Tem de treinar mais, dobrar a atenção no jogo!"
Mas a ressaca do domingo não se devia às broncas.
No sábado, o discurso de Pesic embasbacara o elenco. O craque Dejan Bodiroga estava contundido, e seu substituto seria o jovem brasileiro. No lugar de um dos melhores ala-armadores do planeta, entraria um ala-pivô, tratado como reles reboteiro na seleção nacional e considerado ainda um "diamante" pelos fãs catalães.
Para o visionário Pesic, o potencial físico (agilidade na cobertura e "timing" nos tocos) e técnico (drible e chute em evolução) credenciam Anderson para o perímetro -e não só para o garrafão.
O domingo marcava o início da liga espanhola, a mais forte da Europa. Para o comovido "neoala" (11 pontos, 5 rebotes e 5/7 nos arremessos), bem mais que isso.

Agenda 1
Oscar & Cia. (um Oscar e uma Cia. cada vez menos prestigiosos, diga-se) abriram no domingo o Estadual do Rio. Em São Paulo, Ribeirão Preto x São Caetano fazem hoje as honras do torneio, que, sem motivos técnicos e administrativos, não pára de inchar. O esdrúxulo Paulista feminino, após intervalo de três meses, será reiniciado também hoje, já com os mata-matas. Tudo na ESPN Brasil.

Agenda 2
A semana também marcou a estréia da dupla Guilherme e Marcelinho no Rímini, da segunda divisão italiana. O primeiro foi bem (18 pontos, 9/9 arremessos); o segundo não (3, 1/8). O time perdeu.

Agenda 3
O presidente Gerasime Bozikis anda evasivo, e a CBB não esclarece se os técnicos Hélio Rubens e Antonio Carlos Barbosa serão mantidos depois das campanhas nos Mundiais. Para quê tanto mistério?

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