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FUTEBOL
Zé Cabala e o sono eterno
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Dessa vez, cheguei bem cedo
à casa de Zé Cabala, tão cedo que ele e Gulliver ainda estavam dormindo. Bati palmas e, depois de alguns instantes, vi Gulliver espiando pela fresta da janela.
Logo depois ele gritou:
- Não, mestre, não é o cara da
cobrança.
O grande guru recebeu-me de
pijama e com os olhos remelentos.
O próprio turbante estava um
pouco amassado. Entre um bocejo e outro, ele pediu um real para
os pãezinhos e, depois, ordenou
que eu me sentasse:
- Ainda estou com sono, meu
rapaz. Espero que você não exija
muito de meus poderes a essa hora da madrugada.
- Eu gostaria de falar com
aquele que foi um dos maiores
craques da história da Lusa.
- Ah, bom. Nesse caso, o sono
até vai ajudar um pouco.
O mestre, então, inclinou-se sobre a mesa e começou a ressonar
baixinho. Depois de um forte ronco, ele se ergueu, foi até o quarto e
voltou fazendo embaixadinhas
com um despertador.
Eu perguntei:
- Quem és tu, alma do além?
E ele me respondeu:
- Meu nome é Enéas!
Por um segundo pensei que a televisão estivesse ligada no horário
eleitoral, mas logo notei que não
estava diante do candidato
Enéas, mas de Enéas de Camargo,
o habilidoso meia que fez história
jogando pela Lusa.
- Tudo bem com o senhor, senhor Enéas.
- Tudo, meu filho, mas o Senhor está aqui ao meu lado. Chame-me de Enéas. Ou de você.
- Eu gostaria de saber em que
clubes você jogou antes de vestir a
camisa da Lusa.
- Nenhum. Eu comecei a minha vida de jogador no Canindé.
- Pelas minhas anotações, você ficou lá de 1971 a 1979 e marcou
179 gols.
- Confere. E alguns foram
muito bonitos.
- Vi alguns jogos seus e achava
o seu futebol muito elegante.
- Se você está dizendo, quem
sou eu para falar o contrário...
- Mas você tinha fama de desligar do jogo, assim como Souza e
Alex hoje em dia.
- Digamos que eu poupava
energia para decidir o jogo num
lance só.
- Você também jogou no Bologna e no Palmeiras, certo?
- O Bologna não foi uma boa
experiência. Era um time médio,
e eu não tinha um bom jogador
para tabelar. Quanto ao Palmeiras, a fase por lá estava tão ruim
que qualquer um afundava. Depois disso, comecei aquele périplo
de fim de carreira da maioria dos
jogadores: fui para XV de Piracicaba, Juventude, Desportiva,
Ponta Grossa e Central de Cotia.
- Não é curioso que um craque
como você tenha conquistado
apenas uma taça na carreira?
- Meia taça, você quer dizer.
- É verdade, o seu único título
foi aquele Paulistão dividido com
o Santos em 1973.
- É, aquele em que o Armando
Marques errou a contagem dos
pênaltis e acabou nos favorecendo. Um erro de matemática foi a
maior glória da minha vida.
Estava me preparando para fazer mais uma pergunta quando o
mestre desabou de vez e começou
a roncar feito uma tempestade.
Pensei em acordá-lo, mas, antes
disso, Gulliver chegou da padaria
trazendo pãezinhos crocantes e
tomamos juntos um delicioso café
da manhã. Para distrair, ele ligou
a televisão e, bem naquela hora,
um candidato berrava:
- Meu nome é Enéas!
Que saudades do original...
Coração
O primeiro jogo entre um
grande jogador e sua ex-torcida é mais ou menos como o
primeiro encontro entre um
casal que se separou. Ela pensa: "Hum, ele está meio gordo". Ele se pergunta: "Será que ela sente a minha falta...?". Domingo, Ricardinho
viu a Fiel com namorado novo. Com dois gols, Gil deu um
grande passo para se tornar o
herdeiro do amor da Fiel.
Suor
Imagino que os jogadores
dos times que enfrentam o
Palmeiras devem lutar para
ver quem fica com a camisa
de Dodô. Ela já vem limpinha, sem uma gota de suor...
2 = 9
O 3-5-2 de Geninho deu mais
liberdade para Mancini e ele
está aproveitando. O ala-direito do Atlético-MG já fez
nove gols. Para comparar, os
vice-artilheiros do time, Marques e Paulinho, têm três.
E-mail torero@uol.com.br
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