São Paulo, quarta-feira, 01 de novembro de 2000

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Presidente da entidade pede apuração de brasileiros sobre caso de "gatos"

Joseph Blatter, depois de ameaças de punição ao futebol do país, irrita senadores e é convidado a dar explicações para o Congresso
CPI convoca Fifa, que já apóia investigação

JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
DO PAINEL FC

JOSÉ ALBERTO BOMBIG
ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Após ameaçar tirar o Brasil do Mundial de 2002, Joseph Blatter, presidente da Fifa, revoltou os integrantes da CPI do Futebol, instalada no Senado, que decidiram convidar o dirigente para depor.
O requerimento do senador Maguito Vilela (PMDB-GO), propondo o convite, foi aprovado ontem à tarde, por unanimidade.
Até a semana passada, não se cogitava ouvir o dirigente, que é suíço e não tem obrigação de aceitar o convite para depor.
Mas, para os membros da CPI do Senado, as declarações de Blatter à revista ""Época", com ameaças à participação do Brasil na próxima Copa, foram feitas para intimidar a comissão. Por isso mesmo, não poderiam ficar sem resposta, dizem eles.
"Senti nas declarações dele (Blatter) a arrogância típica do mundo do futebol", disse o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), presidente da comissão, que ontem ouviu o depoimento de Ricardo Liao, diretor do Departamento de Combate a Ilícitos Cambiais e Financeiros do Banco Central.
Ontem, no entanto, Joseph Blatter, antes de saber que havia sido convidado a depor na CPI, adotou um tom mais brando. Em e-mail enviado à Folha, por intermédio da assessoria de imprensa da Fifa, a entidade que comanda o futebol, ele defendeu as investigações na Câmara e no Senado.
Disse ser favorável às CPIs, já que elas ""podem investigar questões fora do alcance da Fifa, mas não das autoridades brasileiras".
Entre elas, citou a sonegação de impostos, o exame das contas dos clubes de futebol do país, possíveis irregularidades na transferência de jogadores para o exterior e o processo de fabricação de ""gatos", jogadores com idade adulterada, no Brasil.
Keith Cooper, responsável pelo departamento de comunicação da entidade, afirmou, em nome de Blatter, que ""desde o ano passado a Fifa vem dizendo que não cabe a ela investigar se um jogador brasileiro ou estrangeiro joga com documentos falsos".
""Os políticos têm agora uma oportunidade para descobrir como é feita a adulteração de documentos. Não houve indício algum de que tivesse (a fraude) participação da CBF, por isso a seleção brasileira não sofreu punição."
Ele lembrou ainda do caso de Wanderley Luxemburgo, ex-técnico da seleção, que também andava com documentos com idade falsa -nasceu em 1952 e não em 1955, como informava o passaporte do treinador. ""Cabe às autoridades brasileiras verificar fraudes como esta, porque a Fifa e a CBF não são polícia."
No e-mail, apesar de apoio às CPIs, a Fifa deixa claro, como havia dito à ""Época", que não aceitará interferência do Congresso brasileiro em sua área de atuação.
""Não tem sentido fazerem uma investigação sobre a Copa do Mundo da França no Brasil. Como não tem sentido o Congresso discutir mudanças nas regras do futebol. São atribuições da Fifa e da International Board (comitê que decide as regras do jogo)."
Além de Blatter, a CPI do Futebol confirmou que irá convocar Renata Alves, ex-assessora de Luxemburgo. Ela irá depor no dia 9.


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