São Paulo, quarta-feira, 01 de novembro de 2000

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FUTEBOL
A seleção de Leão

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Ronaldinho é a principal ausência da primeira lista de convocados do técnico Leão. Como todo jovem, ele tem alternado bons e maus momentos, ainda não é um craque, mas já mostrou talento para permanecer no time principal. Resta saber se ainda estaria de castigo por não ter brilhado na Olimpíada. Estranho.
As grandes novidades foram Adriano e Mineiro. A princípio, achei prematura a convocação do jogador do Flamengo, mas depois compreendi a ousadia do técnico. É preciso descobrir um excepcional centroavante, caso Ronaldo, da Inter de Milão, e Romário, do Vasco, não atuem na Copa.
Adriano é uma esperança.
Ele é diferente de todos os outros centroavantes. É forte, alto, cabeceia e finaliza bem e ainda sabe jogar como pivô, preparando as jogadas. Vale a pena investir no jogador.
Mineiro, da Ponte Preta, é um bom volante, pode brilhar na seleção, mas não justifica a ausência do Ricardinho, melhor jogador do Cruzeiro.
Gostei da ausência de muitos jogadores estrangeiros que vinham sendo convocados por Luxemburgo, como Evanílson, Zé Roberto, Flávio Conceição, Marcos Assunção, Sávio, Élber, Amoroso e outros. Nessa lista, incluiria o César Sampaio na função de volante, porque gostaria de vê-lo na posição de zagueiro.
Emerson, Roberto e Antônio Carlos, que não foram convocados, têm futebol para retornar. Contudo terão de resolver os problemas de contusão (Emerson), além de terem de tirar a máscara (Roberto e Antônio Carlos). Um leitor, com razão, disse-me que isso seria impossível: "Só existe um Roberto Carlos: o mascarado. Não existe outro".
O grande problema nas convocações da seleção brasileira é o número de bons jogadores com a mesma qualidade em quase todas as posições. Cada um tem sua preferência. Vamos aguardar e respeitar a escolha do treinador.
Assim como aconteceu com Luxemburgo, Leão receberá críticas e elogios nesse espaço, segundo a minha visão sobre o futebol e o comportamento do técnico na direção da equipe. Não sou contra nem a favor dos dois treinadores. Tento analisar o fato. Nada mais que isso.
Dos sete ou oito times praticamente classificados para a segunda fase da Copa João Havelange, somente Cruzeiro, São Paulo e Vasco eram favoritos. O fato confirma que o bom futebol espalhou-se pelo Brasil há muito tempo. Muitos, porém, ainda não perceberam.
Os jogadores dos tradicionais clubes brasileiros, principalmente os do Rio e de São Paulo, são mais famosos, ganham mais, mas nem sempre são os melhores. Isso explica a estranheza de alguns nomes -Bosco e Mineiro- na seleção brasileira. Outros "desconhecidos" poderiam ser chamados.
Quando uma equipe de centros menos valorizados ganha no Rio e em São Paulo, a vitória ainda é recebida com surpresa, o que não deveria acontecer.
Cruzeiro, Fluminense e São Paulo já estão classificados. Felipão mostra novamente que é o melhor e mais ousado técnico do futebol brasileiro. Desde a época do Grêmio, suas equipes pressionam e fazem vários gols. Muitos confundem a dura marcação do time com a violência.
O Fluminense, como o Cruzeiro, saiu da mesmice tática. A equipe não tem um centroavante fixo, mas joga com dois velozes atacantes (Magno Alves e Roni), partindo em diagonal, na direção do gol. Isso confunde o adversário.
O São Paulo é outra boa equipe. Levir Culpi, contudo, continua refém dos volantes Alexandre e Maldonado, estáticos, lentos e atuando em linha. Isso já era.
A Copa João Havelange vai melhorar na segunda fase, mas não vai empolgar. O momento é das CPIs. Paralela a elas, a Fundação Getúlio Vargas, por solicitação da CBF, prepara uma detalhada proposta de estruturação do futebol brasileiro. Portanto, ainda há esperanças de que o futebol brasileiro tome jeito. Tomara!
Hoje, o Cruzeiro novamente enfrenta o Palmeiras pela Mercosul. Em Ipatinga, o time jogou nitidamente para empatar e enfrentar o Verdão nas quartas-de-final.
Agora, tem a obrigação de eliminar seu rival, já que escolheu o adversário mais fraco. A descrença do Cruzeiro na capacidade do Palmeiras poderá estimular o time paulista.
Não agradou, mas muitos entenderam a postura do técnico e dos jogadores do Cruzeiro naquele jogo. Outros fariam o mesmo. É uma realidade.
Por outro lado, os torcedores presentes no estádio, em Ipatinga, vaiaram e sentiram-se desrespeitados com o desinteresse do Cruzeiro em vencer. Por esse e outros fatores é que o futebol está tão desacreditado no Brasil.
Essa é outra realidade.

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