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FUTEBOL
Frases lapidares
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Mortal leitora, efêmero leitor, não é necessário que eu
vos lembre de que um dia deixaremos este mundo.
É triste, mas é uma incontestável verdade (talvez a única). Porém nos resta um consolo: sempre
existirá uma voz para contar às
futuras gerações que tipo de pessoa fomos e que tipo de coisas fizemos. A voz do epitáfio.
Os gregos, que formaram a base
da nossa civilização, sabiam bem
disso e gostavam de deixar a memória de seus atos em verborrágicas inscrições.
Como estamos na véspera do
Dia de Finados, achei por bem
pesquisar os escritos de algumas
dessas lápides no livro "Mortorum parlantis", do célebre helenista americano K. Dave. R.
São epitáfios que, com uma ou
outra pequena adaptação, poderiam ser aproveitadas por personagens do nosso futebol.
Para não parecer que sou agourento e desejo falecimentos, não
colocarei aqui nomes, mas espaços em branco que podem ser
completados de acordo com a
vontade dos leitores:
Para um craque pouco modesto: "Eu sou ......., o mais glorioso
aos olhos do mundo e dos homens
sábios, e ai de quem não concordar comigo".
Para um atleta pouco higiênico:
"Aqui jaz a cabeça de ......., que
não mais pode assoar o nariz ou
cuspir no chão".
"Não é necessário saber meu
nome ou quem fui; saiba apenas
que eu desejo que morra todo
aquele que passar pela minha
tumba." Esta é boa para um atacante vingativo.
"Eu tenho aqui comigo tudo o
que comi e bebi, mas deixei para
trás todas as minhas posses: um
pouco para os filhos, um pouco
para as esposas, muito para as
amantes..." Para aqueles jogadores que aproveitaram a noite, antes de adentrar na noite eterna.
Tumba oferecida pela torcida a
um cartola corrupto: "Aqui embaixo está ..... Apesar de ele estar
escondido sob a terra onde ninguém o vê, a Justiça Divina sabe
tudo o que aconteceu".
Idem: "Nosso presidente, que viveu mais de 80 anos, agora é apenas um cadáver sob esta lápide.
Mas antes tarde do que nunca".
"Isto é o que sobrou do corpo de
........ Aqui está a cabeça sem dentes e sem cabelo, ali, os cinco dedos de uma das mãos. Logo do
outro lado, os pés e, mais adiante,
as pernas com hematomas. Abençoai os guerreiros." Sob medida
para os atacantes que sofreram
com a violência dos zagueiros.
"Aqui descansa alguém que foi
um ninguém." Para os jogadores
que jamais fizeram sucesso.
"...... foi para o estádio mais
uma vez para ver seu time jogar.
Depois de mais uma derrota e,
por causa disso, cheio de tristeza,
achou melhor ir para o Hades. Este grande memorial serve apenas
para mostrar seu amor não correspondido." Ideal para os torcedores de times que não ganham
campeonatos.
Para os que não conheceram a
lei do passe livre: "......., que foi escravo apenas no corpo, agora finalmente é livre para jogar em
qualquer time dos céus".
Para os craques: "Esta tumba
pertence a ...., grande jogador que
morreu muito velho, mas que deveria ter vivido milhares de
anos".
Para atletas evangélicos: "Aqui
descansa ......, que, antes mesmo
de morrer, já era atleta de Cristo".
Para os juízes ladrões: "Aqui está o corpo de ........ Por favor, não
urine sobre a tumba".
Para os comentaristas de futebol: "Aqui jaz ......, enfim calado".
Presidentes
Há algum tempo, o leitor
Roosevelt Barbosa mandou-me esta seleção chamada "Eu
tentei", formada por jogadores com nomes de políticos
que tentaram a presidência,
mas nunca conseguiram. No
gol estaria Barbosa (Rui, eleições de 10 e 20, e Vasco). Na
defesa, Ronaldo (Caiado,
1989, e Santos na década de
90), Henrique (Lott, eleições
de 60 e Corinthians na década de 90), Ulisses (Guimarães
em 89 e Portuguesa nos anos
60) e Pedrinho (Aleixo, golpe
de 68, e Palmeiras, anos 80).
No meio-campo teríamos:
Fernando (o Gabeira de 89 e
o do Juventude), Enéas (o
Carneiro e o da Portuguesa) e
Mário (Covas e Fluminense).
No ataque, Julinho (Prestes,
golpe de 30, e Palmeiras, década de 60), Guilherme (Afif,
1989, e Corinthians). Na ponta esquerda, Roosevelt soube
ver o futuro e não escalou Lula, do Internacional, mas Roberto (Freire e Vasco).
E-mail torero@uol.com.br
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