São Paulo, segunda-feira, 01 de novembro de 2004

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FUTEBOL

O espetáculo continua

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

O Santos fez cinco, mas poderia ter feito sete ou oito. A fragilidade defensiva do Fluminense chegou a comover: além de dar demasiado espaço para os perigosos atacantes santistas, os zagueiros tricolores contribuíram de forma mais direta, com uma "assistência" e um gol contra.
Dá até a impressão de que o time das Laranjeiras entrou em campo embriagado pela goleada do meio da semana, sobre o Juventude.
O técnico Alexandre Gama escalou uma equipe ofensiva, com apenas um autêntico volante (Marciel), sem se preocupar em proteger devidamente uma zaga improvisada e jovem, que nunca tinha jogado junto. Resultado: Robinho, Deivid e companhia deitaram e rolaram.
Não foi por acaso que os torcedores de São José do Rio Preto, onde a partida foi realizada, pediram para o Santos voltar a atuar na cidade. Contra um adversário frouxo, o time da Vila é garantia de bom espetáculo.
 
Muito mais dramática e conturbada foi a vitória de virada do Palmeiras sobre o Grêmio.
Não costumo comentar arbitragens -terreno pantanoso, em que é fácil, diante da profusão de "replays" de todos os ângulos, julgar a posteriori erros cometidos por árbitros e auxiliares no calor da hora-, mas não há como negar que o time gaúcho foi seriamente prejudicado em Pelotas.
Com um atleta a menos desde a metade do primeiro tempo, o Grêmio resistiu bravamente ao maior volume de jogo alviverde até a dez minutos do final, quando, em poucos instantes, o juiz validou um gol de mão de Claudecir e expulsou o goleiro gremista.
O duplo golpe foi fatal para os gaúchos. Com dois a menos e o zagueiro Fábio Bilica improvisado no gol, a derrota acabou chegando de modo inexorável.
Na posição delicadíssima em que se encontra o Grêmio, é previsível que os protestos continuem por muito tempo ainda, mas com poucas chances de uma reviravolta. Se o tricolor gaúcho for de fato rebaixado, como parece provável, seus torcedores reclamarão em vão até o fim dos tempos. Triste futebol.
 
O São Paulo marcou passo na rodada, ao perder do Figueirense, e viu suas aspirações ao título minguarem drasticamente. Precisa abrir o olho para não perder também a vaga na Libertadores, pois o São Caetano e o Juventude estão "fungando no seu cangote".
O magro triunfo do Corinthians sobre o Vitória, por sua vez, mantém um fio de esperança alvinegra na classificação para a Libertadores. Mas, cá entre nós, se o time chegar lá (o que é muito difícil), precisará melhorar muito seu elenco e seu futebol para não fazer feio no torneio continental.
 
Tudo bem que os dois gols de anteontem foram de pênalti, mas, aparentemente, o coração do artilheiro Washington vai bem, obrigado.

Errei
Na atabalhoada coluna de sábado, atribuí a Sartre uma frase do filósofo alemão Theodor Adorno, como notaram vários leitores atentos. A afirmação, extraída de "Crítica Cultural e Sociedade", é a seguinte: "Escrever um poema depois de Auschwitz é um ato de barbárie".

Erraram?
Cinco dias depois da morte de Serginho, as coisas começam a se esclarecer. Os médicos sabiam do grave problema cardíaco do jogador. O próprio atleta, como mostra a excelente reportagem de Fabio Victor ontem neste caderno, também sabia dos riscos que corria e, mesmo assim, quis continuar a jogar. Deveria ter sido impedido? Existiria algum meio de garantir uma vida digna à sua família que evitasse o seu martírio?

E-mail jgcouto@uol.com.br


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