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FUTEBOL
O espetáculo continua
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
O Santos fez cinco, mas poderia ter feito sete ou oito. A
fragilidade defensiva do Fluminense chegou a comover: além de
dar demasiado espaço para os perigosos atacantes santistas, os zagueiros tricolores contribuíram
de forma mais direta, com uma
"assistência" e um gol contra.
Dá até a impressão de que o time das Laranjeiras entrou em
campo embriagado pela goleada
do meio da semana, sobre o Juventude.
O técnico Alexandre Gama escalou uma equipe ofensiva, com
apenas um autêntico volante
(Marciel), sem se preocupar em
proteger devidamente uma zaga
improvisada e jovem, que nunca
tinha jogado junto. Resultado:
Robinho, Deivid e companhia
deitaram e rolaram.
Não foi por acaso que os torcedores de São José do Rio Preto,
onde a partida foi realizada, pediram para o Santos voltar a
atuar na cidade. Contra um adversário frouxo, o time da Vila é
garantia de bom espetáculo.
Muito mais dramática e conturbada foi a vitória de virada do
Palmeiras sobre o Grêmio.
Não costumo comentar arbitragens -terreno pantanoso, em
que é fácil, diante da profusão de
"replays" de todos os ângulos, julgar a posteriori erros cometidos
por árbitros e auxiliares no calor
da hora-, mas não há como negar que o time gaúcho foi seriamente prejudicado em Pelotas.
Com um atleta a menos desde a
metade do primeiro tempo, o Grêmio resistiu bravamente ao
maior volume de jogo alviverde
até a dez minutos do final, quando, em poucos instantes, o juiz validou um gol de mão de Claudecir
e expulsou o goleiro gremista.
O duplo golpe foi fatal para os
gaúchos. Com dois a menos e o
zagueiro Fábio Bilica improvisado no gol, a derrota acabou chegando de modo inexorável.
Na posição delicadíssima em
que se encontra o Grêmio, é previsível que os protestos continuem
por muito tempo ainda, mas com
poucas chances de uma reviravolta. Se o tricolor gaúcho for de fato
rebaixado, como parece provável,
seus torcedores reclamarão em
vão até o fim dos tempos. Triste
futebol.
O São Paulo marcou passo na
rodada, ao perder do Figueirense,
e viu suas aspirações ao título
minguarem drasticamente. Precisa abrir o olho para não perder
também a vaga na Libertadores,
pois o São Caetano e o Juventude
estão "fungando no seu cangote".
O magro triunfo do Corinthians
sobre o Vitória, por sua vez, mantém um fio de esperança alvinegra na classificação para a Libertadores. Mas, cá entre nós, se o time chegar lá (o que é muito difícil), precisará melhorar muito seu
elenco e seu futebol para não fazer feio no torneio continental.
Tudo bem que os dois gols de
anteontem foram de pênalti, mas,
aparentemente, o coração do artilheiro Washington vai bem,
obrigado.
Errei
Na atabalhoada coluna de sábado, atribuí a Sartre uma frase do
filósofo alemão Theodor Adorno, como notaram vários leitores atentos. A afirmação, extraída de "Crítica Cultural e Sociedade", é a seguinte: "Escrever
um poema depois de Auschwitz é um ato de barbárie".
Erraram?
Cinco dias depois da morte de
Serginho, as coisas começam a
se esclarecer. Os médicos sabiam do grave problema cardíaco do jogador. O próprio
atleta, como mostra a excelente
reportagem de Fabio Victor ontem neste caderno, também sabia dos riscos que corria e, mesmo assim, quis continuar a jogar. Deveria ter sido impedido?
Existiria algum meio de garantir uma vida digna à sua família
que evitasse o seu martírio?
E-mail jgcouto@uol.com.br
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