|
Texto Anterior | Índice
FUTEBOL
Não era o que você queria?
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
"Cuidado com o que você
quer, porque pode acabar
conseguindo". A frase brilhante,
cuja origem desconheço (tenho
certeza de que os leitores vão me
socorrer), parece se aplicar perfeitamente à fórmula do Brasileiro-2003, em turno, returno e pontos
corridos. Muita gente que sempre
defendeu esse formato confessou
estar em dúvida, depois dos emocionantes mata-matas de 2002.
Eu entendo a hesitação, mas
não podemos esquecer que os mata-matas foram muito excitantes
graças às circunstâncias e não à
fórmula em si. Poderíamos ter tido jogos chochos, amarrados,
com cautela excessiva de um lado
ou de outro. Já aconteceu muito: o
time com a vantagem do empate
faz o jogo de ida pensando que 1 a
0 é lucro e se preocupa mais com a
marcação do que com o ataque.
Não é a melhor das estratégias,
não rende grandes espetáculos,
mas às vezes funciona.
Na volta, o mandante tenta um
golzinho sem muita volúpia, ampliando sua vantagem, defende-se até o fim e garante a vaga para
a fase seguinte (ou a taça).
Mas, quando Santos e São Paulo - os dois times que mais vezes
deram espetáculo neste Brasileiro- enfrentaram-se logo nas
quartas-de-final, apimentaram a
disputa. Jogando aquilo tudo na
Vila Belmiro e abrindo boa vantagem em um jogo que poderia
ser muito equilibrado, o Santos
esquentou ainda mais aquela fase. Enquanto isso, o Corinthians
goleava o Atlético como nem o corintiano mais otimista ousaria
prever (o que, por outro lado,
transformou o jogo de volta quase
em um "cumprir tabela").
Não preciso refazer todos os
passos, ainda está tudo muito
fresquinho. Mas é importante
lembrar que o campeonato inteiro foi mais emocionante do que se
esperava graças aos times e não à
fórmula (que, na primeira fase, é
de pontos corridos...). A tabela foi
aquela bagunça de praxe, com
desigualdade no número de jogos
disputados e desequilíbrio na distribuição dos mandos (a Lusa,
por exemplo, emendou quatro jogos como visitante).
A arbitragem teve mil problemas e o Tribunal de Justiça Desportiva teve lá suas decisões incompreensíveis (como os 20 dias
de suspensão para Renato Gaúcho). Tudo "como sempre".
Mesmo assim, o Brasileiro foi
bom, e por quê? Porque bons jogadores foram revelados, porque
nenhum time se distanciou cedo
demais na liderança, porque
muitos disputaram uma vaga na
segunda fase até a última rodada,
porque quatro seriam rebaixados
e havia, entre os ameaçados, vários "grandes".
A maior "diversão" em rodadas
pouco expressivas era acompanhar o martírio do Palmeiras...
No campeonato mais longo, é
importante que haja estímulo para os seis primeiros, no mínimo,
para o pelotão intermediário não
se desmotivar logo. Mas com os
três pontos por vitória, em poucas
rodadas um time pode inverter
toda a classificação. Não vai ser
fácil relaxar.
Quanto à falta de uma final...
Bem, concordo que esse ponto
merece um capítulo à parte. Ouvindo e lendo outras opiniões (como a de Renato Maurício Prado,
em "O Globo"), revi alguns conceitos. Voltarei a isso depois.
Enfim, o Brasileiro-2003 pode
ser emocionante ou monótono,
mas precisamos ter cuidado antes
de dizer que a culpa (ou mérito) é
da fórmula de disputa. Senão,
ainda vamos chegar à conclusão
de que o futebol brasileiro é bom
porque é bagunçado!
Homenagem
Volta e meia alguém reclama
da atenção demasiada que se
dá ao futebol; da movimentação de torcedores para reclamar de uma convocação para
a seleção ou do desempenho
dos seus times: "Se essas pessoas se mobilizassem assim
para reivindicar seus direitos...". Então vai aí uma sugestão para as torcidas: sabe
aquelas notas que vocês costumam imprimir para "homenagear" os jogadores que
consideram mercenários,
traidores, etc.? Que tal encomendar uma série ilustrada
com a imagem genérica do
"deputado em quem você
não vai votar novamente",
em protesto contra o aumento dos seus vencimentos?
Que se deu "dentro da Constituição", como fazem questão de dizer -embora aquele
seu direito à educação e saúde, também previsto na
Constituição, dependa de haver recursos no orçamento...
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
Texto Anterior: Ação - Carlos Sarli: Fundo demais Índice
|