São Paulo, sexta-feira, 02 de janeiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

Cortado da Olimpíada de 88, técnico vai ao ataque para chegar a Atenas

Gomes ousa com a sub-23 para curar trauma de Seul

SÉRGIO RANGEL
DA SUCURSAL DO RIO

Além de colocar a seleção sub-23 nos Jogos Olímpicos de Atenas-2004, o técnico Ricardo Gomes, 39, embarca hoje para o Chile com a missão de apagar uma frustração na sua carreira: não ter disputado uma Olimpíada.
Em 1988, o ex-zagueiro foi cortado da seleção às vésperas do embarque da delegação para a disputa dos Jogos de Seul, na Coréia do Sul. Os dirigentes do Benfica, de Portugal, não aceitaram liberá-lo para a disputa da competição, na qual o Brasil foi vice.
""Aquilo foi duro. Agora, vou fazer de tudo para estar em Atenas nos próximos meses", afirmou o treinador, capitão da seleção na Copa de 90, que foi cortado da disputa da Copa de 94 poucos dias antes do início da competição nos EUA. Ele foi obrigado a deixar o grupo que seria tetra por causa de uma contusão.
Em entrevista exclusiva concedida à Folha, Gomes também explica os motivos que o levaram a escalar um time ousado para o Pré-Olímpico, afirma que o torneio no Chile será mais difícil do que o dos Jogos na Grécia e garante que vai levar os três jogadores com idade acima de 23 anos para a Olimpíada. Leia a seguir os principais trechos da entrevista:

Folha - Além da missão profissional, a Olimpíada tem um significado especial para você?
Ricardo Gomes -
Claro. Em 1988, fiquei de fora dos Jogos de Seul por determinação do Benfica, clube pelo qual jogava. Foi uma frustração muito grande na minha carreira. Eu e o Valdo [jogador do Botafogo] tivemos que obedecer o nosso clube e ficar de fora. Foi muito chato. Por isso, disputar a Olimpíada de Atenas será especial para a minha carreira.

Folha - Apesar de você não ter conseguido todos os atletas que queria, o time é forte e experiente [nove atletas já conquistaram o Brasileiro]. A seleção é favorita?
Gomes -
Não. As competições sul-americanas são muito complicadas. Para se ter idéia, a seleção principal só foi conseguir a vaga para a Copa de 2002 no último jogo das eliminatórias. A rivalidade no continente é muito grande. O jogo aqui é disputado a cada centímetro. Na Europa, isso já não acontece. A diversidade técnica lá é bem maior.

Folha - Então, você acredita que a Olimpíada será mais fácil do que o Pré-Olímpico?
Gomes -
Com certeza. Lá, vamos ter adversários de todo o mundo, de algumas regiões onde o futebol não é tão forte.

Folha - Apesar dos poucos treinos e jogos, você está surpreendendo por escalar um time ofensivo, com três atacantes...
Gomes -
Não tem ousadia. As caraterísticas desse grupo me levam a armar o time assim. Apesar de contar com quase quatro atacantes [o meia Diego também chega no ataque], a equipe está equilibrada. Os atacantes voltam para ajudar na marcação. Com a bola nos pés, todos têm que atacar mesmo. Será assim.

Folha - Se o Brasil conquistar a vaga olímpica, você vai convocar os três atletas com mais de 23 anos?
Gomes -
Vou utilizar sempre o melhor. Não posso abrir mão desses três atletas. Além disso, já sei que o Ronaldo, o Ronaldinho, o Rivaldo, o Dida, o Marcos, o Roberto Carlos e o Gilberto Silva, entre outros, já manifestaram vontade de jogar na Grécia. É bom saber disso. Problema seria se tivesse que comandar uma seleção de um país sem bons jogadores.

Folha - O Parreira e o Zagallo já disseram que não vão ao Chile. Mesmo de longe, eles terão interferência no seu trabalho?
Gomes -
Sempre trocamos muitas informações sobre as seleções [Ele já foi espião da seleção principal nas eliminatórias]. Mas, no Chile, não tem nada acertado. Vou ter autonomia total. Vou fazer o meu trabalho apenas com a minha equipe. Quando fui convocado [pela CBF] para comandar o time, era para ser assim. Agora, não será diferente.


Texto Anterior: Atletismo: Iaaf age para elaborar um ranking das provas de rua
Próximo Texto: Técnico viaja sem seu time ideal
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.