São Paulo, quinta-feira, 02 de março de 2000


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COI perde queda-de-braço com a Fifa


Além de não contar com maior participação de atletas acima de 23 anos, Sydney deve ter o torneio do esporte mais popular do mundo com seleções reunidas às pressas e desentrosadas


MARCELO DAMATO
da Reportagem Local

O COI (Comitê Olímpico Internacional) sofreu ontem uma derrota na tentativa de aumentar o prestígio do futebol nos Jogos de Sydney, em setembro.
Numa reunião na sede da entidade, em Lausane (Suíça), com a cúpula da Fifa, o presidente do COI, Juan Antonio Samaranch, não só não conseguiu nenhuma concessão sobre a formação das equipes, como viu surgir uma séria ameaça de que o torneio olímpico seja apenas um confronto de equipes improvisadas.
Na saída da reunião, o presidente da Federação Internacional de Futebol Association, Joseph Blatter, anunciou que vai propor ao comitê executivo da entidade o adiamento do dia-limite em que os jogadores terão que se apresentar a suas seleções.
Até ontem, a Fifa defendia que os clubes teriam que ceder seus jogadores 15 dias antes da estréia de cada seleção na Olimpíada.
Ontem, Blatter defendeu a redução desse prazo para apenas cinco dias. Como quase um dia será gasto na viagem à Austrália, as seleções terão só quatro dias de preparação.
Nessa hipótese, as 16 seleções que irão tentar a conquista da medalha de ouro se enfrentarão quase sem treinamento prévio.
A proposta de Blatter será votada na próxima reunião do comitê executivo da Fifa, nos dias 23 e 24 deste mês, em Zurique.
Como a Europa, favorável à proposta, detém 8 dos 24 assentos do comitê, a idéia dificilmente será rejeitada -e, em caso de empate, é o voto do dirigente suíço vai decidir.
O torneio de futebol acontecerá de 13 (antevéspera da abertura oficial) a 30 de setembro em cinco cidades: Sydney, Melbourne, Brisbane, Canberra e Adelaide.
As seleções já classificadas são Brasil, Chile, Coréia do Sul e Japão. Na Europa, que disputa a competição com equipes sub-21, a definição acontecerá no final deste semestre no Campeonato Europeu da categoria.
Cada equipe poderá inscrever 18 jogadores, 15 dos quais obrigatoriamente nascidos a partir de 1º de janeiro de 1977.
O COI queria que a Fifa aumentasse o número de jogadores com mais de 23 anos, para aumentar o número de estrelas desse esporte em Sydney.
Mas a Fifa deixou claro que a prioridade para ela neste momento é aplacar a pressão dos grandes clubes europeus, que formam o grupo G-14 e que a cada dia fazem mais exigências, sob a ameaça de deixar a estrutura do futebol mundial e criar uma liga européia independente.
""Nossa intenção é evitar qualquer outro conflito entre clubes e seleções", declarou o presidente da Fifa, Joseph Blatter.
Um diretor do COI, Franco Carraro, sugeriu a suspensão das ligas nacionais na Europa. Mas isso depende também da Uefa, entidade que organiza a Liga dos Campeões.
Boa parte do problema do torneio de futebol foi causada pela data de disputa da Olimpíada de Sydney, a segunda metade de setembro. Nessa época, todas as ligas nacionais da Europa estão em andamento.
Para evitar a repetição desse problema nos Jogos Olímpicos de 2004, em Atenas (Grécia), Samaranch anunciou que a competição deverá ser realizada na segunda metade de julho, 14 dias depois do inicialmente previsto.
As entidades também concordaram em aumentar os fundos do programa Solidariedade Olímpica, promovido pelo COI, para o futebol. Nos últimos oito anos, apenas US$ 3,3 milhões foram gastos pelo programa nesse esporte. Esse valor é menos do que 1% do que a Fifa gasta anualmente num programa equivalente.

Confronto
A melhoria do torneio olímpico de futebol é o maior desafio do COI no campo esportivo.
Esse é o único esporte de difusão mundial, além do boxe, que não leva seus principais ídolos à Olimpíada. Até mesmo no basquete, hóquei sobre o gelo e beisebol, a participação dos profissionais já é permitida. Nos dois primeiros, isso já vem acontecendo. Em Sydney, os atletas da liga profissional norte-americana de beisebol serão bem-vindos, embora ainda não esteja certo quem irá.
Mas nenhum esporte, exceto o futebol, possui um Campeonato Mundial que rivaliza com os Jogos Olímpicos em dinheiro movimentado e interesse do público.
Se conseguisse fazer do torneio do futebol uma minicopa do mundo, o COI teria praticamente duas Olimpíadas numa.
E é por isso que a Fifa resiste em aceitar esse plano. A entidade quer continuar a controlar a mina de ouro em que o futebol se transformou.
Outro motivo é que o COI distribui aos comitês olímpicos nacionais a maior parte do dinheiro que arrecada com a Olimpíada.
As federações internacionais de cada esporte recebem bem menos. Para a Fifa, que tem um orçamento anual de centenas de milhões de dólares, o dinheiro que recebe do COI é irrisório.
Com a crescente pressão dos clubes sobre a Fifa e o plano de Blatter de fazer uma Copa do Mundo a cada dois anos, o mais provável é que o torneio olímpico vire uma competição de jovens.


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