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São Paulo, domingo, 02 de março de 2003

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ADMINISTRAÇÃO

Comitê cessou pagamentos em agosto, e entidades protestam

Repasse da Lei Piva divide dirigentes paraolímpicos

DA REPORTAGEM LOCAL

Os recursos da Lei Piva que serviriam para ajudar o esporte paraolímpico do Brasil geraram, na última temporada, um grande racha interno entre os dirigentes que comandam a modalidade .
O Conselho Deliberativo do Comitê Paraolímpico Brasileiro, formado basicamente pelos integrantes das cinco associações nacionais, determinou, no início de 2002, que cada entidade teria direito a 13% do total repassado pela Lei Piva -cerca de 1,17 milhão- para utilizar em fomento e desenvolvimento de esportes em suas respectivas searas.
Os recursos seriam creditados mês a mês para as associações. Mas, em agosto, os depósitos cessaram, o que surpreendeu os presidentes das instituições. "O CPB não cumpriu o que estava acordado com o Conselho Deliberativo. Ficamos sem receber a maior parte do que havia sido determinado em 2002. Sustentei minha entidade com recursos próprios", afirmou Ivaldo Brandão, presidente da Associação Nacional de Desporto para Deficientes.
Para se adequar aos cortes estipulados pelo comitê, algumas entidades cancelaram compromissos agendados para 2002, caso da Associação Brasileira de Desporto para Amputados.
"Eu havia marcado um campeonato de natação para novembro do ano passado, mas fui obrigado a transferir para essa temporada. Sem a verba da Lei Piva, fica difícil cumprir nosso calendário", afirmou José Alaor Boschetti, que coordena as ações da ABDA.

Justificativa
Vital Severino Neto, presidente do CPB, explicou que parou de repassar a maior parte da verba às associações porque estava correndo o risco de "fechar as portas".
"Eles [os presidentes das associações] fizeram um acordo no Conselho Deliberativo, mas reservaram uma verba muito pequena ao comitê. Do jeito que a coisa estava caminhando, eu não conseguiria manter o expediente e cuidar de todos os atletas como pretendia", disse Severino Neto.
O presidente diz que, como responsável direto pelo uso dos recursos da Lei Piva, tinha o direito de interferir e evitar problemas.
"Sou o presidente do CPB. As cobranças sobre a forma como a verba pública foi aplicada recaem sempre sobre mim. Tenho o direito de mudar o rumo das coisas", completou o dirigente.
O embate que ganhou maiores proporções ocorreu com a Associação Brasileira de Desporto em Cadeira de Rodas. Ciraldo de Oliveira Reis, presidente da instituição, chegou a acionar a Justiça para obter os recursos que estavam acordados com o Conselho Deliberativo. "Eu já tinha me comprometido com alguns atletas e resolvi lutar pelo meu montante", conta Reis.
Ele obteve uma liminar que assegurou o repasse de parte da verba anteriormente acordada com o CPB, mas sua disputa com o comitê não parou por aí.
A Abradecar travou também uma batalha judicial a fim de recuperar uma parceria que resultava na produção de uma revista mensal de esportes para praticantes que utilizam cadeira de rodas, batizada de "Toque a Toque".
Segundo acordo firmado em 2002, o comitê repassaria mensalmente cerca de R$ 8.000 à Abradecar para a confecção da publicação. Mas, com a alegação de que o CPB voltaria a produzir seu próprio veículo de comunicação -uma revista de nome "Brasil Paraolímpico", relançada em outubro do ano passado-, o convênio foi cancelado.
"Voltei a entrar na Justiça, ganhei e consegui tocar nossa publicação, explicou Reis.
Severino Neto afirmou que interrompeu a cessão de recursos porque a "Toque a Toque" "sempre sobreviveu com recursos próprios" e a prestação de contas da revista "estava incorreta."
(GUILHERME ROSEGUINI)


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