São Paulo, quinta-feira, 02 de março de 2006

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COPA 2006

Por patrocinador, seleção congela o futebol a -17° C

Gol acidental de Ronaldo assegura vitória por 1 a 0 sobre a Rússia, em amistoso que pouco ajudou preparação do time, encerrou testes antes da convocação e valeu R$ 3,2 mi à AmBev

PAULO COBOS
ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU

Pés e mãos congelaram, e a seleção fez ontem uma das partidas mais frias da era Carlos Alberto Parreira na vitória sobre a Rússia, por 1 a 0, no estádio Lokomotiv, em Moscou. Nunca o time nacional havia jogado com uma temperatura tão baixa -os termômetros variaram entre -10C e -17°C.
Com luvas, camisas térmicas e proteção para o pescoço, o Brasil só marcou em um gol meio sem querer de Ronaldo. O time, segundo o Datafolha, finalizou só dez vezes, ou sete a menos do que o habitual com Parreira.
E a sensação foi a de que o jogo só valeu para atender a interesses comerciais. O time estava sem quatro titulares, jogou o segundo tempo esfacelado e encontrou rival e clima que não vão se repetir na Copa da Alemanha.
Até o próprio treinador decretou a nulidade do amistoso para o conceito dos jogadores. "Ninguém vai ser convocado ou deixado de fora pelo que aconteceu nesse jogo", prometeu Parreira.
Negociado pela AmBev (por força do contrato com a CBF), que passou recentemente a comercializar uma de suas cervejas na Rússia e recebeu cerca de R$ 3,2 milhões pela partida, o jogo de ontem ainda aconteceu em um estádio com gramado precário (lama era uma coisa comum) e muitos lugares vazios -os organizadores haviam dito na véspera que todos os ingressos para o confronto estavam vendidos.
O gélido ambiente causou cenas raras. Reservas e comissão técnica ficaram no banco, tomado por uma grossa camada de gelo, protegidos por cobertores. Alguns dos integrantes do estafe brasileiro se impressionavam com a temperatura apontada por termômetros digitais, que são pouco precisos e chegaram a apontar quase -30°C. As cadeiras das arquibancadas também tinham gelo. Jogadores substituídos, como Ronaldo, preferiram ir para o vestiário a ficar o resto da partida com os companheiros no banco.
Ao final do duelo em Moscou, funcionários da CBF apressavam Parreira e os jogadores nas entrevistas coletivas para que o grupo voltasse logo ao hotel.
Depois de passar dias defendendo o acerto do amistoso, o próprio Parreira reconheceu que o ambiente não era bom para se jogar futebol -nem o Campeonato Russo tem jogos marcados para esta época do ano. "O clima e o gramado atrapalharam bastante", disse o treinador, que fez seis substituições no segundo tempo e viu seu time ficar ainda pior.
Nos primeiros 45 minutos, o Brasil, que estreava nova camisa, foi pouco ameaçado e contou com a sorte para marcar.
Aos 15min, Roberto Carlos deu um chute pouco pretensioso da intermediária, a bola desviou no corpo de Ronaldo, que tentou sair da trajetória da bola, e enganou o goleiro Akinfeev. "Acho que o gol foi meu, a bola bateu em mim. Tenho certeza de que o Roberto Carlos não vai se importar com isso", disse Ronaldo após a partida.
Foi apenas o terceiro tento do atacante em 2006 -Adriano, seu companheiro de ataque e de má fase, novamente ficou em branco.
Na segunda metade do jogo, a Rússia criou várias chances, principalmente depois que Roberto Carlos saiu para a entrada de Gustavo Nery, que deixava muito espaço para os contra-ataques pelo lado esquerdo. Foi a vez de Rogério salvar a seleção.
O goleiro, que vinha sendo preterido das convocações, fez três defesas difíceis e assegurou o 1 a 0 para o time brasileiro, que no final teve um gol anulado -a arbitragem assinalou impedimento.
O time só volta a se reunir agora para os treinos visando a Copa -primeiro, na cidade suíça de Weggis e, depois, na Alemanha. A convocação será em 15 de maio.
Antes da estréia no Mundial, contra a Croácia, no dia 13 de junho, em Berlim, o time faz dois amistosos. Um será contra a Nova Zelândia. O outro ainda não tem adversário definido pela CBF.


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