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FÁBIO SEIXAS
Dez anos
Em 1997, a Indy florescia na
tentativa de conquistar o
mundo; a atual Champ Car,
hoje, é sucessão de fracassos
DO TERRAÇO sobre a sala de
imprensa de Homestead, tudo parecia excessivamente
rápido, absurdamente confuso, tremendamente confiante. E, sendo
franco, verde-amarelo demais.
Eram sete os brasileiros largando
na prova de abertura da Indy naquele 2 de março de 1997. Gugelmin, Gil,
Boesel, Christian, Gualter, Ribeiro e
Moreno. Na preliminar, a Indy
Lights, havia outros seis: Kanaan,
Castro Neves, Da Matta, Daré, Garcia Jr. e Paese -um sétimo, Negri, se
juntaria à trupe na segunda etapa.
Era um recorde. E carenagens e
capacetes estampavam isso: marcas
brasileiras de cigarro, cerveja, escola
de informática e "empresas" suspeitas que até hoje não desvendei.
Nos EUA, a categoria também era
uma festa. O grid tinha o "Schumacher da Indy", Zanardi, que ganhava
tudo. Tinha o promissor Moore, dono do capacete mais bonito que já vi
e que chegava aos circuitos num
Ford Cobra azul escuro. Tinha Vasser, que enchia a cara de caipirinha
nas feijoadas patrocinadas pela
Brahma, com direito a show de mulatas. E tinha os veteranos de sempre, Andretti, Unser Jr., Rahal...
Tudo parecia conspirar a favor.
Por aqui, a F-1 patinava nas mãos de
Barrichello e ainda era tachada de
assassina por muitos. Ribeiro havia
vencido a prova inaugural da Indy
no Rio, no ano anterior, e Emerson,
recuperando-se do "pancão" em Michigan, falava em voltar e alardeava
outra prova no país -em Salvador.
Por lá, havia uma sensação de superioridade. A IRL era tratada como
birra passageira do mimado herdeiro de Indianápolis, que logo voltaria,
rabo entre as pernas. Eram quatro
as marcas de chassi: Reynard, Lola,
Swift e Penske. E quatro as fábricas
de motores: Mercedes-Benz, Ford,
Honda e Toyota.
Há exatos dez anos, naquele 2 de
março, a Indy florescia. Mais: arrancava para um campeonato que soava
como o ataque derradeiro no seu
projeto de conquistar o mundo.
Fast forward. Neste 2 de março, o
que restou daquela Indy chama-se
Champ Car -urgh! Ninguém sabe
quantos e quais pilotos estarão alinhados no grid em Las Vegas, em 8
de abril. Na última sessão de testes,
15 pilotos, apenas um brasileiro,
Bruno Junqueira. Que não quer ficar por lá. Há só um chassi, Panoz, e
um só motor, Ford.
O que deu errado? Muita coisa.
Mas o pecado fatal foi ter virado as
costas para o mercado americano.
Os dias festivos são passado distante, já esfarelado na memória. Entre os brasileiros da turma de cima,
só Gualter, Boesel e Christian ainda
correm regularmente, na Stock.
Castro Neves e Kanaan brilham
na IRL. Da Matta tenta voltar após o
acidente grave do ano passado. Zanardi perdeu as pernas, Moore morreu em Fontana, Andretti aposta tudo em seu filho.
Ah, sim... Aquela foi minha primeira vez numa corrida com uma
credencial no pescoço. Mas isso não
tem a menor importância.
SINTOMA
A maior prova do fracasso da
Champ Car chama-se Sébastien
Bourdais. O francês, tricampeão na
categoria, não consegue nem vaga
de piloto de testes na F-1. Hoje, engrossa a fila do desemprego.
VANTAGEM
O tira-teima que faltava veio no
Bahrein. Na terça, Raikkonen testava o novo pacote aerodinâmico
da Ferrari, e Massa ficou à frente.
Na quarta, a experiência foi para o
brasileiro, que continuou à frente.
A situação, claro, pode mudar. Mas
o cenário para o início de Mundial
da Ferrari já parece bem claro.
CINZA
O exemplo dado pela Honda é válido. Mas a F-1 ainda tem um enorme caminho para se classificar de
"esporte verde". Caminho que passa pela questão do combustível.
fseixas@folhasp.com.br
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