São Paulo, segunda, 2 de março de 1998

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Derrota tricolor pode se tornar uma vitória

ALBERTO HELENA JR.
da Equipe de Articulistas De um lado, o tricolor amargurado consola-se com a certeza de que seu time perdeu por dois gols de bola parada e um outro em claro impedimento. De outro, o feliz botafoguense rejubila-se: não interessa -metemos 3 a 2 na casa do inimigo e ainda por cima sem Bebeto, abatido por uma feijoada de hotel na véspera.
Todos estão certos em relação ao resultado da primeira decisão do Rio-São Paulo, um jogo tão emocionante e bonito que até o derrotado saiu vitorioso de campo. Isso porque, mais uma vez, o resultado é que está errado. A bem da justiça, deveria estar estampado: São Paulo 4, Bota 2, pois coube ao tricolor o domínio da bola, dos espaços e da criação de tantas chances de gol, que os dois obtidos foram um pecado.
Sobretudo pelo que fez no segundo tempo, até tomar o empate. Só para se ter uma idéia, logo na sequência da virada de 2 a 1 sobre o Botafogo, o São Paulo meteu uma bola no pé da trave esquerda de Wágner que, por certo, selaria o destino do jogo. Pois era um momento em que os cariocas estavam desarticulados em campo.
Mas esse Bota de Gilson Nunes é fogo e ferro, posto que, mesmo pressionado pela torcida reaprumou-se e deu o troco: 3 a 2, em duas faltas bem cobradas por Sérgio Manoel e Jorge Luís, mas que contaram com o auxílio do goleiro Rogério -na primeira, foi atrasado na bola, com o braço errado esticado, e acabou dentro do gol; no segundo, desatento, nem esboçou defesa.
Foi uma vitória arrancada do fundo da alma alvinegra, mas foi também a soma de pequenos e poucos erros cometidos pelo adversário ao longo da partida, embora decisivos.
Já ao São Paulo de Nelsinho resta uma vaga esperança de reverter a situação lá no Maracanã. Mas sobra a certeza de que o técnico está no caminho certo, ao armar seu time com apenas um cabeça-de-área (Gallo), ao lado do meia Carlos Miguel, que, além de fechar bem o setor, deu espaço para a presença de um outro meia, destro (Reinaldo ou Adriano) no meio-campo, que, a partir daí, ganhou um toque de bola mais refinado. Como resultado, o time todo ganha fluência no passe, velocidade na saída de bola da defesa para o ataque e força ofensiva.
Eis, portanto, uma derrota que, se bem administrada pelo técnico tricolor, vale como uma vitória.

É incompreensível a falta de sintonia entre a torcida tricolor e seu maior jogador, Denílson. Menino criado lá mesmo no CCT da Barra Funda, que, num fulminante desempenho, arrebatou a vaga de titular da seleção, disputada por quatro ou cinco celebridades internacionais, continua sendo vaiado, a cada rara jogada errada.
Qualquer torcedor de outro clube beijaria o chão por onde Denílson deixa a marca de seus dribles desconcertantes. O são-paulino vaia.
É um desses casos únicos em que a cena deveria ser invertida: aquela multidão de cabeças-de-bagre tentando controlar a bola no campo entupido, e Denílson, sozinho, na arquibancada, vaiando a vaia perna-de-pau, até arrebentar.


Alberto Helena Jr. escreve aos domingos, segundas e quartas


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