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BASQUETE
Pau para toda obra
MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE
A aplicação dos jogadores
na execução e dos treinadores no desenho dos sistemas de
marcação parece ter estrangulado o basquete nos EUA. É cada
vez mais difícil encestar na NBA.
E não é por outro motivo que a liga vive mudando regras.
Neste ano, a frustração redundou em uma onda de antijogo
inédita. Nunca o jogador da liga
profissional norte-americana foi
tão violento, tão cafajeste.
Os árbitros já apitaram 175 faltas antidesportivas na primeira
fase deste campeonato. Na temporada passada, o número parou
em 169. Na de 1999/2000, em 165.
E faltam mais de duas semanas
para o início dos mata-matas...
Criteriosa com as punições, a
NBA cataloga essas violações, caracterizadas quando o defensor
"ultrapassa o limite da esportividade" para conter o oponente.
Aquelas mais sujas são enquadradas como "faltas flagrantes 2".
Pois nesse item, o quadro é ainda
mais desolador. Segundo levantamento do "New York Times", o
número praticamente dobrou: de
10, no torneio passado, para 19.
Pela primeira vez, até supercraques enterraram-se no lamaçal.
Tanto Shaquille O'Neal como
Kobe Bryant, dupla bicampeã pelo Los Angeles Lakers, distribuíram socos descontrolados. Jermaine O'Neal e Reggie Miller, do
Indiana, preferiram atacar com o
cotovelo. Os quatro agrediram
adversários com o jogo parado.
Todos acabaram suspensos.
Kenyon Martin, jovem talento
do New Jersey, time sensação da
temporada, é o recordista dos golpes baixos. Cometeu seis faltas
antidesportivas. Tomou duas suspensões e US$ 347 mil em multas.
Causa estranheza que a tendência coincida com a queda de quase 10% no total de faltas por jogo.
Talvez os árbitros estejam sendo
lenientes com as violações menos
estridentes. Talvez a rapaziada
guarde energia para, quando resolve bater, bater com gosto.
A pancadaria também corre solta no basquete paulista. O Estadual testemunhou uma sucessão
de agressões covardes. A jovem e
talentosa turma do Ribeirão Preto, que merecidamente conquistou o título, muitas vezes leva ao
pé da letra a expressão "defesa
agressiva" -e pagou caro por isso na Liga Sul-Americana.
Pudera, por décadas, o jogador
brasileiro ouviu que devia aprender a marcar, que só uma defesa
forte abriria caminho para vitórias no basquete moderno.
Por décadas, ouviu que os norte-americanos dominam as quadras do planeta por causa de sua
vocação e interesse "nato" pelos
sistemas defensivos. "A torcida
grita de-fen-ce durante o jogo!",
baba-se todo turista quando debuta em um ginásio da NBA.
Por décadas, ouviu que o árbitro nacional era rigoroso demais.
Que o jogo de contato era permitido no mundo inteiro, menos aqui.
Por décadas, ouviu que a "escola brasileira", três vezes campeã
mundial, tinha ficado parada no
tempo. Que um esporte coletivo
não admite estrelas de brilho próprio, que o grupo impõe-se ao talento (Scolari ficaria à vontade
com a bola laranja nas mãos).
Ouviu tanto, por tanto tempo...
Mas usa indevidamente as mãos,
no combate à bola e na proteção
do garrafão. E não raramente
corta criminosamente a infiltração do rival, trocando a malícia
pela maldade. Ou seja, não
aprendeu a marcar. Talvez, às vezes penso, tenha desaprendido.
Porrada 1
Shaquille O'Neal, 2,16 m e 143 kg, promete virar policial quando
deixar quadras -para "botar ordem nas coisas". Que prepotência.
Porrada 2
Dois craques, duas contusões, dois efeitos distintos. Allen Iverson
fraturou a mão esquerda e só poderá voltar nos playoffs -e o Philadelphia (38v e 35d) caiu na tabela e corre o risco de eliminação.
Vince Carter operou o joelho e só retorna no torneio que vem -e o
Toronto (35v e 38d) reagiu e volta a aspirar à classificação.
Porrada 3
A partida Cocodrilos x Ribeirão Preto valia uma vaga nas semifinais da Liga Sul-Americana, e não valia pelas semifinais, como escrevi na coluna passada. E na semana anterior, esqueci de citar o
neo-alemão Shawn Bradley como outro jogador do Dallas que deverá estar no Mundial de Indianápolis, em agosto. Que fase...
E-mail melk@uol.com.br
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