São Paulo, terça-feira, 02 de abril de 2002

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BASQUETE

Pau para toda obra

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

A aplicação dos jogadores na execução e dos treinadores no desenho dos sistemas de marcação parece ter estrangulado o basquete nos EUA. É cada vez mais difícil encestar na NBA. E não é por outro motivo que a liga vive mudando regras.
Neste ano, a frustração redundou em uma onda de antijogo inédita. Nunca o jogador da liga profissional norte-americana foi tão violento, tão cafajeste.
Os árbitros já apitaram 175 faltas antidesportivas na primeira fase deste campeonato. Na temporada passada, o número parou em 169. Na de 1999/2000, em 165. E faltam mais de duas semanas para o início dos mata-matas...
Criteriosa com as punições, a NBA cataloga essas violações, caracterizadas quando o defensor "ultrapassa o limite da esportividade" para conter o oponente.
Aquelas mais sujas são enquadradas como "faltas flagrantes 2". Pois nesse item, o quadro é ainda mais desolador. Segundo levantamento do "New York Times", o número praticamente dobrou: de 10, no torneio passado, para 19.
Pela primeira vez, até supercraques enterraram-se no lamaçal.
Tanto Shaquille O'Neal como Kobe Bryant, dupla bicampeã pelo Los Angeles Lakers, distribuíram socos descontrolados. Jermaine O'Neal e Reggie Miller, do Indiana, preferiram atacar com o cotovelo. Os quatro agrediram adversários com o jogo parado. Todos acabaram suspensos.
Kenyon Martin, jovem talento do New Jersey, time sensação da temporada, é o recordista dos golpes baixos. Cometeu seis faltas antidesportivas. Tomou duas suspensões e US$ 347 mil em multas.
Causa estranheza que a tendência coincida com a queda de quase 10% no total de faltas por jogo. Talvez os árbitros estejam sendo lenientes com as violações menos estridentes. Talvez a rapaziada guarde energia para, quando resolve bater, bater com gosto.

A pancadaria também corre solta no basquete paulista. O Estadual testemunhou uma sucessão de agressões covardes. A jovem e talentosa turma do Ribeirão Preto, que merecidamente conquistou o título, muitas vezes leva ao pé da letra a expressão "defesa agressiva" -e pagou caro por isso na Liga Sul-Americana.
Pudera, por décadas, o jogador brasileiro ouviu que devia aprender a marcar, que só uma defesa forte abriria caminho para vitórias no basquete moderno.
Por décadas, ouviu que os norte-americanos dominam as quadras do planeta por causa de sua vocação e interesse "nato" pelos sistemas defensivos. "A torcida grita de-fen-ce durante o jogo!", baba-se todo turista quando debuta em um ginásio da NBA.
Por décadas, ouviu que o árbitro nacional era rigoroso demais. Que o jogo de contato era permitido no mundo inteiro, menos aqui.
Por décadas, ouviu que a "escola brasileira", três vezes campeã mundial, tinha ficado parada no tempo. Que um esporte coletivo não admite estrelas de brilho próprio, que o grupo impõe-se ao talento (Scolari ficaria à vontade com a bola laranja nas mãos).
Ouviu tanto, por tanto tempo... Mas usa indevidamente as mãos, no combate à bola e na proteção do garrafão. E não raramente corta criminosamente a infiltração do rival, trocando a malícia pela maldade. Ou seja, não aprendeu a marcar. Talvez, às vezes penso, tenha desaprendido.

Porrada 1
Shaquille O'Neal, 2,16 m e 143 kg, promete virar policial quando deixar quadras -para "botar ordem nas coisas". Que prepotência.

Porrada 2
Dois craques, duas contusões, dois efeitos distintos. Allen Iverson fraturou a mão esquerda e só poderá voltar nos playoffs -e o Philadelphia (38v e 35d) caiu na tabela e corre o risco de eliminação. Vince Carter operou o joelho e só retorna no torneio que vem -e o Toronto (35v e 38d) reagiu e volta a aspirar à classificação.

Porrada 3
A partida Cocodrilos x Ribeirão Preto valia uma vaga nas semifinais da Liga Sul-Americana, e não valia pelas semifinais, como escrevi na coluna passada. E na semana anterior, esqueci de citar o neo-alemão Shawn Bradley como outro jogador do Dallas que deverá estar no Mundial de Indianápolis, em agosto. Que fase...

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