São Paulo, sexta-feira, 02 de abril de 2004

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AUTOMOBILISMO

Organizadores tentam proteger circuito das dunas do deserto

Bahrein usa cola para que GP não escorregue na areia

FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A SAKHIR

O autódromo foi inaugurado parcialmente há duas semanas e ontem ainda recebia as últimas mãos de tinta. A região faz a sua estréia no campeonato. E até o problema é novidade para a F-1.
Da Ferrari à Minardi, a categoria começa hoje os treinos para o GP do Bahrein com uma mesma preocupação, areia no asfalto, cena rara em 53 anos de história.
Os anfitriões respondem com soluções que esbarram no simplismo, cola e plástico. Que, até agora, parecem ser insuficientes.
Ontem, nas poucas voltas que deu pelos 5,417 km do circuito, o safety-car levantou poeira por onde passou. Chegou a escorregar em uma curva mais fechada.
O Bahrein, um arquipélago de 33 ilhas na costa da Arábia Saudita com área total equivalente a 45% da cidade de São Paulo, recebe pela primeira vez a F-1. Será a terceira etapa do ano e o debute da categoria no Oriente Médio.
A 30 quilômetros da capital, Manama, a pista de Sakhir foi construída no meio do deserto.
Os barenitas gastaram US$ 200 milhões com a ambição de levantarem o autódromo mais moderno do planeta. Não conseguiram -o título ainda fica com Sepang, na Malásia. E, de quebra, tiveram que recorrer a soluções artesanais para tentar evitar que o asfalto seja invadido pela areia, um problema à primeira vista corriqueiro, mas que pode ser fatal para as pretensões do país na categoria.
A primeira medida, anunciada em outubro de 2002, quando começaram as obras, foi cercar o traçado com uma película plástica. Em tese, ela reteria toda a areia levada pelos ventos, protegendo o circuito e evitando transtornos.
Eles se esqueceram, porém, das dunas, mais altas do que essas cercas. E, nos últimos dias, após constatarem a falha, tiveram que correr atrás de outra solução.
Ao longo dos próximos dias, os barenitas farão um esforço para impedir mais essa ameaça: aplicarão duas vezes por dia uma espécie de cola sobre as dunas para prender a areia e, dessa forma, vencer uma eventual ventania.
"O maior problema vai ser a falta de aderência. Embora estejam fazendo de tudo para melhorar, a pista vai estar imunda, pelo menos no início dos treinos", disse Jenson Button, da BAR.
Terceiro colocado na Malásia, há duas semanas, o piloto inglês fala com conhecimento de causa. Foi um dos únicos pilotos a visitar Sakhir durante as obras e, ontem, percorreu o traçado a pé.
Areia na pista pode afetar os carros de duas formas. Primeiro, reduzindo a aderência do asfalto, tornando a pista mais escorregadia e mais traiçoeira. Segundo, penetrando em delicados dispositivos mecânicos ou eletrônicos, podendo ocasionar uma quebra.
Sam Michael, engenheiro da Williams, está receoso: "Essa corrida vai nos colocar uma série de desafios inéditos, particularmente a questão da areia, que pode causar problemas nos equipamentos nos boxes e nos carros".
Ele também fala baseado em dados. A Williams é a única equipe que já andou em Sakhir. Foi durante a inauguração do circuito. A pretexto de exibição para os torcedores, o piloto de testes Marc Gené percorreu 27 voltas, despertando a ira da Ferrari.
Os italianos, que usam pneus da Bridgestone, estão certos de que a Michelin usou a experiência de Gené para definir que tipos de compostos levaria ao Bahrein.


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