São Paulo, sábado, 02 de abril de 2011

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RITA SIZA

Ninguém sai ileso


A eleição no Sporting ocupou quase tanta atenção quanto a demissão do primeiro-ministro


AQUI EM Portugal estivemos muito perto de apelar para a intervenção da ONU para resolver o imbróglio das eleições para a presidência do Sporting, um dos chamados "três grandes" no futebol do país.
Estou a exagerar, claro, mas o fato é que, exatamente há uma semana, o ato eleitoral para os órgãos diretivos do clube -o mais participado de sempre e com um número recorde de candidatos- terminou com cenas de pancadaria, acusações de irregularidades e fraude, uma recontagem de votos duvidosa e uma tomada de posse apressada às seis horas da manhã, no fim da confusão.
Nos últimos dias, essa polémica ocupou quase tanto tempo de atenção e discussão pública quanto a demissão do primeiro-ministro, a queda do governo da República ou o aparentemente inevitável e inadiável pedido de resgate financeiro internacional. Só espero que a campanha partidária que agora se avizinha seja menos dramática e rocambolesca do que a que envolveu as eleições do Sporting.
Se, por hipótese académica, fôssemos encarar esse plebiscito particular como um espelho ou uma antevisão do que pode estar a acontecer no país, temos de fugir com vergonha e medo. O espetáculo foi tão deprimente que ninguém saiu ileso -candidatos, seus apoiantes, sócios do clube, jornalistas que cobriram a eleição...
Como o guião de um filme cómico, os acontecimentos foram evoluindo a um ritmo frenético até o clímax de puro "nonsense". A trama e a intriga tiveram por base projetos megalómanos e irreais, que, imediatamente se percebia, seriam uma receita para o desastre. As personagens garantiram momentos de hilaridade e confusão.
Por exemplo, as declarações de um cirurgião respeitado e habitualmente portador de bom-senso, que reclamava não interessar a origem suspeita dos milhões que um obscuro investidor russo prometia aplicar no clube. Ou a entrega pública de cumprimentos de parabéns pela vitória por um dos concorrentes vencedores a um outro que, afinal, tinha perdido. Ou ainda o reaparecimento mágico de um antigo craque da bola, o inimitável Paulo Futre, que, com rasgo e visão, explicou que a solução para todos os problemas (financeiros e, presume-se, esportivos) era muito simples: bastava contratar "o melhor jogador chinês". "Vão vir charters da China todas as semanas para o ver jogar", garantiu.
A comunicação social contribuiu para a festa, disseminando boatos, ecoando disparates e publicando informações não confirmadas sem o elementar trabalho de verificação. Por momentos, foi tudo muito divertido. Mas, também, mau demais para ser verdade -e o pior é que foi mesmo!


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