São Paulo, domingo, 02 de junho de 2002

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GRUPO C

Técnico contraria ação da CBF, que vetara a escolhida

Para amenizar tensão, Scolari paga psicóloga

DOS ENVIADOS A ULSAN

Para não ficar totalmente desamparado ao dissecar a cabeça de seus atletas, que admitem estar cercados de tensão e frio na barriga por conta da estréia na Copa-2002, o técnico Luiz Felipe Scolari pagou do seu próprio bolso a assessoria de uma psicóloga.
Isso só aconteceu porque a CBF vetou a presença de Regina Brandão, a profissional escolhida pelo treinador, na comissão técnica da equipe nacional.
"A CBF tem coisas em que eu não posso me impor. Isso é um assunto que eu não vou comentar", declarou o treinador.
Frustrada com a experiência anterior de um profissional de psicologia no time -Suzy Fleury, com Wanderley Luxemburgo-, a confederação comunicou a Scolari que não contrataria ninguém para a função.
Resignado, o treinador pediu então uma ajuda a Regina, com quem trabalhou no Palmeiras e no Cruzeiro, para conseguir lidar melhor com pelo menos parte do seu grupo de 23 convocados. Ele próprio pagou o "free-lance".
A psicóloga já tinha, de suas passagens por clubes de São Paulo e Rio Grande do Sul, relatórios sobre dez jogadores (Marcos, Lúcio, Edmílson, Roque Júnior, Juninho e Ronaldinho, titulares amanhã, Rogério, Júnior e Kaká).
Numa conversa de quase cinco horas com Scolari três dias antes do embarque da seleção para Barcelona, escala inicial do time antes da Copa, ela repassou ao técnico os perfis psicológicos que havia preparado nos clubes.
"Ele anotou tudo. Às vezes, pedia para eu parar de falar para que pudesse escrever direito", contou Regina à Folha.
O encontro foi realizado na sede da Orpus/Instituto de Treinamento Mental, centro especializado em psicologia esportiva que é um QG da assessora de Scolari.
Sobre cada atleta, Regina tinha um perfil psicológico de aproximadamente seis páginas. Com Marcos, Júnior, e Roque Júnior, ela trabalhou no Palmeiras, entre 98 e 99. Com Rogério, Edmílson, Juninho e Kaká, a experiência foi no São Paulo, entre 93 e 94. Ronaldinho Gaúcho foi "analisado" quando estava no Grêmio, e Lúcio enquanto defendia o Inter.
Alegando razões éticas, a psicóloga não quis fazer comentários sobre as características de cada atleta que passou para Scolari.
Ela revelou, no entanto, que achou o próprio treinador um pouco ansioso. "Não é fácil para uma pessoa que saiu do interior do Rio Grande do Sul, como ele, estar na berlinda, exposto ao mundo inteiro", disse.
Além de informações específicas sobre atletas, Regina deu orientações gerais a Scolari. Foi ela quem alertou o técnico para a importância dos quartos individuais. O pedido foi aceito pela CBF, e os jogadores não estão tendo que compartilhar seu espaço de dormir com outro(s) colega(s), algo usual até esta Copa.
"Estudos mostram que, após 20 dias, o que era respeitado no companheiro vira fonte de irritação", justifica a psicóloga, que deverá ser consultada novamente pelo técnico durante o Mundial.
"Vamos manter contato à medida que eu for treinando e for vendo as dificuldades, até que ponto eu posso chegar, o que eu posso exigir de um jogador", afirmou Scolari.
Supersticioso e grande adepto do uso da psicologia no esporte, ele costuma chamar profissionais de diversas áreas para dar palestras sobre motivação aos atletas. Também gruda nas paredes de concentrações trechos "fortalecedores" de livros. Para a Copa, levou "A Arte da Guerra", do chinês Sun Tzu, que ensina como bater o inimigo usando mais o intelecto do que a força.

Lágrimas
A birra da CBF com psicólogas surgiu após a Olimpíada de Sydney, em 2000. Após a eliminação do Brasil por Camarões, Suzy Fleury, que exercia a função, ficou totalmente abalada e chorou mais que qualquer jogador ou integrante da delegação.
Comparou a derrota à perda da família num acidente. (FÁBIO VICTOR, FERNANDO MELLO, JOSÉ ALBERTO BOMBIG E SÉRGIO RANGEL)

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