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JOSÉ GERALDO COUTO
Apolo e Dioniso
Com estilos opostos, Kaká e Ronaldinho, os "desertores", são os melhores do mundo, mas ontem não fizeram nada
O
PEDIDO de Kaká e Ronaldinho para não disputar a Copa
América gerou controvérsia.
Aqui neste espaço, Xico Sá chamou
os dois de meninos mimados e mal-agradecidos, enquanto Soninha defendeu o direito de ambos a férias.
Ontem, em Inglaterra x Brasil, Galvão Bueno torrou a paciência de tanto choramingar contra a recusa de
Kaká. Para o locutor mais oficial do
Brasil, o jogador "não entendeu ainda seu papel no futebol mundial".
Não vou entrar nessa polêmica.
Acho que todos têm razão, ou pelo
menos cada um tem a sua. Quero
aqui tentar uma aproximação com a
grande a arte dos dois moços.
Kaká é apolíneo, Ronaldinho é
dionisíaco. Não, não me refiro à evidente beleza do primeiro e à suposta
feiúra do segundo. Até porque, se eu
fosse mulher ou gay, provavelmente
acharia mais atraente o charme moleque de Ronaldinho do que o bom-mocismo carola de Kaká.
Falo é do futebol de cada um. O de
Kaká é límpido, objetivo, equilibrado, clássico. O de Ronaldinho é floreado, imprevisível, exuberante,
barroco. Kaká é a linha reta; Ronaldinho, a curva, quando não a voluta.
Kaká está para Pelé como Ronaldinho está para Maradona, sem
qualquer juízo de valor. Os quatro
são geniais. Os melhores do mundo,
dois do presente, dois do passado.
Ontem, contra a Inglaterra, nenhum dos dois fez grande coisa. A
marcação inglesa foi muito boa e faltou ao Brasil inteligência para fugir
dela. Em vez de abrir pelas pontas,
Kaká, Ronaldinho e Robinho tentavam carregar a bola sozinhos pelo
meio, afunilando para um gargalo
cheio de jogadores de branco.
Ainda assim, Kaká parecia ser o
mais lúcido e objetivo. Sua saída, no
segundo tempo, parece ter sido mais
represália de Dunga ao seu pedido
de dispensa do que propriamente
uma modificação tática importante.
Aliás, se Dunga estava pensando
em experimentar e aprimorar o
elenco com que vai contar na Copa
América, por que tirou Robinho de
campo ao colocar Diego? Os dois,
que provavelmente serão titulares
no torneio continental, se entendem por música e poderiam achar
juntos o caminho das pedras até o
gol de Robinson.
O empate acabou vindo de um jeito que ninguém esperaria: uma cabeçada de Diego num cruzamento
de Gilberto Silva. O contrário seria
algo mais previsível. O futebol tem
dessas coisas. O jogo valeu, no fim
das contas, pelo lindo estádio e pela
oportunidade de conhecermos
Afonso e Naldo. Muito prazer.
Nó tático
Quarta, no Olímpico, o Grêmio foi
tão superior ao Santos que dava a
impressão de ter o dobro de jogadores em campo. Os melhores santistas -Zé Roberto, Kléber, Cléber
Santana, Pedrinho- mal tinham
espaço para respirar, que dirá para
criar qualquer coisa. Se Vanderlei
Luxemburgo fosse o técnico do time vencedor, todos diriam que ele
tinha dado um "nó tático" no rival.
Clássicos em aberto
O Santos pega o Corinthians amanhã com a cabeça inchada pela derrota para o Grêmio. O Fluminense
pega o Vasco pensando no Figueirense. Com isso, os times teoricamente mais fracos podem surpreender. Mas, como dizia o outro,
"clássico é clássico e vice-versa".
jgcouto@uol.com.br
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