São Paulo, terça, 2 de junho de 1998

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ALBERTO HELENA JR.

A luz de Zagallo

Passei o dia viajando de Bilbao para Pontault-Combault, sem contar o desvio pelo centro de imprensa do Mundial em Paris, à procura de uma teoria para explicar essa coisa amorfa, inidentificável, vazia de idéias e, sobretudo, de emoções que se traveste de seleção brasileira. Trata-se do mais seleto e ilustre agrupamento de jogadores com a gloriosa camisa amarela desde a célebre equipe perdedora de 82. E o que se vê em campo é a contrafacção do que se espera. Tudo bem: o esquema de Zagallo está furado, menos pela idéia em si, mas muito mais pela sua imaterialização (o técnico pensa uma coisa e põe para executá-la jogadores inabilitados para as funções determinadas). Mas, que diabo! Ainda assim era de se esperar de craques como Giovanni, Rivaldo, Bebeto, Ronaldinho, Roberto Carlos, Cafu, Leonardo, Edmundo, sei lá, um futebol mais compatível com o altíssimo grau de experiência e de técnica refinada que possuem, mesmo se treinador nenhum houvesse, nem sequer esquema qualquer fosse concebido. Havelange, a bordo de um avião de carreira, dá sua opinião: está faltando alguém tipo Juninho para fazer essa bola rolar com rapidez do meio-campo ao ataque. Enquanto isso, lá no Château de Grand Romaine, Zagallo levava um longo e animado papo com Dunga, sob os cliques espertos do nosso Juca Varella. Cá entre nós, fico com esta última imagem como a expressão de uma possível solução do problema a curtíssimo prazo: Dunga haverá de dar a Zagallo a luz que parece ter-se apagado. Mais que isso: traduzindo para nosso bom e castiço português, vai chamar a turma na chincha. Caso contrário, quero ver quem irá lá desatolar nossa vaca desse brejo que começa a ter ares sombrios de pântano de filme de terror inglês.

Fala-se muito por aqui na possibilidade de Leonardo vir a ser o segundo volante brasileiro, no lugar de César Sampaio, o que forçaria Zagallo a alterar o seu esquema.
Só para registro, vale lembrar que essa possibilidade foi aventada por Zico, no papo que tivemos outro dia. Tese, aliás, que defendo há quatro anos.



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