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JOSÉ ROBERTO TORERO
Analogias
futebolísticas
para
intelectuais
Explicar o futebol e a seleção
brasileira é minha missão! Este artigo é mais uma batalha dessa interminável guerra contra a
ignorância!
Nesta terça-feira meu alvo será
um dos grupos que mais desconhece os mistérios do esporte bretão: os intelectuais. Durante a
Copa, esses pobres homens de
lentes grossas se sentirão tão
oprimidos quanto um estóico numa festa de reichianos. Porém
com essas dicas tentarei diminuir
seu sofrimento.
Como estou me reportando a
um público sofisticado e amigo
das academias - das universitárias, não das de ginástica - para
lhes explicar quem são nossos jogadores escolhi o caminho da filosofia. Espero que, ao fim do texto, tenha conseguido fazer uma
ponte entre suas mentes refinadas e o coração do torcedor comum.
Nosso goleiro, caro leitor do
Mais!, chama-se Taffarel. Para
entendê-lo bem você deve pensar
em Santo Agostinho e sua idéia
de que nenhum homem merece a
redenção divina.
Ele defende uma cidadela que,
aos nossos olhos, deveria ser perfeita e imaculada como a Cidade
de Deus, mas lá está ele para nos
lembrar a fatalidade da perdição.
Jogando no lado direito do gramado existe um jogador chamado Cafu. Um meio de entendê-lo
seria recorrer ao existencialismo.
Ele é voluntarioso, vibrante e
nem sempre mede as consequências de seus atos pelo peso da
reflexão abstrata. Como a seleção
brasileira joga mais pelo lado esquerdo, ele muitas vezes pergunta-se se é um ser ou se é um nada.
Mais fácil é entender a natureza
do nosso central, Júnior Baiano.
Ele é a reencarnação do "bom
selvagem" de Rousseau.
Só que ele é "bom" aos nossos
olhos e "selvagem" aos olhos
dos adversários.
Quando ele falha, tem na cobertura o também não muito carinhoso Aldair, um darwiniano
que testa a capacidade de adaptação e sobrevivências dos atacantes contrários.
Nosso lateral-esquerdo, Roberto Carlos, é demolidor como Karl
Marx. Sua presença no campo
inimigo tem o mesmo efeito da
teoria marxista na história da filosofia.
Sua entrada em velocidade e
seu chute forte causam tanto impacto como, um dia, causaram as
idéias de mais-valia e união da
classe proletária.
Quanto aos nossos volantes,
Dunga e César Sampaio, nada
mais fácil. São dois autênticos
cartesianos.
Possuem um método racional
de jogar, mas lhes falta uma certa
capacidade de invenção.
Giovanni, nosso meia-direita, é
ornamental e clássico, mas o
pensamento é engenhoso e surpreendente. Poderia ser comparado a Montaigne. Já Rivaldo, o
meia-esquerda, confunde os
marcadores como Sócrates desafiava os sofistas atenienses.
Denílson, o reserva desses dois,
é a encarnação da filosofia de
Nietzche. Ele é agitado, demolidor, breve, fulminante e joga
com uma efusão só vista nas páginas de um Zaratustra.
Ronaldo, que usa o mesmo
penteado de Foucault, é um atleta que possui um pouco do pragmatismo de Adam Smith e outro
tanto do idealismo de Platão. É
eclético e, por isso, tão difícil de
marcar quanto de definir.
O outro atacante ainda é uma
incógnita. Se for Bebeto, devemos pensar no pessimismo de
Schopenhauer; se for Romário,
na teoria da libido de Freud.
Por fim, há Edmundo, um jogador que comprova a teoria do
conhecimento de Locke: realmente alguns indivíduos são uma
tábula rasa.
e-mail: torero@uol.com.br
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