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A Copa
do Mundo
das
camisas
CARLOS HEITOR CONY
É uma tradição, quase uma
obrigação. Ao começar
uma Copa do Mundo, há uma
descrença nas possibilidades do
Brasil. Nas quatro vezes em que
trouxemos o caneco, a seleção
fez treinos debaixo de geral desconfiança, de iracunda reprovação.
Não faltaram vaias na hora do
embarque. Afinal, cada brasileiro -segundo famosa frase que
rola por aí- tem o seu time, a
sua tática, a sua maneira de vencer.
Grosso modo, paulistas e cariocas, com motivos ou sem eles,
acusam a cartolagem de proteger determinados jogadores e
clubes, há uma luta de foice que
só acaba quando soa a trombeta
do apocalipse, o apito do juiz na
final, dando-nos a vitória.
A alternativa é a continuação
da briga de foice pelos quatro
anos seguintes. Se toda regra
tem exceção, a exceção teria sido a Copa de 82, na Espanha,
quando a seleção dirigida por
Telê jogou o fino e perdeu para
a Itália numa partida que muitos
consideraram a melhor da história do futebol mundial.
Em 1970, houve o diabo com a
seleção que se tornaria tricampeã do mundo. Até hoje se discute se o mérito do triunfo foi de
João Saldanha (que tinha poderoso lobby na mídia daquela
época), ou de Zagallo, que, apesar de ter mexido na estrutura
do time, de ter imposto sua concepção de jogo, continua discutido e negado por muitos.
O fato é que, em matéria de
craques, tanto em 70 como em
82 tínhamos em campo o que de
melhor produzimos em matéria
de futebol. Talvez não seja o caso de agora. Tirante três ou quatro craques excepcionais, a
maioria dos convocados é, para
dizer o mínimo, polêmica.
E além dos jogadores em si,
não houve tempo nem interesse
para que fosse providenciado
melhor entrosamento entre defesa, meio-campo e ataque.
Atravessamos um período de
vacas magras não em matéria
de craques -que sempre os
houve, e bons- mas em termos
de organização e rotina.
Antigamente, com os campeonatos regionais em dois turnos,
os torneios nacionais e alguns
amistosos internacionais, era fácil qualquer gari escalar um time
que, afinal, estava na cara de todos. Com a globalização do futebol (acredito que foi justamente
o futebol o primeiro escalão da
sociedade que se globalizou), ficou difícil julgar determinados
craques que passam a maior
parte do tempo no exterior, jogando ora num time ou noutro.
Evidente que a comissão técnica tem seus olheiros e que o time de Zagallo, em linhas gerais,
é o que todos escalaríamos
-mas sob reservas. Com exceção de Ronaldinho, acho que nenhum jogador, nem mesmo Romário, seria escolhido por aclamação.
Bem, para sorte nossa, temos a
camisa, que sempre pesa numa
Copa do Mundo. Mas outras camisas também pesam: a da Itália, da Argentina e da Alemanha.
Desta vez, devemos incluir a camisa da França, que atravessa
boa fase e parece estar num astral excelente com a vantagem
de ser dona do campo.
Mesmo assim, acho que o Brasil ainda leva jeito. Na ponta do
lápis, Itália, Alemanha e Argentina também apresentam problemas mas na hora do jogo não é
uma seleção que entra em campo. É todo um povo, toda uma
nação.
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