São Paulo, terça, 2 de junho de 1998

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Entidade dirigente monta comissão para investigar relação entre empresas e federações
Fifa apura ação da Nike na CBF


Zagallo é quem mais dirigiu a seleção antes de uma Copa, com 79 partidas desde 1994



Para acertar jogos com o Brasil, a Nike pede 50% da bilheteria e uma cota de US$ 500 mil


HUMBERTO SACCOMANDI
enviado especial a Paris

A Fifa montou uma comissão especial para investigar a relação entre empresas de material esportivo e federações nacionais de futebol. Na mira está a parceria entre a CBF e a Nike.
A decisão foi tomada na última reunião do comitê executivo da Fifa (entidade que dirige o futebol mundial), em Genebra, no último dia 27 de maio.
O comunicado da entidade informa que "está sendo criado um grupo de trabalho da Fifa para estudar a crescente interferência de certos fabricantes de roupas esportivas na organização de amistosos internacionais e em outros assuntos de certas associações nacionais".
Segundo a Folha apurou junto a um membro do comitê executivo, certos fabricantes significa a Nike, e as certas associações nacionais são as do Brasil e dos EUA, ambas patrocinadas pela Nike.
Apesar de estimular a parceria entre federações e empresas, a Fifa procura impedir que os patrocinadores exerçam influência sobre a "integridade do esporte e a organização técnica dos jogos e das competições".
Um dos pontos mais polêmicos para a Fifa é que jogos amistosos da seleção brasileira estariam sendo agendados para satisfazer a interesses comerciais da Nike.
Pelo acordo assinado em 1996 entre a Nike e a CBF, a empresa americana pode organizar 50 amistosos da seleção em dez anos. É o chamado "Brasil World Tour".
No ano passado, a Nike agendou quatro amistosos para o Brasil, contra a Coréia do Sul, o Japão, a África do Sul e o México. A quinta partida no exterior acabou não sendo realizada e foi substituída pelo jogo contra o País de Gales, no Brasil. Neste ano, já houve o jogo contra a Alemanha, em março.
Mas alguns membros do comitê executivo da Fifa acreditam que a parceria esteja indo além desses amistosos. No ano passado, o Brasil foi o país que mais jogou entre as principais equipes do mundo. Realizou 24 partidas internacionais "A" (contra seleções), sendo 18 amistosos, segundo dados oficiais da Fifa.
Neste ano, o Brasil disputou, como convidado, a Copa Ouro, torneio oficial organizado nos EUA, cuja federação é patrocinada pela Nike.
A iniciativa de criar um grupo de estudo sobre a relação entre a empresa e futebol do Brasil e dos EUA tem, porém, outras implicações.
A primeira é política. A proposta partiu de partidários da candidatura do sueco Lennart Johansson à presidência da Fifa, que se opõe a Joseph Blatter, o candidato do brasileiro João Havelange. Eles detêm maioria no comitê executivo.
Levantando a suspeita de interferência na administração do futebol os oposicionistas atacam as duas principais associações nacionais que apóiam Blatter. A eleição na Fifa ocorre no próximo dia 8.
A segunda implicação tem a ver com o futebol europeu. Os clubes que empregam jogadores brasileiros vêm reclamando muito do excesso de amistosos, especialmente daqueles agendados pela Nike.
Eles argumentam que gastam muito para contratar e pagar o salário de brasileiros, mas podem ter um campeonato arruinado ao ceder o atleta para um amistoso.
Outra implicação diz respeito às federações européias. Por não se sujeitarem a esse tipo de ingerência de empresa nos seus assuntos internos, elas não estariam conseguindo negociar contratos tão vantajosos quanto o acertado entre a Nike e a CBF.
Pelos dez anos de contrato, a Nike pagará à CBF cerca de US$ 220 milhões. A Federcalcio italiana, também patrocinada pela Nike, recebe pouco mais de um décimo desse valor.




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