São Paulo, quarta, 2 de junho de 1999

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TOSTÃO
Dois estilos


O estilo holandês é o do Brasil do passado. O estilo brasileiro atual é uma mistura do nosso antigo futebol e o do pragmático futebol europeu


O Brasil enfrenta a Holanda no sábado, em Salvador, e na próxima terça-feira, em Goiânia. O time holandês joga no esquema tático parecido com o do Brasil dos anos 60: dois zagueiros, dois laterais essencialmente marcadores, dois armadores, dois pontas, um jogador fixo na frente e um meia, na ligação com os três atacantes (4-2-1-3).
O time brasileiro continua com seu esquema "moderno", que está ficando velho e repetitivo: dois zagueiros, dois laterais apoiadores, dois armadores defensivos (volantes), plantados em linha, na frente dos zagueiros, um armador ofensivo de cada lado e dois atacantes (4-4-2).
No time holandês, a cobertura dos zagueiros é feita principalmente pelos laterais, e, no brasileiro, pelos volantes. O apoio ao ataque é feito, na seleção brasileira, por meio dos dois armadores ofensivos e dos laterais, enquanto, na holandesa, esse apoio é executado pelos dois armadores e pelo jogador de ligação entre o meio-campo e o ataque.
A Holanda usa, no ataque, um jogador fixo no centro, um meia-ponta-de-lança, vindo de trás, e dois pontas. O Brasil tem dois atacantes movimentando-se na frente, e os espaços, nos flancos, são ocupados pelos laterais.
Qual é o melhor sistema? O melhor é o craque. Os dois times têm ótimos jogadores e se equivalem. A Holanda prioriza mais o toque e a posse de bola, os passes curtos e as tabelas pelo meio, enquanto o Brasil prefere mais os cruzamentos das laterais e as jogadas em velocidade.
O estilo holandês é o do Brasil do passado. O estilo atual brasileiro é uma mistura do nosso antigo futebol (Holanda atual) e o do pragmático futebol europeu. A Holanda joga um futebol mais bonito, e o Brasil é mais competitivo. Serão dois belos jogos.

No limite

Hoje, o Palmeiras volta novamente ao gramado para uma partida decisiva.
O time não está tão cansado como falam, porque revezou seus jogadores durante todo este ano. No entanto, em alguns momentos, por causa da importância dos jogos, foi obrigado a escalar os mesmos jogadores na quarta-feira, na sexta-feira e no domingo, o que prejudicou o rendimento da equipe.
O Palmeiras continua com grandes chances de ganhar os três títulos -do Paulista, da Copa do Brasil e da Libertadores-, porque se preparou corretamente para isso.
Não espero hoje uma partida brilhante, e sim um bom resultado. A derrota, até por um gol de diferença, está nos planos do treinador.
Estou percebendo que o Palmeiras joga o que precisa jogar. Como já disse o Matinas, confundimos essa sua capacidade de atuar no limite de suas necessidades com más atuações.
O Deportivo Cali não tem a tradição do River Plate, mas tem hoje um time melhor.
O futebol colombiano parece com o brasileiro do passado. Eles têm jogadores habilidosos, um belo toque de bola, mas não têm a eficiência e o pragmatismo dos vitoriosos. Estão caminhando para chegar lá. Talvez falte somente um grande título. Mas penso que ainda não está na hora de isso acontecer.

Para iniciantes

Nesta semana, sentei-me na poltrona, diante da TV, para torcer e assistir às partidas dos nossos craques do tênis, e saí novamente frustrado, porque não consegui entender nada.
Além de torcer, queria conhecer as regras, aprender a terminologia, saber dos detalhes técnicos -o que ninguém explica. Os narradores e comentaristas pensam que todos os espectadores são especialistas no assunto.
Na última Olimpíada, um amigo lamentou que tinha tirado férias para assistir e entender um pouco de todos os esportes. Depois de um mês acompanhando as competições pela TV, terminaram os Jogos, e ele continuava sem entender nada.
Percebo, com mais clareza, que nós, comentaristas e narradores, fazemos o mesmo no futebol. O número de pessoas que assistem aos jogos pela TV e que gostariam de saber dos detalhes do futebol é muito maior do que se imagina.
E, em uma Copa do Mundo, elas são a maioria.
E não fazemos nada para ajudá-las. Ao contrário, usamos uma terminologia antiga, cheia de clichês, que não corresponde ao que se vê hoje em campo.
Ainda tenho esperanças de que até a final do torneio de Roland Garros saberei o mínimo necessário sobre a regra e técnica do tênis.
Estou curioso para entender o que é "quebrar o serviço", "set point", "break point", "match point", "lob", "smash", "tie-break" e"vantagem a favor".
Pensava, por exemplo, que toda vantagem fosse a favor.

Hoje, em Porto Alegre, com a volta do capitão Dunga, o Internacional tem uma grande chance de chegar novamente a uma final da Copa do Brasil. O Juventude, porém, tem mostrado, neste torneio, que é um time com condições de vencer qualquer adversário, em qualquer campo.
Quem saiu lucrando na disputa entre Dida e Cruzeiro foi o Milan. O clube italiano adquiriu um excepcional goleiro, pelo preço de um jogador comum (US$ 3 milhões). O Cruzeiro teve um tremendo desfalque. O jogador vai ganhar o salário que recebia no time mineiro, já que concordou em não receber seus direitos na porcentagem do passe.
Fala-se muito, nas partidas, que o jogador não teve a intenção de fazer o pênalti, de tocar com a mão na bola, de cometer faltas etc. Com raras exceções, jogador nenhum tem intenção de cometer infrações. Como um atleta vai desejar cometer um pênalti? A falta deveria ser marcada, independente da intenção.
Na semana passada, assisti a uma das mais deliciosas entrevistas na TV, a da contadora de histórias Regina Machado, entrevistada por Marília Gabriela, no canal GNT. Quando crescer, quero ser também um contador de histórias.
"Fiz tantos gols que não tive tempo para aprender a jogar futebol." (Dadá Maravilha).
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Tostão escreve aos domingos e às quartas-feiras



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